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30 DE JANEIRO DE 1974 403

campos da economia e da civilização, formando uma nova estirpe que será a sociedade futura que ora se preconiza.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Morais Barbosa: - Sr Presidente: Na noite de 6 para 7 do corrente, um numeroso grupo terrorista, convenientemente treinado, armado e municiado por potências que hostilizam Portugal em África, assaltou e destruiu a aldeia de Nhacambo, situada no Nordeste de Moçambique A tiro ou à punhalada, foram então assassinados cinco homens, sete mulheres e cinco crianças, fendas, pelo menos, mais trinta pessoas e incendiadas cento e sessenta casas. A coberto da noite, conseguiram muitos habitantes de Nhacambo refugiar-se no mato circundante e sobreviver assim à fúria dos assassinos, que debandaram pelo mesmo mato fora. Vários jornalistas, portugueses e estrangeiros, deslocaram-se de pronto ao que da aldeia restava, e alguns deles não tiveram pejo de dar conta ao Mundo de mais este massacre cometido em nome da "libertação" de Moçambique Dias depois, numa propriedade perto de Manica, era uma mulher assassinada e um rapaz gravemente fendo com catanas. Mais recentemente ainda, os terroristas atacaram com lança-foguetões e armas automáticas um quartel a cerca de 190 km a noroeste da Beira, mas foi possível repeli-los sem baixas para a nossa guarnição, que lhes causou dois mortos.
Nada disto constitui, infelizmente, novidade para as populações de Moçambique, habituadas há já longos anos, como as de Angola e da Guiné, à presença de um inimigo insidioso e brutal, actuando em geografia que lhe é particularmente favorável e utilizando tácticas de surpresa para fazer face às quais, com definitivo êxito, se tornariam indispensáveis, no plano militar, recursos de excepcional envergadura, tanto em meios humanos como em apetrechamento material.
Muitas vezes se tem dito, mas não será de mais repeti-lo, que a luta em que nos empenhamos não é só, nem sobretudo, militar. Sabe-se, de facto, que numa guerra de guerrilha" as batalhas se ganham ou perdem mais no espírito das pessoas, na adesão e no apoio que cada um dos campos obtiver ou perder da parte das populações do que propriamente no confronto armado. Isso explica que, sem descurar os aspectos bélicos, as autoridades portuguesas se hajam sempre e cada vez mais empenhado na defesa psicológica das populações, ressaltando, pela palavra e pelo exemplo, de qual dos lados se encontra o caminho da razão, do progresso e da dignidade, numa palavra, o caminho da paz. Que as populações, na sua esmagadora maioria, não alimentam já dúvidas a tal respeito facilmente se comprova com a óbvia resistência que opõem ao inimigo e com o número, sempre crescente, de elementos que, havendo com ele colaborado, se vêm apresentando às autoridades e narrando, de maneira bem esclarecedora, as misérias de que foram vítimas e o erro em que labutaram, e não constitui segredo que todos esses elementos se reintegram numa vida normal e útil e que muitos deles são hoje preciosos colaboradores nossos, inclusive no âmbito das forças militares ou paramilitares.
Disso mesmo está já hoje convicto o próprio inimigo, conforme parece demonstrar a evolução das suas tácticas ofensivas, certo de não conseguir obter pela persuasão o apoio das populações - elemento tão importante na actividade subversiva que Mao Tsé-Tung pôde dizer com razão que a população está para a subversão como a água para o peixe-, tem ele vindo a recorrer ultimamente a ataques individuais ou colectivos da população, assim procurando demonstrar uma força que não tem e impor-se pela violência e pelo terror. Como outros anteriores, constitui o massacre de Nhacambo eloquente demonstração de que assim é na realidade.
Por outro lado, torna-se patente na actividade terrorista a preocupação de alargar a área da sua intervenção, já para dispersar as nossas forças e diminuir-lhes assim a capacidade de resposta, já para exibir espectacularmente êxitos que na realidade apenas traduzem o ruir de uma esperança, já ainda para tentar criar um clima de insatisfação e insegurança que leve ao abandono ou ao desespero, cujas consequências poderiam ser imprevisíveis e, pior que isso, dramáticas, por comprometedoras de toda uma política de convívio multirracial.
Perder a serenidade perante o desafio do inimigo representaria inevitavelmente jogar a seu favor Contra isso havemos de estar preparados. Mas não deve esquecer-se que os seus dispersos ataques, crescentes em número e diversificação, causam vítimas humanas e prejuízos materiais e criam um clima de instabilidade moral que, constituindo indiscutível realidade política, não pode ignorar-se nem subestimar-se e, pelo contrário, deve encarar-se com realismo e vencer com decisão.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Por tudo quanto acabo de dizer, o momento que hoje se vive em Moçambique determina, não decerto qualquer redefinição de princípios e objectivos, mas um manifesto revigoramento de métodos na condução da nossa política de defesa da integridade nacional.
Sem dúvida não poderemos abandonar a opção feita de promover económica e socialmente as populações menos favorecidas. Pelo contrário, moral e politicamente, impõe-se-nos o dever de prosseguir e multiplicar os esforços no sentido de levar a escola, a saúde, a assistência, a produtividade, o bem-estar espiritual e material cada vez mais longe e a mais pessoas, a indeclinável obrigação de constituir em Moçambique uma sociedade mais próspera, mais feliz e mais justa, onde todos e cada um disponham cada vez de mais e melhores oportunidades de ocuparem o lugar a que as suas capacidades e aptidões lhes derem direito.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Queremos construir no presente e para o futuro um Moçambique melhor, quer dizer, um Moçambique cada vez mais autêntica e vivamente português, e isso só se conseguirá formando cidadãos conscientes e, portanto, plenamente participantes na vida social comum.

Vozes: - Muito bem!