I SÉRIE — NÚMERO 98
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É evidente que nenhum trabalhador pode ficar descansado com as palavras do Governo. Sempre disseram
que eram apenas para uns, que não havia mais medidas, mas, de mês a mês, vemos que tudo o que acontece
é sempre para continuar a ser aumentado e no mesmo caminho.
Por isso, não podemos partir do princípio de que aquilo que o Governo diz é verdade, temos é de partir do
princípio — e, hoje, a maioria dos portugueses e dos trabalhadores já o sabem — de que aquilo que o
Governo garante, normalmente, é mentira, porque, a seguir, vem o desmentido daquilo que está a ser feito.
Sr.ª Deputada Mariana Aiveca, é muito difícil compreender como é que as justificações apresentadas têm
algum cabimento. Mais valia dizerem que o que querem é aumentar a margem de lucro do grande patronato.
Era mais honesto! Então, se se diminui, por exemplo, para metade o valor das horas extraordinárias pagas no
setor público e no setor privado, onde é que isso traz maior produtividade?! Não! Não se produz mais, o que
se paga é menos a quem produziu! Esta é que é a solução do Governo para tudo: pagar menos a quem
produz a riqueza, que é o trabalhador!
Mais: o que querem com esta lei dos despedimentos selvagens é fazer com que todos possam ser
despedidos por tuta e meia em qualquer momento para que os trabalhadores contratados a seguir para fazer o
mesmo trabalho o sejam com um salário menor, com menos direitos e assim, progressivamente, na sociedade
portuguesa os salários se vão reduzindo, os direitos se vão eliminando.
Este é o objetivo da vossa política, que não pode ser escondido por balelas como aquelas que o Ministro
da Economia vem vendendo ao País.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem a palavra, para pedir esclarecimentos, o Sr. Deputado Adriano
Rafael Moreira.
O Sr. Adriano Rafael Moreira (PSD): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Bernardino Soares, antes de mais,
felicito-o, bem como ao PCP, pelo tema. O mesmo já não direi quanto ao conteúdo.
Numa conjuntura em que todos sabemos que centenas de milhares de portugueses se debatem com o
desemprego e que numerosos jovens — infelizmente, um número demasiado elevado — têm sérias
dificuldades em conseguir o primeiro emprego, o Partido Comunista absteve-se de comentar essa realidade,
concentrando-se nos trabalhadores, naqueles que têm voz, porque têm os seus sindicatos.
Protestos do PCP.
Talvez os desempregados e os jovens à procura de emprego, porque não têm sindicatos, não mereçam ter
voz — essa foi, desde logo, a gafe do PCP.
O Sr. Adão Silva (PSD): — Bem dito!
O Sr. Adriano Rafael Moreira (PSD): — Sr. Deputado, no que toca à legislação laboral, o PSD e o
Governo entendem que é um instrumento ativo de influência no mercado de trabalho que deve ser utilizado
para a criação de emprego e não pode ser visto numa lógica estática de disciplinar relações de poder
históricas.
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Eliminando direitos!
O Sr. Adriano Rafael Moreira (PSD): — Foi nesse sentido que, dialogando com os parceiros sociais, se
celebrou um acordo de concertação social. Ora, foi no seio e na sequência desse acordo de concertação
social que o PSD, o CDS e o Governo, apoiado por estes partidos, trouxeram a esta Assembleia um conjunto
de medidas para alterar a política laboral e assim influenciar ativamente o mercado de trabalho criando
emprego.
Daí que, Sr. Deputado, começando amanhã o debate, na especialidade, desta legislação, o que se espera
é que o Partido Comunista não se alheie deste processo, não faça amanhã, em relação os trabalhadores, o