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3270 I SÉRIE - NÚMERO 100

nossa vez nos tentou faz perder no Século XVI. Dir-se-ia que Portugal nasceu como contraponto a uma marroquina tal como Marrocos se formou em contraponto a uma empresa lusitana.
Por isso o crescente desenvolvimento das nossas relações públicas, culturais e económicas além de ser conforme ao bom entendimento dos interesses vivos de ambos os povos corresponde a um destino e vocação que a História teceu e com que indissoluvelmente nos.......
A revista de Sua Magestade ocorre num momento particularmente feliz para árabes e judeus e em geral para todos povos do mundo.
Com efeito pouco mais de uma semana passada foi em 13 de Setembro - sobre a data da assinatura em Washington do acordo pelo qual por um lado Israel garante ao povo palestino o direito de organizar e reger autonomamente na Faixa de Gaza na Cisjordânia e por outro a Organização de Libertação da Palestina, finalmente aceite como legitima representante deste povo, reconhece a existência e a legitimidade do Estado de Israel. São estes bons sinais ou augúrios para a normalização das relações entre árabes e judeus e para o encerrar de um conflito que tantas vidas, angústias e sofrimentos custou a uns e a outros por décadas e décadas e no qual hibernou sempre uma ameaça à paz e à estabilidade de todo o mundo.
Na procura de uma solução pacifica e justa para que este conflito grave e sangrento, Sua Majestade o Rei Hassan II foi incansável e assumiu atitudes
Dignas do maior apreço.
Lembro a tal propósito por exemplo a sua iniciativa de convocar em 1982, a Cimeira Árabe de Fez donde saiu um plano generoso para aproximar as duas partes e fazer justiça ao povo palestino garantindo a paz nos territórios ocupados. Por isso não terá surpreendido a notícia veiculada pelos meios de comunicação social, segundo a qual no regresso de Washington o Chefe do Governo e o Ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel fizeram escala em Rabat para se encontrarem com Sua Majestade o Rei Hassan II, tendo-lhe dirigido convite para visitar Israel. Nem tão pouco surpreenderá a mensagem de regozijo e encorajamento que sua Majestade nessa ocasião enviou ao povo de Israel lembrando que os árabes e os judeus «sempre se guiaram pelo livro revelado de Tora» e manifestando a esperança de que as relações entre uns e outros se encaminhem no futuro, para o melhor.
Neste momento alto e promissor para o Próximo Oriente para o Mundo Árabe e para a Europa é tempo de honrar em especial todos quantos não desesperaram no meio da complexidade da situação e souberam com paciência e invenção, fazer uma obra de paz entre os «filhos de Abraão» tão longamente desavindos. Por isso saúdo pessoalmente Sua Majestade o Rei Hassan II por esse acontecimento excepcional e histórico que foi a assinatura no corrente mês de Setembro do Acordo entre Israel e a OLP.
Talvez a construção da paz à escala do Mundo seja superior às forças humanas a violência sopra sempre donde quer extinta uma labareda logo outra se reacende como se a paz universal e perpetua contrariando o profeta Isaías, fosse um sonho impossível. Mas nem os cidadãos, nem os governantes, nem as organizações internacionais podem dar-se por vencidos na luta pela paz e pela concórdia dos povos. Que seria da civilização e do progresso espírito se nos rendêssemos à violência à guerra e à violação dos direitos do Homem em qualquer das partes do mundo?
Em todo o caso as quebras da paz tornam-se nos mais intoleráveis quando afectam os povos irmãos ou ocorrem em regiões a que nos achamos mais ligados pela História e pela cultura. Não se estranhará, por isso que nós portugueses sintamos com particular angustia a guerra fratricida que se abateu sobre o povo de Angola. Que nos emocionemos com a situação de violência imposta pela Indonésia ao povo de Timor-Leste e que nos preocupemos de modo especial com os sobressaltos que teimam ainda em toldar o horizonte da África Austral. Assim os povos e os Estados amigos hão-de compreender que lhes solicitemos insistentemente tudo quanto puderem fazer para que essas situações dolorosas rapidamente se resolvam em paz com justiça com respeito pela dignidade humana e pelo direito.
É tempo de terminar. Renovo os votos de feliz estadia a Sua Majestade o Rei Hassan II e agradeço mais uma vez, do fundo do coração, a visita com que hoje distingiu e honrou a Assembleia da República.

Aplausos gerais

Vai usar da palavra o Rei Hassan II.

Sua Majestade o Rei de Marrocos(Hassan II): - Louvado seja Deus, o Seu Profeta e os Seus Companheiros!
Sr. Presidente, Sr.ªs e Srs. Deputados representantes do Estado português amigo e irmão.
Estamos aqui reunidos e sentimos que existe um laço extremamente forte que nos une para além de uma grande e profunda alegria por estarmos neste momento perante os representantes do nobre povo português. Aliás esta profunda alegria explica-se pelo facto de a nossa amizade Ter acontecido há muito tempo atrás graças à História , que os juntou num destino comum. Estamos portanto ligados por sentimentos de fraternidade pela nossa civilização, pelo amor e pela paz.
E se digo que estamos ligados por um destino e uma civilização comuns é porque, quer em Marrocos, existem monumentos marcas e balizas que ao perdurarem através dos tempos até hoje são testemunho desta civilização caracterizada por uma arte arquitectónica autentica. De facto, estes monumentos são testemunho de uma História multissecular que aponta para a fraternidade. Afirmo-o com uma fé profunda, porque os portugueses foram os únicos que nunca em qualquer continente fizeram discriminação racial.
E insisto em dizer que foram os únicos que nunca a fizeram.
Ora, esta é uma prova de que estamos ligados por profundos laços de amizade e fraternidade pois todos nós sempre lutamos pela dignidade do ser humano.
Estamos também ligados pelo destino comum da paz e pela paz. Portugal tem uma posição geográfica e uma situação no contexto internacional que sempre lhe permitiu designadamente durante a II Guerra Mundial manter a sua soberania por completo de tal forma que não tomou qualquer partido relativamente às partes em confronto, considerando que a política mais justa e mais sábia era a da cooperação entre os seres humanos, com base na coexistência pacífica.
Sr. Presidente, Sr.ªs e Srs. Deputados: A partir da criação das Nações Unidas não faz qualquer sentido em estados pequenos e grandes pois essa diferença deixou de existir.
Todos os estados têm direito a voto, portanto todos têm de arcar com as responsabilidades ao nível da definição do porvir, ou seja, do futuro da humanidade. Por isso, os nossos países, Marrocos e Portugal, apesar do que sofreram no século passado, podem trabalhar juntos com toda a seriedade em prol da sua causa, podendo ambos desempenhar um papel importante. Ora, isto constitui uma novidade na identificação do futuro da humanidade e uma garantia do
bem-estar desta Região.