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9 | I Série - Número: 063 | 27 de Março de 2008


O Sr. Jorge Machado (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Um milhão de mortos. É este o número assustador, é esta a estimativa que diversas organizações internacionais fazem do número de pessoas que morreram, quando se assinala o 5.º ano de guerra no Iraque.

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!

O Sr. Jorge Machado (PCP): — Depois da vergonhosa Cimeira dos Açores, a ilegal e criminosa guerra começa a 20 de Março de 2003. Passados cinco anos, esta guerra não só não resolveu nenhum dos problemas dos iraquianos como perpetuou e, em certos aspectos, agravou o sofrimento deste povo.

O Sr. António Filipe (PCP): — Exactamente!

O Sr. Jorge Machado (PCP): — Cinco anos depois, continuam a existir assassinatos selectivos, prisões secretas, condenações, muitas delas à pena de morte, baseadas em confissões obtidas sob tortura.
Hoje, existem cerca de 5 milhões de iraquianos refugiados; hoje, temos uma situação de desastre humanitário no Iraque; hoje, três em cada quatro iraquianos não têm acesso seguro a água potável.
Dados das Nações Unidas referem que 43% da população do Iraque vive em pobreza extrema; 60 a 70% da população activa está desempregada; 80% da população não tem saneamento básico. E as crianças são as principais vítimas — a mortalidade e subnutrição infantil disparou para valores assustadores.
Os Estados Unidos da América e os seus fiéis aliados utilizam, criminosamente, armas proibidas pelas Nações Unidas, tais como bombas de urânio empobrecido, fósforo branco e bombas de fragmentação, que vão prolongar por muito tempo os efeitos já devastadores da guerra.
Mas são também os americanos que sofrem as consequências desta guerra. São já 4000 os soldados americanos mortos na guerra e mais de 29 000 soldados feridos. São, essencialmente, jovens das camadas mais desfavorecidas da população norte-americana que pagam com a vida a guerra imperialista decidida pela administração Bush.

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!

O Sr. Jorge Machado (PCP): — Ao contrário do que afirma a propaganda norte-americana, o mundo não ficou mais seguro, antes pelo contrário. A deliberada destabilização do Médio Oriente, o conflito no Afeganistão, a perpetuação do massacre na Palestina, a guerra no Líbano, as provocações à Síria e as ameaças ao Irão são um caldo de cultura para o terrorismo e são um factor de preocupação e uma ameaça à paz mundial.

O Sr. João Oliveira (PCP): — Muito bem!

O Sr. Jorge Machado (PCP): — Não obstante este cenário, Dick Cheney e o Presidente Bush afirmam hipocritamente que «o esforço foi bem sucedido» e que o «êxito que está a ser vivido no Iraque é inegável» Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Saddam Hussein era um ditador tirano, mas importa referir que ele chegou ao poder, e aí se perpetuou, devido ao apoio dos Estados Unidos da América. Enquanto este se dedicava a massacrar curdos, a perseguir e matar comunistas e outros democratas, era um aliado dos Estados Unidos da América; quando deixou de servir os interesses dos norte-americanos passou a ser um cruel ditador e uma ameaça à segurança mundial.
Além destes argumentos, os Estados Unidos da América anunciaram o perigo iminente das armas de destruição maciça e uma suposta ligação à Al Qaeda. Os Estados Unidos da América sabiam que não existiam armas de destruição maciça e sabiam que não havia qualquer ligação entre Saddam Hussein e a Al Qaeda, tal como afirma o relatório do próprio Pentágono.
Esta guerra foi, assim, justificada com um recurso escandaloso e deliberado à mentira, ao embuste, para esconder os verdadeiros objectivos imperialista dos Estados Unidos da América.