16 DE MARÇO DE 2013
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A Sr.ª Presidente: — Srs. Deputados, Srs. Jornalistas, está aberta a sessão.
Eram 10 horas e 7 minutos.
Podem ser abertas as galerias.
Srs. Deputados, vamos dar início ao primeiro ponto da ordem do dia, que consiste na discussão conjunta
dos projetos de resolução n.os
614/XII (2.ª) — Combater o tráfico de seres humanos (Os Verdes) e 484/XII (2.ª)
— Recomenda ao Governo o reforço de medidas de combate ao tráfico de seres humanos e à exploração na
prostituição (PCP) e, na generalidade, dos projetos de lei n.os
364/XII (2.ª) — Reforça a proteção das vítimas
de crime de tráfico de pessoas (BE) e 375/XII (2.ª) — Reforça o estatuto das vítimas de tráfico de seres
humanos e procede à segunda alteração à Lei n.º 23/2007, de 4 de julho (PS).
A Mesa regista inscrições dos Srs. Deputados Heloísa Apolónia, de Os Verdes, Rita Rato, do PCP, Cecília
Honório, do Bloco de Esquerda, Pedro Delgado Alves, do PS, Mónica Ferro, do PSD, e Teresa Anjinho, do
CDS-PP.
Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Em outubro do ano
passado, Os Verdes fizeram neste Plenário uma declaração política a propósito da matéria do tráfico de seres
humanos, tendo-se comprometido, nessa altura, a apresentar uma iniciativa legislativa que marcasse também
a agenda parlamentar sobre esta matéria.
É justo referir que, nesta Legislatura, o projeto intitulado Romper Silêncios, que o Movimento Democrático
de Mulheres (MDM) trouxe a conhecer ao Parlamento português, foi uma fonte de informação e de inspiração
para a tomada de iniciativas que urgem ser tomadas por este órgão de soberania.
Quando falamos do tráfico de seres humanos falamos inevitavelmente de uma barbárie, de exploração
devastadora, de formas de escravatura contra as quais urge juntar os mais diversos níveis de poder por este
mundo fora no sentido de as erradicar com determinação e eficácia, com todas as forças e meios.
A ONU estima que a escravatura atinge cerca de 27 milhões de pessoas no mundo, mas, sendo um
fenómeno clandestino, é difícil contabilizá-lo e é provável que este número fique abaixo da verdadeira
realidade.
O tráfico de seres humanos, segundo as Nações Unidas, tem como objetivo mais significativo a exploração
sexual e a prostituição (79%), sendo que, dentro desta, as vítimas são maioritariamente mulheres, das quais
cerca de 50% são menores de idade. São seres humanos usados como se de mercadoria se tratasse,
vendendo-se, comprando-se, humilhando-se e desprezando-se.
Reconhecer a prostituição como uma atividade profissional é das formas mais eficazes de facilitar este
tráfico com vista à exploração sexual, porque a legalização da prostituição tem sido confirmada como um fator
de facilitação da incorporação ou disfarce do tráfico de seres humanos em casas da chamada «indústria do
sexo». É por isso tão relevante que a prostituição seja encarada como absoluta forma de exploração e de
violação de direitos humanos, tal como expressa a Convenção das Nações Unidas para a Supressão do
Tráfico de Pessoas e da Exploração da Prostituição, ratificada por Portugal em 1991.
Não é de menor importância referir que há dados que demonstram que, em cada 10 mulheres que se
prostituem, nove afirmam diretamente que queriam deixar essa situação mas que se sentem incapazes de o
fazer.
Importa igualmente referir que a degradação das condições de vida das populações e as políticas
geradoras de más condições sociais e de pobreza são um fator de facilitação de aliciamento de pessoas que
não encontram formas de sobrevivência e que se agarram a todas as hipotéticas oportunidades que possam
surgir, quantas vezes caindo, depois, involuntariamente na cadeia do tráfico de seres humanos. Combater
eficazmente a pobreza é, pois, uma forma eficaz de prevenir o drama do tráfico.
Conhecer as dimensões deste negócio hediondo é inegavelmente gerar uma inevitabilidade de intervenção
e ação. É de ação que Os Verdes querem hoje falar. Por isso, propõem à Assembleia da República: gerar
conhecimento, esclarecimento e informação nos currículos escolares; promover campanhas de sensibilização
em locais estratégicos para efeitos de tráfico de seres humanos; a criação de uma linha telefónica SOS tráfico
de seres humanos; a garantia de uma rede pública de casas-abrigo para acolhimento temporário e