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I SÉRIE — NÚMERO 33

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e uma em Viseu. Poderíamos acrescentar ainda uma em Santiago de Compostela e outra em Praga. Mas
do Tejo para baixo, ou seja, em metade do país, o ensino da medicina é tabu. O Algarve fica a 300 Km da
escola de medicina mais próxima.
O problema da cobertura de médicos em Portugal tem muito a ver com a fixação dos licenciados, e esta
tem a ver com a localização das estruturas de formação. Não é por acaso que 70% dos licenciados da Uni-
versidade do Algarve, oriundos de outras partes de Portugal, acabaram por se fixar no Algarve.
Curiosamente, este «efeito Califórnia», que se verifica na atracção de quadros superiores em sectores
como o turismo, o comércio, os serviços e a indústria, estrangeiros e nacionais para se estabelecerem no
Algarve, não se tem verificado no sector da medicina, porque os pólos de atracção estão longe, em Lisboa,
Coimbra, Porto e outras cidades do norte e do centro de Portugal.
A forma como se trata o sector da saúde é um factor de competitividade para uma região turística, que
lhe traz um universo acrescido de pacientes.
A construção do hospital central do Algarve é, a par da Barragem de Odelouca, a obra prioritária desta
Região. Um curso de medicina associado a esta infra-estrutura seria ouro sobre azul, no que significa de
disponibilidade de estruturas físicas e meios humanos e funcionais. Mas será bom que fique claro desde já
que, mesmo que a construção do hospital central do Algarve se atrase, nada impede a utilização dos
actuais hospitais de Faro e do Barlavento Algarvio para aquele efeito.
O numerus clausus no ensino da medicina tem sido um autêntico «Muro de Berlim» para milhares de
estudantes de elevado potencial, que assim se viram excluídos da sua vocação.
Há graves carências de pessoal médico na maior parte do país e, entre 2013 e 2020, prevê-se que um
número significativo de médicos entrará para a reforma.
Importa, por isso, analisar o papel de um novo curso de medicina neste contexto. Onde estamos?
A Universidade do Algarve apresentou a sua proposta ao Governo em 31 de Janeiro de 2006. Esta foi
avaliada pela Comissão Internacional de Avaliação do Grupo de Acompanhamento para a Saúde e foi clas-
sificada no parecer emitido como «a mais inovadora que a Comissão jamais avaliou, bem escrita, bem
documentada, com imaginação e com clareza».
Mais se acrescentava nesse parecer que, apesar de se reconhecer que as sete escolas médicas de Por-
tugal já ultrapassam o rácio recomendado de uma escola médica por 2 milhões de habitantes, a Comissão
estaria na disposição de aprovar «propostas com objectivos não meramente quantitativos, mas que iniciem
uma experiência fortemente inovadora com fortes impactos sistémicos».
Nesse parecer foram formulados alguns reparos, que têm levado a Universidade do Algarve a reformular
a proposta inicial, reforçando o número de académicos em medicina clínica envolvidos no curso e estabele-
cendo protocolos de colaboração com outras instituições do ensino de saúde, como a Faculdade de Ciên-
cias Médicas da Universidade Nova de Lisboa.
Esta proposta reformulada será entregue à Comissão de Avaliação ainda no corrente mês de Janeiro.
O Governo aposta na inovação? Nós também! Pois aqui está um curso inovador…
Desde logo, porque representará uma experiência-piloto em Portugal, dos mais recentes avanços na
metodologia do ensino da medicina, já consolidados e provados nos países nórdicos e anglo-saxónicos.
O facto de ainda não existir no Algarve qualquer outra estrutura do ensino clássico da medicina é uma
vantagem competitiva, por não ter que se lidar com muitos interesses estabelecidos.
A inovação deste curso de quatro anos, destinado a uma entrada anual de 25 alunos, para além de um
plano curricular e métodos de ensino inéditos em Portugal, reside também nas condições de admissão: ter,
no mínimo, um grau de bacharelato numa das ciências relevantes para a medicina; ter uma nota mínima de
15 na disciplina de Química no 12.º ano do ensino secundário; ter um mínimo de seis meses de experiência
de assistência de enfermagem num estabelecimento clínico acreditado; ter um bom desempenho escrito e
falado na língua inglesa.
É um processo de recrutamento que privilegia as qualidades humanas dos candidatos, e o ensino clínico
sustenta-se em tutores com vasta experiência de medicina geral e familiar, sendo essa a grande aposta do
curso de medicina proposto pela Universidade do Algarve. Faz falta um curso destes. Repare-se que, mes-
mo no Algarve, só existem 300 médicos em medicina geral e familiar, mas há 400 médicos especializados
só nos hospitais de Faro e Portimão.
Este é um dos principais problemas do sistema de saúde português: existem muitos mais médicos em
especialidades hospitalares do que em medicina geral e familiar. Está tudo ao contrário. A pirâmide está
invertida.
Aqueles que pensam que podem resolver o vazio de médicos previsto para a vaga de aposentações dos
anos 2013 a 2020 ou que os desequilíbrios da distribuição de médicos se resolvem aumentando o número
de estudantes nas escolas existentes verão que o problema se irá agravar, pois a concentração de jovens
médicos próximos dos locais de formatura tenderá a acentuar-se.
E o problema da escassez de médicos em áreas como o Algarve tenderá a agravar-se. Isto tem um efei-
to perverso, e o Sr. Ministro da Ciência e Tecnologia não pode ignorar esta realidade. Pode não querer
mais faculdades de medicina, mas do que estamos a falar é de um curso que poderá resolver uma grave
carência da região do Algarve.