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35 | I Série - Número: 003 | 20 de Setembro de 2008

A Sr.ª Leonor Coutinho (PS): — Sr. Presidente, Alexander Soljenitsin é um dos mais notáveis seres humanos do século XX.
Verdadeiro russo, nascido em Moscovo, esteve sempre ligado umbilicalmente ao seu país e à alma russa.
Viveu na pele a tragédia dos seus compatriotas, mas nunca quis deixar de testemunhar a realidade do seu país. Foi expulso, mas nunca fugiu.
Soljenitsin é também um cidadão do mundo, que sempre exprimiu brilhantemente as suas denúncias, como aqui já foi referido.
Mas Soljenitsin é essencialmente um escritor maior. Não pôde, sequer, ir receber o prémio Nobel que lhe foi atribuído, mas sempre se exprimiu livremente e constitui uma referência de força moral e sensibilidade.
O PS pretende, hoje, homenagear a sua memória como russo, como europeu, como cidadão do mundo e como escritor.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Bernardino Soares.

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Nós encaramos com naturalidade a apresentação deste voto pelo CDS.
Consideramos, contudo, que não é possível a Assembleia da República aprovar tal voto.

O Sr. Hugo Velosa (PSD): — Não é possível porquê?

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — O CDS, que não perdeu ainda a sua «costela» do saudosismo fascista, não quer votar o pesar de Soljenitsin, nem está concentrado na sua obra literária, que só interessa ao CDS na medida em que servir os seus propósitos anticomunistas.

O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — É um facto!

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Soljenitsin foi adversário da União Soviética — e isso basta para alguns, como ouvimos nos discursos aqui — , mas Soljenitsin não foi só isso. Soljenitsin foi o apoiante de Pinochet contra o governo legítimo de Salvador Allende, que os socialistas deviam recordar aqui hoje.
Soljenitsin foi o apologista do regime franquista; foi o defensor da restrição dos direitos humanos; falou do excesso dos direitos individuais.
Nas tais críticas ao Ocidente, que aqui foram referidas há pouco, pode incluir-se uma famosa Conferência em Harvard, em 1978, onde Soljenitsin dizia, e cito: «Chegou a hora, no Ocidente, de defender menos os direitos humanos e mais as humanas obrigações». Dizia, ainda, defendendo um poder autoritário face ao Parlamento e à imprensa: «A mediocridade triunfa, sob as desculpas das restrições impostas pela democracia». É este homem que está a ser vangloriado e louvado no voto do CDS e nas posteriores intervenções! Foi Soljenitsin quem defendeu, em 1976, uma nova intervenção dos Estados Unidos da América no Vietname, dizendo «desta vez para vencer».
E foi o mesmo Soljenitsin quem defendeu, em 1974, a intervenção dos Estados Unidos da América em Portugal, para abafar e contrariar a Revolução Democrática de Abril.

Vozes do PCP: — Bem lembrado!

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Este é o homem que o CDS e os restantes querem louvar nesta Assembleia! Um democrata, Sr. Presidente e Srs. Deputados, não pode aceitar que a Assembleia da República, legitimada pela Revolução dos Cravos, regida pela Constituição de Abril, aprovada em 1976, possa louvar alguém que quis esmagar a nossa democracia e a nossa liberdade, que quis confiscar a nossa soberania e apelou á intervenção estrangeira no nosso País,»