16 DE MARÇO DE 2013
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Por isso, infelizmente, não poderemos acompanhar a iniciativa do Bloco de Esquerda de transformação da
autorização em autorização permanente ou de concessão da nacionalidade, na medida em que, em si
mesmos, não alterarão nem resolverão o problema e também porque descaracterizam estas figuras jurídicas,
ao mesmo tempo que quase tornam existente o risco, não da autonomização, mas, no limite, da vitimização
permanente, que é também um objetivo que pretendemos evitar. O objetivo é que a vítima de tráfico, depois,
seja tratada como qualquer cidadão e que, na sua relação com o Estado, não tenha de ficar permanentemente
estigmatizada por essa realidade.
Já em relação aos projetos do Partido Ecologista «Os Verdes» e do Partido Comunista Português, uma vez
que recuperam muito daquilo que são as prioridades, os objetivos e a forma de implementar a mudança,
naturalmente os acompanharemos.
Contudo, há uma matéria que achamos que não deve ser confundida neste debate porque, de facto, é
importante ter em conta a complexidade do problema e a forma como ela se distingue. Não podemos,
necessariamente e de forma algo redutora, dizer que todas as situações de tráfico de seres humanos no
contexto da exploração sexual vão bater inevitavelmente à necessidade de olhar para o fenómeno da
prostituição como está encarado, por exemplo, na resolução do Partido Comunista. Não a acompanhamos
nesse ponto, porque aquilo que são os estudos sociológicos realizados cientificamente nesta matéria e aquilo
que as associações de trabalhadores do sexo têm dito, em muitos debates nos quais Deputados desta
Assembleia têm participado, é precisamente que é importante ter essa definição e essa distinção entre os
casos de exploração (e essa deve ser combatida e erradicada, precisamente nestes termos), e aqueles casos
em que ela efetivamente resulta de uma decisão, e essa decisão deve ser respeitada e deve ser tutelada e
protegida. Esse é um debate a que esta Câmara não deve fugir, mas que não o deve confundir com este que
hoje aqui travamos.
Entretanto, assumiu a presidência o Vice-Presidente Guilherme Silva.
O Sr. Presidente: — Faça favor de terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Pedro Delgado Alves (PS): — Termino já, Sr. Presidente.
Por isso, há muito a fazer. Podemos não estar de acordo na totalidade das soluções mas acho que o
balanço final é o de que há um consenso sobre a prioridade, a urgência e o desígnio, e é isso que hoje
devemos valorizar.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Mónica Ferro.
A Sr.ª Mónica Ferro (PSD):— Sr. Presidente, Sr.as
Deputadas e Srs. Deputados: Mais de três milhões de
seres humanos são traficados todos os anos. Deixem-me repetir, para que possamos compreender: mais de
três milhões de seres humanos. De todas as latitudes, de todas as confissões, mas com um sonho em comum,
o de uma vida melhor, mais digna, em maior liberdade. Estes milhões de seres humanos são traficados num
comércio ilícito, iníquo, acabando por ser remetidos para uma invisibilidade em que deixam de contar e de
poder contar as suas histórias.
Este tráfico supera já, em termos de receitas, as provenientes de outros tráficos ilícitos como os da droga
ou das armas. Estimativas pessimistas alertam para a possibilidade de estarmos a falar de mais de 32 000
milhões de dólares.
Sr. Presidente, Sr.as
Deputadas, Srs. Deputados: Trata-se, de facto, de um atroz crime contra a
humanidade.
Traficados para exploração laboral, sexual, extração de órgãos, adoção ilegal, pornografia, e outras
violências, estes seres humanos são condenados a uma inaceitável forma de escravidão que merece do
Estado e do Governo português uma condenação firme e um combate sem tréguas.
Para um combate legislativo e operacional, quer com a ratificação dos tratados de direitos humanos mais
progressistas, quer com a implementação de planos nacionais para o combate ao tráfico de seres humanos,