I SÉRIE — NÚMERO 112
28
Termino, Sr.ª Presidente, com uma matéria que ainda dará muitas notícias no futuro e que se encerra no
que é também o resultado deste relatório da Comissão de Inquérito e que tem que ver com todo o panorama
das compensações contingentes. Diz a Assembleia da República nesse relatório, taxativamente, como diz o
Tribunal de Contas, que não há obrigação de o Estado pagar nem um cêntimo pelas compensações
contingentes. Essa não é uma opinião, é matéria de facto e nós, no futuro, vamos exigir que seja cumprido,
porque é assim que deve ser: uma lei deve ser cumprida para defender o interesse de todos nós nesta matéria
tão importante.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado João Ramos.
O Sr. João Ramos (PCP): — Sr.ª Presidente e Srs. Deputados, no momento em que chegam ao fim os
trabalhos deste inquérito parlamentar, o PCP reitera a afirmação de um caminho indispensável e urgente:
acabar com as atuais PPP e rejeitar novos contratos nesse modelo.
A solução para o futuro não pode ser uma tentativa (mais uma) de aperfeiçoar o que é péssimo. Não pode
haver mais contratos PPP. O que é imprescindível não é reiniciar mas, sim, inverter este ciclo de negociações
e renegociações que sempre favorecem os interesses privados.
Em todo este processo de inquérito parlamentar, o PCP esteve empenhado em contribuir para o
apuramento dos factos e para o desmascaramento da verdade sobre as PPP e do desastroso negócio que
representaram para o País.
Desde o primeiro momento, alertámos e criticámos esta opção de sucessivos Governos e prevenimos para
os resultados que, inevitavelmente, tal estratégia traria. Este relatório e este inquérito parlamentar permitiram
retratar uma parte da realidade com que o País hoje se confronta e que vem dar razão aos alertas do PCP.
Aliás, tratando-se, neste relatório, e neste inquérito parlamentar, das PPP do setor rodoviário e ferroviário,
é preciso não esquecer que subsiste o problema grave, e ainda não aprofundado cabalmente, das PPP na
área da saúde e noutros domínios, com destaque para hospitais como os de Braga ou Loures ou para o
SIRESP.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. João Ramos (PCP): — O que a vida está a demonstrar e a confirmar todos os dias é que não é «o
peso do Estado» que está a ser excessivo, pelo contrário o que acontece é a apropriação por interesses
privados em esferas de evidente interesse nacional, onde só o Estado pode efetivamente atuar na defesa de
tal interesse.
A suposta supremacia da capacidade de gestão do setor privado em Portugal é uma ficção criada pelos
ideólogos e propagandistas de direita, correspondendo mesmo a uma das insuficiências estratégicas da
economia portuguesa.
Os sucessivos Governos pretenderam ficcionar as relações sociais, ao fingir ignorar o permanente objetivo
estratégico do poder económico de maximizar o lucro, assim como ao branquear o verdadeiro significado das
opções políticas seguidas ao longo destas décadas.
A realidade que se evidenciou nos trabalhos desta Comissão de Inquérito e que ressaltou das intervenções
por parte da esmagadora maioria das pessoas que foram ouvidas foi a de que, em matéria de parcerias
público-privadas, entre Governos PS e PSD/CDS-PP, a diferença substancial está, essencialmente, no volume
de negócios e nas quantidades: número de contratos assinados, valores negociados, volume de investimento
envolvido, etc.
As opções estratégicas e políticas de fundo neste domínio têm sido fundamentalmente as mesmas:
favorecer o capital privado e propiciar-lhe negócios de alta rentabilidade.
Uma das mistificações mais recorrentes por parte dos partidos que desenvolveram parcerias público-
privadas foi a de tentar confundir PPP com investimento público ou com obra pública.