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3836 | I Série - Número 082 | 27 de Janeiro de 2006

 

totalitarismo, na violência institucionalizada.
Evocar o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto é um dever e um direito. Um dever que deriva da responsabilidade de relembrar os cerca de 7,5 milhões de pessoas que perderam a vida em campos de concentração. A intrinsecamente incompreensível, não apenas inaceitável, política do nazismo visou especialmente os judeus, mas não poupou também os ciganos, os negros, os homossexuais, os comunistas, os sindicalistas, os sociais-democratas ou os doentes mentais. O Holocausto é a expressão mais horrível que a história nos dá da atitude de quem nega ao outro o estatuto de ser humano.
Relembrar é nossa obrigação na defesa de que a melhor "vacina" contra ele é a defesa radical da dignidade humana, do direito de todos os seres humanos a existir com dignidade, independentemente da sua origem étnica ou nacional, da sua filiação religiosa ou orientação sexual, do seu credo político ou estatuto social. A humanidade não pode esquecer, a humanidade não pode perdoar.
Temos o direito de continuar a falar do terror do Holocausto. E não podemos esquecer que, à saída dos campos de concentração, um dos receios dos libertados era o de que não acreditassem nas tão terríveis histórias que tinham para contar por tudo aquilo que tinham passado e que tinham visto.
São muitos os sobreviventes que nos relatam o que aconteceu. Dos anónimos aos mais conhecidos, cada um dá o seu testemunho de sofrimento. Lembro aqui, por todos, Primo Levi e o seu relato sobre a dignidade e a liberdade, Jorge Semprún, contando a vida no campo de concentração, Ilse Losa, fugida da Alemanha nazi, retratando-nos o país em que viveu quando se começava a desenhar o que veio a acontecer. E tantos, tantos outros escreveram páginas de sofrimento sobre o horror vivido. São tais os relatos especialmente tristes, de um horror cujo fim não deixa nem a liberdade para festejar.
Como já aqui foi citado, "Para a maioria dos judeus libertados de Bergen-Belsen não havia nenhuma alegria na sua libertação. Tínhamos perdido as nossas famílias, as nossas casas. Não tínhamos nenhum sítio para ir. Ninguém nos esperava. Fomos libertados da morte e do medo da morte, mas não do medo da vida".
Este é o testemunho de uma sobrevivente do Holocausto que espelha bem o horror que representa na memória de muitos a reconquista dos seus direitos, a sua dignidade roubada, o recomeçar do zero.
Uma palavra também para aqueles que permitiram, pela sua acção de coragem e sentido de justiça, que milhares de pessoas fossem salvas dos campos de concentração. Impõe a memória colectiva, e em particular a dos portugueses, que relembremos a dignidade e a coragem de Aristides de Sousa Mendes. Como o próprio afirmou "era realmente meu objectivo salvar toda aquela gente cuja aflição era indescritível…" Tem, também ele, lugar na história do século XX, mas também um lugar simbólico na Floresta do Mártires, em Jerusalém.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Numa altura em que ressurgem as teses revisionistas e de negação da existência do Holocausto e em que até um Estado parece disposto a dar-lhes guarida, é essencial que não se apague da memória colectiva o que aconteceu e os milhões que perderam as suas vidas. À comunidade internacional, a todos nós, assiste a responsabilidade de tudo fazer para não permitir que mais páginas negras se escrevam na história mundial.
Termino com o início do livro de Primo Levi: "Pensem que isto aconteceu:/eu dou-lhes estas palavras./Gravem-nas nos vossos corações,/Estando em casa, andando na rua,/Ao deitar, ao levantar:/Repitam-nas aos vossos filhos…"

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Ministro dos Assuntos Parlamentares.

O Sr. Ministro dos Assuntos Parlamentares (Augusto Santos Silva): - Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Embaixador de Israel, Senhoras e Senhores: Evocamos hoje as vítimas do Holocausto. E convém que tenhamos bem presente quem foram essas vítimas e por que é que o foram. Falamos de 6 milhões de judeus exterminados apenas porque eram judeus; um milhão de dissidentes políticos exterminados apenas porque eram dissidentes políticos: 0,5 milhões de ciganos exterminados apenas porque eram ciganos; 300 000 deficientes exterminados apenas porque eram deficientes; 10 000 homossexuais exterminados apenas porque eram homossexuais. É isto que melhor define o Holocausto como o horror puro.
Mas recordar o Holocausto é também, e deve ser, recordar que não foi o Holocausto que venceu, foi a humanidade. A humanidade venceu o Holocausto. Portanto, da minha parte proporia a esta Câmara que recordasse, que continuasse a recordar, porque eles já foram aqui hoje evocados, pessoas e trajectos que são sinais, símbolos e também provas de que a resistência e a esperança valem a pena.
Recordo Aristides de Sousa Mendes, o cônsul português responsável, por si só, pelo seu próprio gesto, pela salvação de cerca de 10 000 judeus, que teve sempre a consciência de que a sua obediência era a obediência à humanidade e não a um Estado ditatorial e cúmplice. E esse gesto é também a prova de que a humanidade triunfa sobre o Holocausto.
Em segundo lugar, recordo a escritora portuguesa, recentemente falecida, no passado dia 6 de Janeiro, Ilse Losa, alemã de origem, judia de ascendência e condição religiosa, que teve de fugir da Alemanha natal, em 1934. Foi acolhida em Portugal, aqui casou, aqui adquiriu a nacionalidade portuguesa e aqui se tornou

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