16 DE MARÇO DE 2013
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A Sr.ª Mónica Ferro (PSD): — A dignidade humana é, para nós, um trabalho no qual nos empenhamos
todos os dias.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Teresa
Anjinho.
A Sr.ª Teresa Anjinho (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: A título de preâmbulo,
permitam-me começar por afirmar algo que, na História, nem sempre foi óbvio e que, no presente, apesar de
todo o enquadramento nacional e internacional, seja ao nível do direito, seja ao nível das políticas públicas,
seja ao nível do envolvimento da sociedade civil, ainda continua a ser desafiado. Ou seja, o tráfico de seres
humanos é um crime hediondo e é uma das mais graves violações dos direitos humanos.
De facto, não podemos ignorar como, à escala global, todos os anos, num cenário que afeta praticamente
todos os países no mundo, centenas de homens, de mulheres e de crianças caem nas mãos de traficantes,
vítimas de exploração sexual e laboral, de tráfico de órgãos, de mendicidade, de adoções ilegais ou de
trabalho doméstico ilegal.
Esta é uma realidade dramática, de contornos nem sempre claros, e onde os números desafiam
constantemente os compromissos, denunciam a persistência do problema e apelam a uma urgência de ação.
Portugal tem vindo a fazer, ao longo dos anos, nesta caminhada internacional de consciencialização e de
combate, um importante e reconhecido trabalho nacional.
Recentemente, o relatório do GRETA salienta, nas suas observações conclusivas, exatamente o facto de o
quadro constitucional e legal português constituir uma base sólida para uma abordagem centrada na vítima e
nos seus direitos.
É certo também que o relatório encoraja Portugal e as autoridades portuguesas a melhorar. E, neste
sentido, seria expectável que as iniciativas em discussão viessem dar resposta a este apelo.
Todavia, e não deixando de reconhecer a bondade de todas as propostas, que têm, desde logo, o mérito
de nos fazer refletir sobre este tema, com objetividade, não podemos deixar de afirmar que aquilo que se
desejaria não se verifica.
Vejamos: o projeto de lei do Bloco de Esquerda, que incide sobre a lei da nacionalidade e a lei dos
estrangeiros, para além de estar desenquadrado da legislação em vigor, particularmente no que se refere à lei
da nacionalidade, não apresenta sustentação técnica nem fundamento legal que justifique a sua aprovação.
A nosso ver, o objetivo de reforço da proteção das vítimas não se concretiza nem pela via de uma
concessão de autorização de residência permanente — estão já protegidas pelo regime instituído de
autorização de residência temporário —, nem pela possibilidade de concessão da nacionalidade por
naturalização, que, como todos bem sabem, serve outros objetivos, nomeadamente o de ligação efetiva da
pessoa ao país e à comunidade.
Quanto ao projeto de lei do Partido Socialista, parte desta linha de crítica, no que se refere à lei dos
estrangeiros, também se reflete nesta iniciativa, em relação à qual deixo apenas duas notas.
Em primeiro lugar, estando já prevista a possibilidade de concessão de autorizações de residência anuais
às vítimas, renovável por iguais períodos, verificando-se a situação de risco, não se compreende em que
medida a proteção sai reforçada através de um alargamento sem tempo definido.
Mais: há inclusivamente que refletir sobre se não se estará a aumentar a exposição da vítima ao risco, uma
vez que um dos requisitos da concessão e das renovações é precisamente que a vítima se mantenha longe
dos presumíveis traficantes.
Em segundo lugar, para nós, também não faz qualquer sentido a acumulação do estatuto da vítima de
tráfico com a questão da lei do asilo, nem tão pouco a questão, que, para mim, é uma redundância legislativa,
do alargamento ou da consagração expressa do estatuto da lei da violência doméstica.
Duas breves referências aos projetos de resolução de Os Verdes e do Partido Comunista Português, que,
se em alguns pontos versam sobre matérias que já estão a ser alvo de intervenção governativa, não
merecendo objeção mas também nada acrescentando, noutras merecem a nossa discordância.