7 | I Série - Número: 005 | 28 de Setembro de 2007
A permanência do cataclismo, que assumiu proporções deveras assustadoras, com tremores de terra quase constantes em toda a ilha, levou a que se pensasse mesmo em evacuar toda a população do Faial para a ilha do Pico.
Quando a erupção terminou, 13 meses depois, casas e terras, numa área apreciável da ilha, estavam soterradas sob um manto de cinza com vários metros de espessura, e o Faial tinha aumentado a sua área, mar adentro, com três novas montanhas compostas de escórias vulcânicas, formando uma paisagem lunar, para além do farol, apagado e em ruínas.
As medidas concretas do governo ditatorial da época, tendo em vista a reconstrução dos estragos materiais, tardaram em chegar.
Na linha de tradições antigas, a muitas das famílias afectadas pela catástrofe o caminho que se abriu foi a emigração.
Valeu-nos a solidariedade dos Estados Unidos da América, por impulso das numerosas comunidades açoreanas lá há muito estabelecidas, desde a Nova Inglaterra à Califórnia e ao Havai.
Diversas iniciativas legislativas foram apresentadas no Congresso federal, visando abrir uma quota especial de imigração para os sinistrados do vulcão dos Capelinhos. Veio a triunfar o projecto da autoria conjunta dos senadores John Kennedy, de Massachusetts, e John Pastore, de Rhode Island.
Estive a ler ontem o teor dos debates realizados, no Senado e na Câmara dos Representantes, acerca desse projecto, em cópias do Congressional Record da época, que me foram enviadas por um dos membros do Grupo Parlamentar de Amizade Estados Unidos da América-Portugal.
Impressionou-me vivamente o elogio unânime dos legisladores de ambas as câmaras do Congresso federal aos nossos compatriotas emigrados na América. Reconhecem-se-lhes as qualidades de empenho familiar e profissional, o sucesso da sua inserção no país de acolhimento, as virtudes cívicas, o contributo que dão ao progresso e à cultura da sociedade americana. Por outro lado, fica em destaque o valor estratégico dos Açores e o sólido alicerce que os interesses comuns, de Portugal e dos Estados Unidos, aí encontram para uma aliança e uma amizade com passado, presente e futuro.
Este é um aspecto a sublinhar, numa altura em que as relações bilaterais entre os dois países se têm intensificado a vários níveis, incluindo o parlamentar, por iniciativa do Presidente Jaime Gama.
A lei Kennedy-Pastore permitiu que umas boas centenas de famílias açoreanas encontrassem condições para um melhor recomeço de vida na América.
Em Junho passado, acompanhando a visita do Presidente da República ao Estado de Massachusetts, pude conversar no Museu da Baleia, em New Bedford, com um desses emigrantes faialenses dos tempos do vulcão e conhecer os seus filhos e netos, americanos de nascimento, no entanto intelectual e afectivamente ligados à terra dos seus antepassados.
Tão eficaz demonstração de verdadeira amizade, como foi a dita lei, bem merece ser evocada também no seu cinquentenário, que ocorrerá no próximo ano. Com aprovação presidencial, esse será um dos temas a trabalhar pelo Grupo Parlamentar de Amizade Portugal-Estados Unidos da América, em diálogo com os homólogos americanos.
Sr. Presidente, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados: A lição da tragédia resultante do vulcão dos Capelinhos está gravada bem fundo na memória colectiva dos Açores.
A lentidão da resposta pública à reconstrução dos estragos materiais repetiu-se na crise sísmica de 1963, que atingiu as ilhas de São Jorge e do Pico. Então, novamente se formou uma corrente emigratória, dessa vez dirigida a Angola, para onde foram levadas famílias inteiras, com os seus gados e animais domésticos, num navio que mais parecia a arca de Noé. Após a descolonização regressaram brevemente aos Açores, para logo a seguir se juntarem aos respectivos familiares na Califórnia e em Santa Catarina, no Brasil.
Mas já em 1980, o grande terramoto de 1 de Janeiro, que causou mais de 60 mortes e destruiu Angra do Heroísmo e boa parte do casario em diversas povoações das ilhas Terceira, Graciosa e São Jorge, constituiu a «prova de fogo» das instituições autonómicas democráticas implantadas pouco antes, e delas recebeu, com apoio nacional e estrangeiro, as respostas devidas à reconstrução dos estragos ocorridos, vindo a ser um caso de estudo de eficácia e de sucesso.
Pela primeira vez na História, a uma grande catástrofe natural a resposta não foi a emigração mas, sim, arregaçar as mangas, varrer as ruínas e reconstruir tudo de novo, com mais solidez e brio.
O Sr. Luís Marques Guedes (PSD): — Muito bem!
O Sr. Mota Amaral (PSD): — O teste da qualidade da reconstrução feita foi a candidatura de Angra do Heroísmo a Património Mundial, aceite e reconhecido pela UNESCO, para prestígio da ilha Terceira, da Região Autónoma dos Açores e de Portugal no seu conjunto.
O mesmo rumo foi seguido após o terramoto de 1998, que arrasou várias povoações nas ilhas do Faial e do Pico, hoje já também reconstruídas, com condições ainda melhores e mais vantajosas do que anteriormente, na crise de 1980. Uma vez mais, ficou demonstrada a fibra dos açoreanos e das açoreanas e a determinação dos seus legítimos governantes democráticos, que assim prestaram assinalável serviço a Portugal.
Sr. Presidente, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados: A nossa evocação de hoje não é, por tudo isso, um