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23 DE SETEMBRO DE 1993 3271

Portugal é, antes de mais, um país atlântico e mediterrânico, o que o levou a olhar para Oriente e para Ocidente, proporcionando, assim, um encontro de civilizações e de culturas, ou seja, uma miscigenação que deu origem a que nunca aceitasse inclinar-se perante o facto consumado ou sujeitar-se à tirania e à violência.
De igual modo, Deus colocou Marrocos numa situação geográfica semelhante à de Portugal, com uma mão para Ocidente e outra para Oriente, situado no Mediterrâneo, que inspirou a sua civilização, olhando ao mesmo tempo para o Oceano Atlântico, e enderançando, assim, as suas ambições e aspirações para um futuro novo.
Sr. Presidente, como V. Ex.ª já referiu, as nossas relações bilaterais não reflectem, na íntegra, tudo o que une os nossos povos, ligados por relações de longa data. Embora sejam relações de grande amizade, entendo que, a nível bilateral, há ainda muito a fazer. É, pois, necessário trabalharmos com muito entusiasmo e determinação para recuperarmos o tempo que perdemos e para que possamos fomentar a cooperação em todos os domínios que, em primeiro lugar, interessam aos nossos países e, em segundo lugar, à nossa Região.
Sr. Presidente, V. Ex.ª afirmou que a guerra é como um diabo, um demónio: apaga-se a labareda num local e ela aparece noutro. No entanto, neste mundo existem povos que não têm qualquer preocupação ou objectivo a não ser o de fomentar a paz, trabalhando nesse sentido com grande afinco. V. Ex.ª disse ainda que temos todo um futuro à nossa frente e apontou o exemplo do Médio Oriente. Estou completamente de acordo, até porque existem já sinais encorajadores que incitam ao optimismo e, pessoalmente, sou uma pessoa optimista por natureza. Entendo que todos os que se dedicam à política são como os que se dedicam a uma arte ou a um ofício e têm de ser, por natureza, optimistas, porque se não forem só lhes resta «fecharem a barraca» - passe a expressão-, deixando a chave em mãos alheias.
No entanto, apesar do nosso optimismo, não podemos deixar de ter em atenção o processo que está a decorrer em Washington. Trata-se de um processo que, em meu entender, está a dar os primeiros passos como se fosse um bebé que ainda precisa de muita ajuda e de quem o possa guiar. Esta situação verifica-se não só por parte dos árabes ou dos judeus, mas também de todos os países e de todas as comunidades e organizações regionais económicas. Cabe-nos, assim, facilitar o convívio e a coexistência entre os «filhos de Abraão», pelo que não podemos garantir esta convivência se não nos dermos as mãos, sem que exista qualquer diferença entre o Norte e o Sul, entre o Oriente e o Ocidente. Devemos reconhecer este tributo de sangue e criar as bases para a futura prosperidade e cooperação, pois só assim os árabes e os judeus poderão esquecer as tragédias que viveram, abrindo os braços a um futuro brilhante.
E em todo este contexto qual foi o nosso papel? Assumimos desde sempre um papel natural, até porque consideramos que a guerra não é solução para resolver os problemas. Bem pelo contrário, a verdadeira guerra, no bom sentido da palavra, ou seja, a verdadeira luta é a que proclamamos abertamente contra a ignorância, a fome, o atraso, o subdesenvolvimento e à pobreza, que, em meu entender, têm de ser combatidos. E porquê? Porque se acreditamos nos valores do regime democrático representativo, este combate é o único instrumento que permite aos países alcançarem os seus objectivos e as suas aspirações, pelo que temos de dar ao boletim de voto o devido valor. Cada um de nós, que tem este boletim de voto nas mãos, deve dar-lhe o apreço que merece. Qual a utilidade da votação se votarmos a favor da ignorância e da pobreza?
A democracia que, em relação à educação e à formação, aspira conseguir alcançar condições que permitam, designadamente, uma melhor preparação das classes pobres, reduzindo as diferenças entre os vários estratos sociais, vai perdurar. Mesmo nos países desenvolvidos da Europa verificamos que os problemas económicos e sociais estão a agravar-se. O desemprego e a falta de oportunidades de trabalho enegrecem o horizonte do futuro, tornando-o cada vez mais sombrio. Ora, as diferenças entre as várias camadas sociais não trazem nada de bom e, por isso, não podemos esquecer este perigo e devemos ter em atenção que estamos a navegar todos juntos, no mesmo barco, pelo que temos de estender as mãos uns aos outros, de continente a continente, de mar a mar, tal como já fizemos no passado.
Expresso o voto de que vivamos em paz para que os nossos filhos tenham um futuro melhor!
Espero que vós, representantes do povo português, tenham apreendido o sentido destas minhas muito breves palavras pois é algo que vos diz respeito e toca de perto, uma vez que sois vós que deveis ajudar o vosso povo, levando por diante a defesa da causa do vosso país.
Deus proteja este país honrado e este povo irmão e lhe dê felicidade!
Profiro estas palavras não por estar aqui entre vós, mas porque penso que tendes um país que é respeitado e amado. Portugal tem um papel importante a desempenhar neste canto do mundo. Talvez tenha revelado uma humildade maior do que a que devia, mas Deus é grande!
Deus proteja o vosso país, o vosso povo, e ajude cada um de vós a realizar a missão que lhe está destinada!
Muito obrigado por toda a consideração com que me rodearam. Sei que o Parlamento português está ainda em período de férias parlamentares e se VV. Ex.ªs estão aqui presentes, neste momento, prova a amizade que nutrem pelo meu país e pelo meu povo.
Viva Portugal!
Viva o povo português!
A paz esteja convosco, assim como a bondade e a Graça de Deus!
Bem hajam!

Aplausos gerais, de pé.

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, está encerrada a sessão.

Eram 18 horas e 15 minutos.

A DIVISÃO DE REDACÇÃO E APOIO AUDIOVISUAL DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA.