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20 DE AGOSTO DE 1975 859

O Sr. Júlio Calha (PS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Tendo em conta a actual situação política, não podia deixar de vir a esta Assembleia, e neste hemiciclo, apresentar alguns pontos de reflexão e consideração, não só para aqueles que aqui se sentam, mas também para aqueles que neste momento detêm os destinos do País e, consequentemente, o Poder.
De facto, depois de ter percorrido de lés a lés toda a minha circunscrição eleitoral, isto é, o distrito de Portalegre, e depois de ter verificado não só o descontentamento local por certos elementos se manterem em certos órgãos, não só câmaras como governo civil, e o desencanto, e por vezes revolta, por se ver que aqueles que mais apoio popular têm não são ouvidos, tive também ensejo de verificar que no meu distrito se apoia o MFA, representado a nível local pelo brigadeiro Pezarat Correia, comandante da Região da Zona Sul do País.
O povo sempre esteve com o MFA, mas, na altura em que começou a verificar que algumas das suas figuras proeminentes tudo faziam para orientar o País para caminhos de nítido antagonismo com a sua vontade, desconfiou.
A população local não deu o seu consenso à figura do Primeiro-Ministro. A sua actuação, as suas referências à reforma agrária, numa zona essencialmente agrícola, que até se traduziu muito simplesmente em ocupações anárquicas, contribuíram para aliar a sua figura à maneira aventureirista por que se tem guiado também o Partido Comunista Português. É fácil fazer revoluções em discursos mais ou menos emocionantes, temperamentais e galvanizantes.
Mas às revoluções não basta isso. É necessário que elas tenham a energia do povo, tenham a sua participação, tenham o seu entusiasmo, em suma, sejam feitas pelo povo.
Daqui a incompreensão popular em relação a um quotidiano em que se sente a carestia da vida, a intranquilidade do dia a dia, o sobressalto sistemático, o receio de que o amanhã virá ainda a ser pior. Não tem, pois, o consenso popular o Primeiro Ministro, pela simples razão de que não só não resolveu, como agravou os problemas do povo português. É por tudo isto que nesta altura a apresentação do «Documento dos Nove» constitui para o povo português a prova iniludível de que a chama do 25 de Abril não se desvaneceu nas atitudes que levam às ditaduras, mas sim está viva e pretende vingar.
O brigadeiro Pezarat é o «Documento dos Nove» no meu distrito, e o portalegrense há dias reunido nesta cidade apoiou aquele oficial sem margens para dúvidas e, consequentemente, o «Documento dos Nove».
É que se torna incompreensível o que se passa neste país. Tão depressa se é revolucionário, como tão depressa se cai em desgraça, parecendo até que se fazem atentados à Revolução.
O povo não compreende por que é que a Assembleia do MFA decidiu criar um triunvirato. O povo não compreende por que é que o Conselho da Revolução perdeu as suas funções, quando ainda há tão pouco tempo foi criado para fazer face à chamada dinâmica da Revolução. O povo não compreende, nem compreendeu por que é que o Sr. General Costa Gomes pôs três pontos à consideração de uma Assembleia do MFA, a qual acabou por fazer orelhas moucas e avançar para onde bem quis e lhe apeteceu. O povo não compreende, afinal, por que é que se lhe diz uma coisa e se faz outra, porque é que há uma 5.ª Divisão do MFA, que o obriga a ouvir a BBC, por que é que se faz um Governo constituído por pessoas quase desconhecidas, pseudo-apartidárias, que não lhe dão confiança. O povo não compreende por que é que um plano de acção política emitido pelo Conselho da Revolução e coincidente nalguns pontos com as palavras do Sr. Presidente da República dirigidas, como já referi, à Assembleia do MFA, rapidamente caiu no esquecimento. O povo, que não viu correspondência em relação à sua opinião expressa no 25 de Abril, começa a compreender que, afinal, muito se fala nele, muito se pretende fazer por ele, muito se quer estar com ele, mas que a realidade é que se quer mandar nele, como se fez anteriormente.

Aplausos.

O povo começa a compreender que muitos se lhe querem substituir e utilizar a sua boa fé e boa vontade para governar a seu bel-prazer. Mas ainda há dias na minha cidade eu tive a prova e a demonstração de que o povo não suportará mais ditaduras. O seu apoio ao «Documento dos Nove» constitui a sua esperança em ver respeitada a democracia e a liberdade em Portugal.
Mas, repito, a energia e a maneira como a multidão se comportou mostraram-me que não está disposta a deixar-se pisar e que lutará para defender a sua liberdade, conquistar a democracia e abrir caminho para o socialismo, no respeito entre as pessoas, no respeito entre os homens.
Sr. Presidente, Srs. Deputados:
Daqui faço um apelo ao Sr. Presidente da República em nome do meu distrito:

Respeite-se o povo!
Tenho dito.

Aplausos.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Moura Guedes.

O Sr. Moura Guedes (PPD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Como é do conhecimento geral, a central sindical, dita unitária, apelou para uma greve geral de meia hora, a que chamou «simbólica», a realizar hoje, das 11 às 11 horas e 30 minutos.
A notícia, que, como seria de esperar, logo mereceu gritantes títulos de caixa alta na primeira página dos jornais diários, veio acompanhada por uma curiosa nota da referida organização, que valeria a pena reproduzir-se aqui se o facto não alongasse demasiado esta intervenção.
Já todos dispomos, neste momento, de suficientes elementos de avaliação, que nos chegam de todos os lados, para podermos afirmar, sem receio de qualquer desmentido, que essa tentativa de paralisação do trabalho redundou num completo fracasso, por falta quase total do indispensável apoio das massas trabalhadoras, que, ostensivamente, na maior parte dos casos, se negaram a colaborar nessa mise en scène mal montada por uma organização que não aceitaram como sua representante, nem como seu porta-voz, minimamente qualificado.