74 | I Série - Número: 039 | 15 de Janeiro de 2011
Relativas ao projecto de resolução n.º 302/XI (2.ª):
Não podendo votar favoravelmente este projecto de resolução, pela disciplina partidária a que estou sujeita,
fica aqui, para memória futura, o que penso sobre este assunto.
O portajamento da Via do Infante obriga-nos a falar, não só, sobre a rede de transportes mas também
sobre a mobilidade interna no distrito de Faro.
O Algarve vai da fronteira-terra à fronteira-mar, ocupando, em linha recta, 170 km do território nacional.
Geometricamente, o distrito de Faro é um rectângulo com 4960 km2. Este facto pode parecer despiciendo,
mas, se compararmos a geometria dos vários distritos do País, verificamos que nos outros podemos traçar, a
régua e esquadro, inúmeras vias alternativas entre localidades.
Ora, o distrito de Faro, pela sua forma geométrica, apenas permite uma circulação eficiente traçando uma
via longitudinal ou diagonal. Procura o leitor deslocar-se de Alcoutim a Aljezur por vias alternativas à Via do
Infante? Sabe quantas horas demora fazer esse percurso? Se a EN125 é já hoje uma via urbana, imagine
como será depois de concluídas as 84 rotundas, que requalificarão a chamada «estrada da morte»!!
Dois terços da nova via longitudinal do Algarve, designada de Via do Infante, de Vila Real de Santo António
a Alcantarilha foi construída, parcialmente, com fundos comunitários para ser um Itinerário Principal (IP). Tanto
a Via do Infante como a EN125 são duas vias longitudinais, sendo que a primeira foi construída para ser
alternativa à segunda e não o contrário. Apenas o troço entre Alcantarilha e Lagos foi construído no modo
SCUT.
Podia falar-vos do traçado irregular e perigoso da Via do Infante, das suas dimensões não regulamentares
para que a mesma seja uma auto-estrada, da perda de competitividade para o Algarve caso venham a existir
portagens. A título de exemplo, no Verão de 2010 a ocupação hoteleira rondou os 98%, dos quais mais cerca
de 74% corresponderam a turistas espanhóis. Podia dizer-vos que, não sendo a Via do Infante — desde a sua
génese — , uma via igual às outras, não deve ter um tratamento igual, pois «não deve ser tratado de forma
igual o que é diferente».
Contudo, irei partilhar convosco um dos argumentos de suporte às portagens em Portugal (tanto as que já
existem como as que irão ser implementadas). Dizia o meu interlocutor, numa sessão de esclarecimento sobre
a importância das portagens que «se há uma pessoa que não paga, esse custo é imputado a todos os outros e
que a pessoa, ao deixar de pagar a portagem, vai gastar esse dinheiro noutras coisas; portanto, é melhor que
a pague!»
Façamos então as contas: um casal que se desloque de carro do norte do País ao Algarve para passar
férias e que utilize as auto-estradas gasta (hoje!), só em portagens, cerca de 150 euros (ida e volta). Isto
significa que são menos cem euros que os nossos clientes trazem para gastar nos nossos restaurantes, bares,
lojas e supermercados.
Na prática, o que acontece é que os portugueses em vez de distribuírem os 150 euros por vários pequenos
e médios empresários colocam-nos no bolso do portageiro, e todos faremos o mesmo.
Mais grave é que o argumento acima referido sugere que os trabalhadores que se desloquem de Alcoutim
a Aljezur para exercer a sua actividade profissional também paguem portagens. Para que o leitor tenha uma
ideia dos valores a praticar, segundo as contas actuais, o percurso Portimão/Faro (69,4 km) ou Vila Real de
Santo António (65,8 km) custará cerca de 8 euros; ir e voltar, do barlavento ou do sotavento algarvio, à capital
do distrito custará 16 euros; quem tem de se deslocar até à capital do distrito, todos os dias para trabalhar, irá
pagar 80 euros por semana ou se preferir cerca de 320 euros por mês.
No que diz respeito aos valores a pagar e sobre o «princípio do utilizador/pagador», numa lógica de justiça
e equidade, então, os valores a pagar têm de ser revistos para todas as estradas que foram construídas com
fundos comunitários. É importante diferenciar os custos de construção dos custos de manutenção, mas,
principalmente, é importante não depauperar as famílias para encher os bolsos daqueles que ao longo dos
anos não souberam gerir o que foi o dinheiro disponível e as necessidades reais do País e, sendo incautos
nas construções públicas, endividaram as gerações futuras.
A Deputada do PSD, Antonieta Guerreiro.
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