I SÉRIE — NÚMERO 91
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Por todas estas razões, os Deputados do Partido Socialista abstiveram-se na votação, na generalidade, da
proposta de lei n.º 46/XII (1.ª) e apresentarão, em sede de discussão na especialidade, propostas de alteração
que terão por objetivo contribuir para um regime laboral mais justo e equilibrado.
Os Deputados do PS, António José Seguro — Carlos Zorrinho — Maria de Belém Roseira — José
Junqueiro — Mota Andrade — Miguel Laranjeiro — Alberto Martins — Pedro Jesus Marques — Pedro Delgado
Alves — Pedro Nuno Santos — Sónia Fertuzinhos — Basílio Horta — Pedro Silva Pereira — Ramos Preto —
José António Vieira da Silva — Maria Helena André — Francisco de Assis — João Galamba — Ricardo
Rodrigues — Ana Paula Vitorino — Inês de Medeiros — Nuno Sá — Jorge Fão — Fernando Jesus — Idália
Serrão — João Paulo Pedrosa — Mário Ruivo — Elza Pais — Jacinto Serrão — Pedro Farmhouse — Manuel
Pizarro — Gabriela Canavilhas — Carlos Enes — Isabel Oneto — Rui Duarte — Rui Paulo Figueiredo — Luísa
Salgueiro — Acácio Pinto — António Serrano — Rui Santos — Ana Catarina Mendes — Laurentino Dias —
Eduardo Cabrita — Fernando Serrasqueiro — Hortense Martins — Manuel Seabra — Jorge Lacão — Luís Pita
Ameixa — Miguel Freitas — João Portugal — Paulo Campos — Duarte Cordeiro — Glória Araújo — Miguel
Coelho — Maria Antónia Almeida Santos.
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A presente proposta de revisão do Código do Trabalho inclui alterações demasiado gravosas para os
trabalhadores portugueses, indo muito para além do memorando de entendimento do PAEF.
É minha convicção que estamos perante um retrocesso dos direitos conquistados através da luta dos
trabalhadores que, com o tempo, nos atirará para patamares muito perigosos de atomização das relações
laborais, num processo de retrocesso sem precedentes.
É claro, para mim, que o Governo mais não está a fazer que aproveitar a crise em que o País se encontra
mergulhado e o PAEF como escudos de defesa para a realização de um projeto ideológico de fundamento
ultraliberal.
Identifico-me com a responsabilidade que sempre foi assumida pelo meu partido no sentido do
cumprimento dos compromissos assumidos no Memorando de Entendimento.
No entanto, sinto-me desobrigada de qualquer compromisso e serei sempre contrária a qualquer proposta
que vá para além desse acordo, violando o contrato social do Partido Socialista com os portugueses.
Assim acontece com o projeto de alteração em apreço em matérias tão importantes como: a introdução do
designado «banco individual de horas»; a extinção dos feriados e redução de dias de férias; o despedimento
de inadaptação (nos termos inscritos nesta proposta); a fragilização dos mecanismos de controlo da
Autoridade para as Condições do Trabalho.
Esta proposta representa ainda um rude golpe na contratação coletiva e leva a uma inaceitável
individualização das relações de trabalho, caminhando em sentido contrário àquele que tem sido o caminho
trilhado e defendido pelo Partido Socialista.
Tudo isto, sem que daqui se possa vislumbrar um caminho útil para a criação de mais e, muito menos, de
melhor emprego. Pelo contrário, o resultado da estratégia que tem vindo a ser seguida pelo Governo,
querendo ir muito além do PAEF, está a enredar o País numa teia recessiva para a qual não se vislumbra
saída.
Este Código do Trabalho apenas traz consigo mais desemprego, a acrescentar à taxa de 15% registada
neste momento, para além da descida dos salários. Mais desemprego e mais baixos salários podem ser
assumidos como a síntese daquilo que resultará da aplicação deste Código do Trabalho.
Centrar o combate pela competitividade e pela produtividade no aumento do tempo de trabalho e na
depreciação do valor mesmo, na atomização das relações laborais, fragilizando os laços contratuais, é, no
mínimo, fazer uma leitura míope dos problemas que enfrentamos nesta área e da solução para os mesmos, a
qual tem que passar, forçosamente, por uma aposta determinada na formação dos ativos, na inovação, na
investigação e desenvolvimento e, sublinho, por uma alteração profunda na esfera da organização do trabalho.
Por último, mas não menos importante, cabe-me aqui fazer uma referência particular à extinção do feriado
do 5 de Outubro, data fundacional do regime em que vivemos.