9 DE MAIO DE 2013
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Já lá vamos, Sr.ª Deputada, se quiser ouvir.
Em segundo lugar, somos contra e seremos contra porque achamos que em relação a uma substância
psicotrópica a total descriminalização, a total despenalização, como pretende o Bloco, pode constituir, como
aqui já foi dito, um estímulo ao consumo. Esta é a nossa posição de princípio, mas achamos que este projeto
de lei merece discussão, merece debate e merece ser analisado, em concreto, no seu conteúdo.
Em relação ao seu conteúdo, o que é que eu diria? Diria que é muito importante que um projeto deste tipo
seja consistente do ponto de vista técnico — e há muitas dúvidas do ponto de vista técnico que podem ser
levantadas em relação a ele.
Vozes do CDS-PP: — Exatamente!
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Ou seja, qual é a quantidade de consumo pessoal, individual,
aceitável…
A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Está na proposta, Sr. Deputado! Leia!
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Não, não. É porque cada substância tem derivados, como os Srs.
Deputados sabem. É aplicável a todos?
A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Está na lei, Sr. Deputado!
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — É aplicável só a um? Leia com atenção e vai ver que a dúvida existe.
Em terceiro lugar, relativamente aos próprios clubes, também poderão ou não ser produtores ou é só do
ponto de vista individual? As tais 10 plantas são ou não suficientes, consoante a quantidade? Portanto, há
inúmeras dúvidas.
Mas mais importante do que estas dúvidas todas, Srs. Deputados, o que faria sentido discutirmos, se o
projeto chegasse a sede de especialidade, e acho que não chegará, pelo que se viu, é a exigência de rigor do
ponto de vista médico.
Sinceramente, na nossa perspetiva, existe neste projeto um pressuposto que é o de que esta substância é
uma substância psicotrópica relativamente inofensiva, que não faz mal, que é equiparável a outras, que é
equiparável ao próprio tabaco.
Ora, Srs. Deputados, isso não está demonstrado de maneira nenhuma. Não está demonstrado que o
consumo de canábis e dos produtos possíveis de produzir com a canábis sejam inofensivos para a saúde. Não
está!
Inclusivamente, se há quem o diga, existem também muitos relatórios da Organização Mundial de Saúde e
relatórios europeus que alertam para riscos de saúde relacionados com o consumo de canábis. Logo à partida,
a dependência. A dependência é um risco, a dependência induz a comportamentos, a dependência tem de ser
combatida.
Em segundo lugar, em casos de sintomatologia psicótica e de outros tipos, há relatórios que indicam esses
mesmos riscos de saúde, para além dos riscos comparáveis com outras substâncias como o álcool, o tabaco,
etc.
Termino, Sr. Presidente, com uma ideia: o regime que temos hoje é um regime em que descriminalizámos,
como disse a Sr.ª Deputada, o consumo de todas as drogas, não fazemos a tal diferenciação entre drogas
leves e drogas duras e, desse ponto de vista, este projeto de lei vem acontrario de toda a lógica, porque volta
a uma lógica antiga de drogas leves e de drogas duras, que abandonámos.
O que interessa hoje em dia é a relação com uma determinada substância, é, como disse, a prevenção, é o
combate ao consumo de todas e cada uma destas substâncias. O que interessa não é propriamente um
conceito de drogas leves, que tem sido abandonado até do ponto de vista internacional, e que, no caso da
canábis, não é sequer verdadeiro, porque basta aumentar — como sabem, porque estudaram o assunto — a
concentração de THC (Tetrahydrocannabinol) para estarmos perante canábis não como uma droga leve mas,
sim, como uma droga dura.