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17 DE SETEMBRO DE 2011

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Permita-me que, antes de abordar quer o nosso projecto de lei quer a proposta do Governo, lhe diga o

seguinte: pode haver muitos pareceres técnicos no Ministério da Saúde, relativamente à pílula, porque se quer

que lhe diga, Sr. Ministro, até nem preciso de lê-los para saber o que vão dizer!… É porque esta é uma

decisão política, não é uma decisão que se possa fundamentar em qualquer parecer técnico!

Os técnicos, Sr. Ministro, não vêem a dimensão social do problema, vêem a dimensão circunscrita do

problema! Essa é a diferença entre um técnico e o Sr. Ministro da Saúde!

Vozes do BE: — Muito bem!

O Sr. João Semedo (BE): — Daí que a sua resposta não nos deixe nada descansados…!

Entrando agora na discussão que, hoje, aqui temos, eu gostaria de dizer o seguinte: o projecto de lei do

Bloco de Esquerda, que já tínhamos apresentado na anterior legislatura e que apresentámos no início desta, é

em grande parte coincidente com o texto da proposta de lei que o Governo veio, posteriormente, a apresentar.

Qual é a coincidência? Refiro a coincidência porque, do meu ponto de vista, é esse o cerne do problema.

O governo anterior, apesar de ter sido sucessivamente alertado para isso, fez uma deficiente transcrição de

uma directiva europeia e permitiu que a indústria farmacêutica e os tribunais criassem esta situação de

bloqueio, porque enquanto a directiva europeia diz que não se pode impedir a entrada no mercado de um

genérico por motivos de litigância judicial, quer o governo anterior, quer a indústria, quer os tribunais

consideraram exactamente o contrário. E é absolutamente fantástico que tribunais administrativos se sintam

competentes para discutir assuntos de natureza jurídica comercial, tal como é absolutamente fantástico que o

INFARMED tenha aceitado o efeito suspensivo sobre as autorizações de introdução no mercado.

Mas, Sr. Ministro, julgo que estas propostas serão aprovadas, pode até ser aprovada a existência da

arbitragem ou pode ser aprovada a existência de um tribunal de patentes — mas tudo isto, Sr. Ministro, será

insuficiente para resolver o problema dos genéricos, porque, como já hoje se ouviu e ontem se leu no parecer

da Apifarma (Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica)… Deixem-me que vos diga que o parecer da

Apifarma pode ser considerado o abc da contra-ofensiva à eventual lei que venha a ser aprovada pelo

Parlamento ou pelo Governo, porque está lá tudo: desde a ameaça de pedidos de inconstitucionalidade, até à

insinuação de um conjunto de medidas que a Apifarma poderá vir a tomar, como reacção e resposta às

medidas que vierem a ser aprovadas.

Se tivéssemos de explicar a uma criança o que é um lobby para que essa criança percebesse e nunca se

esquecesse, teríamos de contar a história da indústria farmacêutica… Com esse exemplo, toda a gente,

inclusive uma criança, ficava a perceber o que é um lobby!…

O Sr. Luís Fazenda (BE): — Muito bem!

O Sr. João Semedo (BE): — A indústria farmacêutica produziu um parecer sobre o projecto de lei do Bloco

de Esquerda absolutamente fantástico. Não deve haver um único português que diga, com tamanha

desfaçatez, que a boa justiça é a justiça lenta e que os três ou quatro anos que estes processos e que esta

litigância têm tido nos tribunais portugueses são «a expressão da profundidade do funcionamento da justiça

portuguesa». Com franqueza! Contra isto, só se pode ter uma atitude: a de encontrar alternativas para

ultrapassar um poder que impede, de facto, aquilo que é essencial para os portugueses, e até para as contas

públicas do País, que é o aumento da taxa de genéricos!

Sr. Ministro, não gosto, nem quero, «ensinar a missa ao padre», mas se o Sr. Ministro não compreende

rapidamente que o único aliado do Estado, que há em Portugal, no que diz respeito à diminuição da despesa

pública em medicamentos, são os utentes e se ainda admitirmos que se possa convencer a indústria

farmacêutica ou que se possa trocar e encontrar contrapartidas para calá-la, ou que se possa corrigir hábitos

— eu quase que diria, seculares — de má prática médica na prescrição, Sr. Ministro, daqui a um ano, a dois,

três, quatro, cinco, seis anos, a taxa de genéricos passaria dos actuais 21% para os 22%, 23% ou 24%, muito

longe dos 50%, 60%, 70% ou 80%, até, em muitos países da União Europeia.

Nesta matéria, há que respeitar a prescrição, há que ter o conselho do farmacêutico, mas, Sr. Ministro, a

única solução é deixar que o utente, no balcão da farmácia, possa ter a liberdade de escolher aquilo que vai

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