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2026 I SÉRIE-NÚMERO 58

os países do Velho Continente, que se prolongarão também ao resto do mundo.
Só conseguiremos estar à altura dos desafios que nos esperam se soubermos ter a sabedoria para encontrar as soluções que se impõem que terão de resultar de um esforço colectivo, de um esforço e vontade de entendimentos múltiplos, recíprocos e alargados, da Comunidade e do Leste Europeu.
Retomando Gõethe, «a primeira virtude da história é o entusiasmo que ela inspira». Virtude que se disfruta no espicaçar das inteligências e num novo encanto no exercício da criatividade política.
Crente nas conquistas destes últimos decénios nos sectores económico, intelectual, científico e cultural, seja--me permitido confessar que, em face dos acontecimentos recentes, me sinto hoje ainda mais esperançado do que por ocasião da audiência que V. Ex.ª me concedeu, em Dezembro passado.
Embora nessa altura já contasse a meu favor a visão do derrube do Muro de Berlim e dos efeitos que logo se produziram. E ainda o facto de ter vivido a experiência portuguesa da passagem de uma ditadura a um Estado democrático e de estar ciente das dificuldades que foi preciso vencer para organizar uma moderna economia de mercado, fonte do desenvolvimento em solidariedade. Foi um processo em que alcançámos um assinalável êxito, embora nem tudo tenha sido conseguido. Mas desfrutamos hoje de uma situação que permite olhar para 1992 com aceitável optimismo.
O nosso debate político em torno da criação dos instrumentos apropriados, inclusive o quadro constitucional, foi intenso. Exigiu esforço e clarividência. Aconteceu o mesmo na abordagem de muitos problemas concretos que tivemos de satisfazer, com vista a uma resolução consentânea com os interesses em jogo.
É por isso que, no momento actual, a experiência portuguesa poderá ser uma excelente fonte de reflexão, embora não ignoremos que os problemas políticos nos países do Leste da Europa são bem mais vastos.
Têm de proceder a reformas de muito maior profundidade, considerando o ponto de partida da sua organização política, e por possuírem um sistema económico todo ele concebido em moldes muito diferentes dos que nos são familiares.
Reformas imprescindíveis para dar corpo às intenções declaradas a satisfazer a vontade dos seus povos.
Reformas que estimulam a inteligência e a capacidade dos políticos e da sociedade civil de todos os europeus. E que terão o sabor de proporcionar «a mais nobre felicidade do homem [que] é a de ter explorado o concebível».
A ânsia e busca de democracia, que se manifesta dia a dia, determina que os parlamentos tenham de ser o resultado autêntico da vontade do povo e o lugar onde se exprimam as convicções multifacetadas e livremente constituídas.
Que dêem origem a governos legitimados.
E que sejam a emanação do sentir e pulsar dos cidadãos, reflexo do pluralismo.
Parlamentos onde o labor e discussão democráticos conduzam ao progresso económico e social, à preservação do ambiente, indispensáveis ao bem-estar dos cidadãos, em solidariedade e respeito pelos direitos de cada um.
E em que o trabalho dos deputados, escolhidos em autênticas alternativas e livre competitividade dos projectos de sociedade que protagonizam, leve à construção de Estados de direito, democráticos e de rosto humano.
Sei quanto isto é caro a V. Ex.ª, Sr. Presidente von Weizsacker, em quem as altas qualidades de homem de Estado e de eminente político não fazem esquecer o deputado ilustre e o cidadão apaixonado pela vivência parlamentar.
Alargar a toda a Europa a plenitude dos direitos dó homem e da democracia exige da parte dos países da Comunidade uma ajuda e cooperação com os países do Leste.
Mas exige mais. Requer o repensar da própria Europa das comunidades e o reforço da sua coesão e solidariedade.
Determina que se acelere a concretização do Acto Único Europeu, no caminho da união monetária, da cooperação política, científica e cultural e da coesão social.
Abre uma nova perspectiva no plano da defesa, dando significado à adesão recente de Portugal e de Espanha à união da Europa Ocidental.
Estamos na véspera de um mundo que, amanhã, será substancialmente diferente.
A próxima década terá de se caracterizar pela construção da esperança de que cessem para sempre todas as escravidões, inclusive as provenientes de fundamentalismos retrógrados.
No quadro das alianças da NATO e das outras organizações a que pertencemos, Portugal e a República Federal da Alemanha darão uma boa contribuição pelo exemplo dos nossos bem firmados e tradicionais laços de amizade e pelo desenvolvimento ainda mais estreito da colaboração luso-alemã.
Uma Europa globalmente democrática retoma uma acrescida responsabilidade e influência no resto do mundo.
Para tanto, há que aperfeiçoar as suas relações com os países cultural e historicamente com ela intimamente relacionados. Refiro-me, em particular, à África e à América Latina.
Aqui os Portugueses tom um papel essencial a desempenhar, tendo em conta os legados culturais e as experiências nas relações com o Brasil e com os países africanos de expressão portuguesa. E também na Ásia, em particular em Macau e Timor.
Tradução da nossa presença cultural espalhada pelo mundo.
A actividade e o pensamento políticos têm de evoluir para a modernidade, em tomo dos valores essenciais e das regras de ouro da convivência entre os homens, de que destaco:
Os ideais europeus de paz, de liberdade, de justiça e de solidariedade;
O pluralismo político;
A observância dos direitos e igualdade de oportunidades dos homens e mulheres;
A preservação da iniciativa individual;
A configuração de um mundo de solidariedade.

A Europa comunitária foi, no passado, como teria de ser, uma comunidade essencialmente económica, preocupada com a criação de um mercado alargado. Recentemente deu novos avanços. Mas é necessário que, gradualmente, se transforme numa Europa com um pendor político mais acentuado, politicamente mais unida, conservando, no entanto, a multiplicidade das culturas e riqueza das formas de vida dos seus Estados membros.