I SÉRIE — NÚMERO 17
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Os níveis de execução orçamental têm demonstrado consecutivamente, os níveis e o definhamento da
procura interna, os níveis brutais de desemprego, o horror que tantas e tantas famílias deste País enfrentam
neste momento e que outras vislumbram enfrentar a curto prazo, demonstram, de facto, que este Governo é
de uma incompetência brutal. Sr. Ministro, o que é que o País faz perante isto?
Entretanto, vem o Governo apresentar o Orçamento retificativo com vários objetivos, designadamente o de
assumir que falhou completamente nas previsões da receita, maquilhando-o com coisas extraordinárias para
cumprir o défice, formalmente. É muito pouco real, não é, Sr. Ministro? Isto é tudo muito pouco real!
Depois, vem a UTAO apresentar uma série de questões que não são de somenos importância,
designadamente assumir perante os Deputados que aquilo que nos é apresentado agora com este Orçamento
retificativo já está mais que desatualizado e não é credível, porque, na revisão em baixa das receitas do IRC, a
própria UTAO não acredita, face aos níveis que atualmente conhecemos, que sejam cumpridos da forma como
o Governo apresenta.
Sr. Ministro, acredita verdadeiramente naquilo que está a apresentar hoje a esta Câmara ou isto continua a
ser a vossa batota manobrada mas que os portugueses não aguentam mais!
O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem a palavra o Sr. Deputado João Galamba.
O Sr. João Galamba (PS): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados, Sr.
Ministro das Finanças, eu estava à espera que viesse hoje assumir as suas responsabilidades e não dizer que
o falhanço clamoroso no exercício orçamental de 2012 se deve ao padrão de ajustamento da economia
portuguesa. Não, Sr. Ministro, deve-se às suas políticas, deve-se às suas escolhas. Não se demita das suas
responsabilidades e assuma-as aqui, como disse que o faria na sua primeira intervenção no Parlamento.
Aplausos do PS.
O Sr. Ministro das Finanças, no dia 26 de abril de 2012, garantiu ao País que, e cito: «O padrão das
receitas está dentro do previsível». Portanto, Sr. Ministro, no final de abril estava enganado. Já todo o País
dizia que as suas previsões não eram corretas e iam falhar e o Sr. Ministro das Finanças garantia aqui, neste
Parlamento, que estava tudo a correr com normalidade. Não estava, Sr. Ministro, e, portanto, não se desculpe
com o padrão de ajustamento.
O padrão de ajustamento que ocorreu este ano foi causado por escolhas suas. O Sr. Ministro subestimou
os efeitos da austeridade das suas políticas. A procura interna caiu muito mais do que estava à espera. Isso é
o único ajustamento que ocorreu este ano. O único ajustamento fora do padrão da normalidade decorreu de
escolhas suas: foi a procura interna e foi o desemprego. Mais nada, Sr. Ministro das Finanças. Portanto, não
se desculpe.
Queria fazer-lhe um conjunto de perguntas para as quais pedia uma resposta clara.
Primeira: está em condições de garantir que o défice, sem medidas extraordinárias, fica mesmo em 6%?
Sr. Ministro das Finanças, o plano B, que é, na realidade, uma versão aditivada do plano A, porque é o
único que conhece — é repetir, repetir e repetir sempre a mesma estratégia —, estes cortes nas prestações
sociais que vão já ser feitos em 2012 servem para acomodar um buraco adicional que ainda não está
estimado no défice deste ano?
O Sr. Ministro das Finanças está em condições de garantir que a operação da ANA vai ser validada pelo
Eurostat e que, portanto, pode abater no défice de 2012?
Já agora, pedia-lhe dois recados que o Sr. Ministro das Finanças podia fazer o favor de dar ao FMI.
O primeiro é corrigir o relatório do FMI e avisar o Sr. Selassie que o regresso da confiança nos mercados
não está a ocorrer. A sua Secretária de Estado do Tesouro, na quarta-feira, admitiu publicamente que todos os
leilões de dívida pública este ano tiveram a participação exclusiva de entidades nacionais.
A operação de troca de dívida que o Sr. Ministro apresentou como um sucesso do País e o sinal de que o
País tinha regressado aos mercados foi feito por instituições nacionais e pela segurança social.
Aplausos do PS.