17 DE NOVEMBRO DE 2006
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Portugal, com lamentável atraso de cerca de um quarto de século, legislou sobre a procriação 
medicamente assistida. Não constando a procriação medicamente assistida do programa apresentado nas 
últimas eleições legislativas por qualquer partido político, sendo inaceitável para grande parte da população a 
legislação aprovada recentemente na Assembleia da República e não permitindo a actual composição da 
Câmara a pretendida alteração legislativa, a qual envolve princípios e valores fundamentais, parece-me que a 
decisão devia ser dada aos cidadãos por sufrágio directo e individual, como aliás tem acontecido em muitos 
países das democracias ocidentais. O povo português tem maturidade histórica e democrática para discutir e 
decidir directamente estas questões essenciais na dignidade da pessoa humana. 
A Deputada do PS, Matilde Sousa Franco. 
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Votei favoravelmente o projecto que propunha a realização de um referendo nacional sobre as questões de 
procriação medicamente assistida (PMA) por duas razões fundamentais: 
Acredito e defendo que a democracia representativa necessita cada vez mais da participação e intervenção 
dos cidadãos. A petição, subscrita por mais de 78 000 cidadãos, propondo a realização de um referendo sobre 
a PMA, é a afirmação de uma cidadania empenhada na defesa de um património cultural e do bem comum e 
na procura de soluções reflectidas na construção e no fortalecimento de uma ética da nova era científica. 
Acredito que o interesse geral e o desenvolvimento humano sustentado se constroem no âmbito de uma 
cultura humanista e de uma cidadania participativa, portadora de uma ética de responsabilidade, que procura 
compromissos razoáveis entre o presente e o nosso futuro civilizacional. 
A lei sobre PMA, aprovada pelo Parlamento em 25 de Maio de 2006, é uma lei polémica e não consensual 
(atente-se a mensagem do Presidente da República fundamentando a decisão de promulgação do decreto que 
regula a procriação medicamente assistida, publicada no Diário da Assembleia da República de 15 de Julho de 
2006). 
A meu ver, a lei não foi elaborada com a prudência devida, uma vez não se ter atendido, designadamente, 
a questões éticas e da dignidade do ser humano salientadas no Parecer do Conselho de Ética para as 
Ciências da Vida e por outras entidades ouvidas. 
Por outro lado, a complexidade dos temas abordados não deveria servir de argumento para dispensar o 
Parlamento de promover um debate mais alargado e transparente. Isto porque a complexidade subjacente à 
lei constitui antes fundamento para a realização de um debate global, participativo, sério e responsável, e que, 
por sua vez, contribuiria para a devida formação da consciência dos cidadãos no âmbito de matérias tão 
sensíveis no âmbito das ciências da vida. 
As audições realizadas no âmbito da discussão dos projectos de lei não foram transmitidas no Canal 
Parlamento e não poderão ser visualizadas no futuro. Assim, a opacidade que se registou na discussão desta 
lei não favorece quer a democracia representativa quer a democracia participativa. 
O valor e a centralidade da pessoa humana, que marca a nossa cultura democrática, exige que os 
cidadãos sejam informados e esclarecidos, para que possam, em consciência, reflectir e decidir da sua forma 
de actuar e da sua participação e comprometimento na sua relação com os outros e com a natureza. A 
democracia participativa deve poder ser exercida e dar ao cidadão a possibilidade de se realizar e de participar 
na construção da sociedade contemporânea. 
Os problemas jurídicos e éticos que a Lei da Procriação Medicamente Assistida levanta não podem deixar 
de ser questionados. Assim o afirma o próprio Presidente da República na mensagem enviada ao Parlamento. 
Concluo com uma palavra de apreço ao Sr. Presidente da Assembleia da República pelo seu 
posicionamento nesta questão, que permitiu que esta petição de cidadãos fosse discutida na Assembleia da 
República. 
A Deputada do PS, Teresa Venda. 
Srs. Deputados que entraram durante a sessão: 
Partido Socialista (PS): 
António Bento da Silva Galamba 
António José Martins Seguro 
António Ribeiro Gameiro 
Armando França Rodrigues Alves 
Joaquim Ventura Leite 
José Alberto Rebelo dos Reis Lamego 
João Cardona Gomes Cravinho 
Manuel Maria Ferreira Carrilho 
Maria Antónia Moreno Areias de Almeida Santos