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18 DE JANEIRO DE 1989 1017

Acaba de ser empossada, na Assembleia da República, a Comissão da Amizade e Cooperação Brasil-Portugal. Ela pode trabalhar neste projecto. Assim, deposito aquela tarefa nas mãos dos seus membros e também no espírito e no coração de todos os Srs. Deputados.
Ao exprimir os votos desta Câmara, a que muito empenhadamente me associo, para que a visita de V. Ex.ª ao nosso país decorra dentro de um espírito e de um ambiente pleno de calor fraternal, quero, mais uma vez, reiterar os calorosos sentimentos do nosso grande apreço pela nação brasileira, com a segura esperança de que ela vai percorrer os caminhos do progresso, do desenvolvimento e da paz, em democracia.
Para V. Ex.ª, Sr. Presidente Ulysses Guimarães, vai o nosso abraço afectuoso, de admiração e de respeito pelas suas qualidades como homem de Estado e como cidadão, e a expressão do desejo que nos planos político e pessoal, a vida lhe sorria, enchendo-o das maiores aventuras.
Seja bem vindo!
Está em sua casa!

Aplausos gerais.

Tem V. Ex.ª a palavra, Sr. Presidente da Câmara dos Deputados do Brasil.

O Sr. Presidente da Câmara dos Deputados do Brasil (Ulysses Guimarães): - Sr. Presidente da Assembleia da República Vítor Crespo, é com prazer que me dirijo às minhas colegas, mulheres que representam a nação portuguesa nesta Casa.
Na Câmara a que presido temos actualmente e pela primeira vez uma presença de mulheres que não tem proporção com a densidade eleitoral demográfica do meu país. Elas são 26! Trago aqui o testemunho dessa colaboração nova, forte e voluntariosa, que vêm dedicando aos trabalhos, inclusive aos da constituinte do meu país.

Aplausos gerais.

Levarei estes aplausos para estímulo das minhas colegas, deputadas do meu país.
Meus companheiros, representantes do povo de Portugal, Sr. Presidente: Seria inevitável que um brasileiro versasse mais uma vez, sem receio de se estar a repetir, o tema antigo, mas que não está gasto, da gratidão. A gratidão não se gasta com o tempo! A gratidão dura com o tempo! A gratidão é contemporânea do tempo!
O Brasil e os seus filhos nunca terão palavras bastantes para significar a gratidão à mãe-pátria portuguesa. Gratidão é claro, a começar pelo seu berço, pela maternidade, pelo seu início, pelo descobrimento. As naus de Cabral, ao aportarem a Porto Seguro as suas quilhas, escreveram a «certidão de nascimento» do Brasil para o mundo.
Posteriormente a isso, herdámos e temos reconhecimento pela Lusitânia vocação oceânica, que, transporta ao nosso país nas nossas veias, no nosso sangue, na nossa alma, na nossa consciência, foi a vocação potâmica.
Portugal embarcou nas suas naus, sendo esta nação de um pequeno «ventre» que, espantosamente, gerou nações e mundos entre os quais o Brasil. No início da
sua história, o nosso povo, a exemplo do povo português, também passou a viver em toscas canoas, na vocação potâmica, a fim de fazer com que o estrangulamento do Tratado de Tordesilhas, pela façanha dos portugueses, pela façanha dos filhos de portugueses com índios - os mamelucos -, pela epopeia dos já filhos do Brasil - os bandeirantes - construíssem a quarta geografia territorial deste mundo.
A gratidão pela língua, o que não aconteceu com outros povos. Língua apelidada, por um dos nossos grandes bardos, Olavo Bilaque, como última prole de Horácio inculta e bela.
Língua forte, de personalidade, expressão de soberania que não admitiu concorrência, que não permitiu que fossem ocupados os seus espaços, que ajudou a expulsar as línguas francesa, holandesa, inglesa e até a concorrência da língua autóctone dos indígenas para que no Brasil não ocorresse - não estou a fazer um juízo de valor mas a constatar uma realidade - o que acontece com o Paraguai, que é a bilingue, e a América espanhola, como a Colômbia, a Bolívia, que têm praticamente duas línguas: a dos Quíchuas e a espanhola.
A religião: repetindo o canto de Camões, «o Império e a Fé dilatando-a»!
Mas desejo dizer que, pelo menos em termos de apreciação pessoal, herdámos desta pátria, que tenho o privilégio, a honra, a emoção e o orgulho de pisar no presente momento, o jeito. O jeito é uma das faces, uma das emanações da força. Se a força vence, às vezes pelo sangue e pela prepotência, se vencer as dificuldades significa força, o jeito também o faz! E isto, estou certo, foi uma das características da gente lusitana que tivemos no nosso país, de tal forma que, por exemplo, na independência, enquanto na parte espanhola - com glória, não há dúvida alguma! - a espada em riste de Bolívar, de Saint-Martin, de Sucre, de tantos outros, com exércitos e com sangue, conseguiu a independência, no Brasil foi com, o jeito. De facto, foi sem a forma cruenta de um cavalo parado, de uma espada bélica desembainhada e sem um grito de independência ou morte de Pedro IV de Portugal, Pedro I do Brasil, que se estabeleceu a emancipação do meu país.

Aplausos gerais.

Foi ainda gesto histórico de sabedoria ao qual somos reverentes a Portugal porque se assim não fora os movimentos de emancipação iriam surgir em toda a extensão do nosso país, e hoje, então, na costa Atlântica sucederia o que sucede na do Pacífico, onde existem 23 países; teríamos, sem dúvida alguma, muitas nações, que hoje se integram no mesmo território do Brasil.
O jeito português do nosso sangue de enfrentar os acontecimentos também na emancipação da escravatura feita com o Imperador D. Pedro II e pela sua filha, assinando uma lei, a lei áurea, de tal sorte que, quando as flores caíam para saudar a efeméride, o embaixador norte-americano empunhou uma delas para dizer: «- Aqui faz-se com flores aquilo que no meu país, nos Estados Unidos, custou tanto sangue, tantos perigos e até entrou para a História como a Guerra da Sucessão!» E assim aconteceu também na República, da qual disse, de uma forma um tanto pitoresca, um