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I SÉRIE - NÚMERO 37

injustiça nacional cometida contra o cidadão e o político Branco Malveiro.
Quem poderá ressarcir aquele homem por estes 10 meses de sofrimento interior, de insuportável pressão social e de dano político e pessoal na sua imagem, perante os seus concidadãos, num pequeno meio como é Beja?
Quem poderá apagar, das suas filhas, o abandono temporário da escola? Ou, da sua mulher, a ausência temporária do trabalho, por se terem tornado insuportáveis os comentários, a chicana, o achincalhamento e o escárnio de que foi vítima o seu referencial íntimo, o seu chefe familiar, em todo o universo que fala português?
Branco Malveiro fez a notícia de abertura em todos os noticiários de todos os canais de televisão, devidamente enquadrado com o emblema e a cor do PSD em fundo.
Branco Malveiro mereceu desonras de primeira, segunda, terceira e quarta páginas, num diário com a credibilidade do Público, com uma relevância concedida a poucos políticos em Portugal.
Branco Malveiro foi julgado sumariamente no tribunal da opinião pública quando ainda não tinha esboçado, sequer, um gesto de defesa. Chegou a ser condenado a seis anos de cadeia, num programa televisivo que teatraliza simulacros de julgamentos.
Branco Malveiro fez a manchete em diários, semanários e folhas de aldeia. Chamaram-lhe de tudo: «0 imperador Malveiro», «No centro do maior escândalo relacionado com o negócio da morte»; «Malveiro já tem inquérito»; «A vez de Malveiro»; «Ex-Deputado do PSD escorrega na Assembleia da República»; «Ex-Deputado do PSD escorrega na morgue, onde não há fumo sem fogo»; «Polvo com laranja e Malveiro é o seu padrinho»; «Malveiro acusado de receber suborno»; «Malveiro na mira das acusações»; «0 cerco aperta-se em torno de Branco Malveiro»; «Judiciária investiga acusação de corrupção envolvendo Deputado do PSD»; «Malveiro e as luvas dos mortos».
0 Semanário chegou a titular: «Dinheiro da morgue de Beja terá ido para a distrital do PSD». Não faltou quem titulasse acusador que «Malveiro: mais cavaquista que Cavaco», como se isso fosse algum crime tipificável.
No Fim de tudo, meus senhores, para quê toda esta violência mediática? Em nome da caça ao político, que está hoje tão em voga? Em nome de estratégias de combate ao poder laranja, de denegrimento da classe política ou da instituição parlamentar?
Houve, em todo este processo, uma manifesta desproporção de meios, a que se seguiu o silêncio habitual. Consumido o impacto da notícia, triturado mais um lead, mais uma cacha jornalística, facturado mais um escândalo, excitada a prece acusatória e colectiva que varreu todo o povo português, as câmaras e as canetas viraram-se noutras direcções, deixando para trás uma insídia inapagável.
Quem se importa mais com um destroço que ficou pelo caminho? Quem se importa que mais tarde nada do que se afirmou, do que se suspeitou e se insinuou se tenha provado contra este homem? Quem se importa que a notícia do seu ilibar pessoal passe despercebida num canto de página dos mesmos jornais onde pisou a passadeira do frontispício?
Pois, eu importo-me, caros colegas! Ninguém merece a condenação à suspeita perpétua. E daqui peço justiça para este homem vilipendiado. Peço aos homens sérios que dirigem os órgãos de comunicação social que voltem a incidir os seus holofotes em Branco Malveiro, para dizerem alto e bom som: investigou-se muito, descobriu-se alguma coisa, mas contra este homem nada há a apontar!
Será um acto de grandeza de alma, de humildade democrática e de justiça elementar.

Mort Rosenblum escreveu num livro recente: «A televisão faz-nos observar a irrupção do vulcão, mas não mostra a lava que ferve lá dentro.»
Essa lava interior tem muito a ver com este mundo em transição, onde a competição exacerbada empurra os empresários para a trafulha e o tráfico de influências. Esta colisão entre o poder e o dinheiro, entre os negócios e a política, não é nova nem partidária. Paira transversalmente.
Mas, se é inegável o descaminho de alguns políticos em relação ao referencial ético, social e moral do projecto democrático, não é saudável alimentar sentimentos extremos do antipolítico, expediente antigo de alguns que, pretendendo colocar em causa a credibilidade das instituições democráticas, mais não pretendem que colocar em causa a própria democracia.
Redefinido pelas prioridades do marketing, o universo mediático do nosso tempo dispõe de um imenso poder de influenciar o império da opinião pública, da qual tendem a depender cada vez mais as opções fundamentais da vida política actual.
É por isso que, hoje, não estou aqui apenas para defender um amigo, um colega ou um companheiro, ou para denunciar a tentativa de assassinato político de um homem chamado Branco Malveiro. Estou aqui pelo carácter exemplar que este caso encerra.

Aplausos do PSD

0 Sr. Joel Hasse Ferreira (PS): - Sr. Presidente, peço a palavra para interpelar a Mesa.

0 Sr. Presidente (José Manuel Maia): - Tem a palavra, Sr. Deputado.

0 Sr. Joel Hasse Ferreira (PS). - Sr. Presidente, gostaria de perguntar à Mesa se crê que o Plenário não está consciente de que, ao julgamento sumário que a Comissão não quis fazer, não se pode contrapor uma absolvição sumária, que a Comissão também não fez.

Vozes do PS: - Muito bem!

0 Orador: - Gostaria que a Mesa também me informasse, se puder, de quem fez a tal devassa e usou os tais meios desproporcionados. Foi a comissão parlamentar de inquérito? Foi a polícia? Foram os órgãos de comunicação? Quem foi? Penso que, num assunto desta importância e gravidade, estas questões não podem ficar em aberto. Lembro que as três intervenções anteriores tinham primado pela clareza e pelo equilíbrio.
Sr. Presidente, não sei se ficou igualmente claro para todos que, em relação às questões colocadas pelo Plenário, duas respostas foram positivas: houve, sim, irregularidades; houve, sim, preterição de formalidades. Quanto à terceira, a Comissão, não por desproporção de meios mas pela sua falta, resolveu remetê-la à Procuradoria-Geral da República. 0 que concluo, está concluído; o que não está concluído, em meu entender, não o pode ser.
Também as afirmações relativas quer ao atraso quer à precipitação na administração da justiça - sou muito sensível a estas questões - são igualmente criticáveis.

Vozes do PS: - Muito bem!

0 Sr. Octávio Teixeira (PCP): - Sr Presidente, peço a palavra para interpelar a Mesa.