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4105 | I Série - Número 075 | 16 de Abril de 2004

 

Francisco Lyon de Castro foi uma grande figura de resistência à ditadura e da construção da democracia e da liberdade de expressão de pensamento.
Tem a palavra a Sr.ª Deputada Isilda Pegado.

A Sr.ª Isilda Pegado (PSD): - Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O homem parte, a obra fica.
É neste mote que encontramos a forma de, nesta Assembleia da República, expressar o pesar e, simultaneamente, o orgulho, que a morte não apaga antes reforça, por um homem que marcou o nosso tempo.
Faleceu Francisco Lyon de Castro, no passado dia 11 de Abril.
Nasceu em Lisboa, em 1914, numa família de 10 irmãos, de que era o benjamim.
Em 1945, com apenas 29 anos, lançou aquele que viria a ser, e ainda hoje é, um dos maiores empreendimentos editoriais portugueses: as Publicações Europa-América.
Fundador das Publicações Europa-América, tornou-se à frente daquela empresa/instituição uma referência de cultura, de independência, de empresário dinâmico e sabedor, enfim, uma referência enquanto homem de liberdade.
Francisco Lyon de Castro foi o primeiro presidente eleito da Associação Portuguesa de Editores, constituída após o 25 de Abril de 1974, como também foi o primeiro presidente eleito da Associação Portuguesa das Indústrias Gráficas, o que mostra bem a estima e o mérito que granjeou entre os seus pares.
Apenas com 14 anos, começou a trabalhar como aprendiz de artes gráficas na Imprensa Nacional, onde tomou contacto com os ideais operários anarco-sindicalistas e comunistas.
Durante todo o Estado Novo foi uma voz de oposição ao regime, congregando à sua volta muitos dos que consigo partilhavam ideais de um marxismo-leninismo que em certa intelectualidade encontrou eco e amizade.
Lyon de Castro inscreve-se nessa página da história que o século XX português tem necessariamente escrita por imposição dos factos, a qual poderá seguramente ter por epígrafe "Liberdade essência do Homem".
Quem sobe nunca se detêm, vai de início em início, segundo inícios que nunca acabam.
Na vida de Lyon de Castro encontramos inscrito o grande drama do homem: a liberdade.
Faleceu no estado de viúvo de Eunice, mulher de uma vida. Deixa um filho, Tito Lyon de Castro, dois netos e quatro bisnetos, a quem a Assembleia da República apresenta sentidos pêsames nesta hora de luto e de dor.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Luiz Fagundes Duarte.

O Sr. Luiz Fagundes Duarte (PS): - Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Francisco Lyon de Castro, editor e livreiro - nobre condição a que chegou depois de ter sido jornalista e tipógrafo - e também sindicalista, temporariamente marxista-leninista, lutador permanente pelas liberdades contra o Estado Novo, exilado político no estrangeiro ou preso político nos Açores, falecido, no passado dia 11 de Abril, aos 89 anos de idade, ficará na história da cultura portuguesa como o homem que democratizou o livro e a leitura. Tão-só ou tão muito!!…
De facto, em 1945, aos 31 anos, quando apenas terminava a II Guerra Mundial, Lyon de Castro fundou aquele que seria, até hoje, o maior e mais afortunado empreendimento editorial em Portugal - as Publicações Europa-América - que, seis décadas depois, apresentam um catálogo editorial com 135 colecções, onde se reúnem 5000 títulos de 1900 autores, num total de 51 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo lusófono. Entre estas colecções, ficará na História, pelas suas características materiais, pela sua diversidade de conteúdos e de autores, e também pela sua longevidade, a colecção "Livros de bolso Europa-América", que andará hoje pelo meio milhar de títulos publicados e que, pelo seu baixo preço, deu um contributo inestimável, e ainda não devidamente avaliado, para a promoção e a divulgação da leitura em Portugal.
Entre os autores editados contam-se, desde sempre, escritores clássicos e famosos, mas também, e sobretudo, escritores proibidos ou malditos pelo obscurantismo salazarista e ainda jovens autores que pela mão de Lyon de Castro conheceram pela primeira vez "a luz da publicidade". Eles foram, entre os primeiros, Thomas More ou Maquiavel, Bocaccio ou John Steinbeck, Almeida Garrett ou Virgílio, García Márquez ou António Damásio. Entre os segundos, estão Soeiro Pereira Gomes ou Jorge Amado, Fernando Namora ou Oscar Wilde, Alves Redol ou Nabókóv. Entre os mais novos, convém lembrar escritores como Eduardo Brum, ou Rui Zink, ou Lídia Jorge.
Entre Abril de 1952 e Outubro de 1953, Francisco Lyon de Castro fundou, dirigiu e financiou aquela que foi talvez a primeira revista que em Portugal foi exclusivamente dedicada ao livro e à leitura e