4 DE OUTUBRO DE 2014
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De facto, vale a pena relembrar que o relatório da Gulbenkian, recentemente apresentado nesta
Assembleia, afirma inequivocamente, como é do conhecimento dos Srs. Deputados, que temos um Serviço
Nacional de Saúde com padrões de qualidade elevada, com natureza de serviço público e profissionais de
saúde habilitados, sendo consensual o apoio à sua continuidade.
Como principal recomendação, este estudo apela a um pacto para a saúde, com a determinação de que
todos têm um papel a desempenhar e que todos devem participar e contribuir. Apela a um pacto que reflita a
participação e a vontade de todos, mas que seja obrigatoriamente elaborado de forma a construir um modelo
sólido, coerente e inovador.
Esta é uma tarefa em que todos nos devemos envolver e, por parte do Governo, o seu empenho será total.
O nosso desafio é garantir um Serviço Nacional de Saúde moderno, com capacidade para responder aos
desafios, que fuja do imobilismo, que saiba responder ao futuro, como o soube fazer durante 35 anos. Tenho,
pois, a certeza de que também o saberá fazer nos próximos anos.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Sr. Ministro, a Mesa registou a inscrição, para lhe pedirem
esclarecimentos, de nove Srs. Deputados.
Peço-lhe que, depois, informe a Mesa se pretende responder individualmente ou em conjunto.
Em primeiro lugar, tem a palavra o Sr. Deputado António Filipe.
O Sr. António Filipe (PCP): — Sr. Presidente, Sr. Ministro da Saúde, o Centro Hospitalar do Médio Tejo,
em relação ao qual me vou referir em concreto, antes da existência da Portaria n.º 82/2014, que classifica ou,
melhor, desclassifica serviços hospitalares, já tinha perdido, com a restruturação em curso, 80 camas e já
tinha criado graves dificuldades aos utentes no acesso a diversos serviços de saúde.
Com esta portaria, o Centro Hospitalar do Médio Tejo deixará de prestar cuidados de 11 das suas
valências. Passo a enumerar: oftalmologia, pneumologia, cardiologia, reumatologia, gastroenterologia,
nefrologia, oncologia médica, otorrinolaringologia, obstetrícia, neonatologia e urologia, para além do
encerramento da maternidade.
Sr. Ministro, a questão que lhe coloco é a seguinte: considera aceitável que toda a população servida por
este centro hospitalar tenha de se deslocar a Coimbra, a Lisboa ou sabe-se lá onde para que tenha acesso a
cuidados de saúde em valências como estas, que são absolutamente essenciais?
Este é um exemplo das consequências que esta portaria traz a todo o País. Dei um exemplo concreto,
mas, seguramente, haverá outros que poderão ser dados.
Gostaríamos de saber se considera que proceder a uma desclassificação desta natureza dos serviços
hospitalares é uma forma de comemorar os 35 anos de existência do Serviço Nacional de Saúde.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado João
Semedo.
O Sr. João Semedo (BE): — Sr. Presidente, Sr. Ministro da Saúde, o debate é sobre os erros do passado,
mas, seguramente, o debate também será sobre os erros do presente. Portanto, falo de erros do passado e de
erros do presente.
O senhor governa há pouco mais de três anos. Neste momento, segundo dados oficiais, há 1,3 milhões de
portugueses e portuguesas que não têm médico de família. As razões são várias, mas uma delas, que é
aquela sobre a qual os governos tiveram e continuam a ter a possibilidade de intervir, apesar de não o terem
feito, tem a ver com a questão da aposentação antecipada dos médicos.
Os números registados nos últimos anos relativamente aos médicos que deixaram o Serviço Nacional de
Saúde são assustadores: 406, 463, 666, 606, 601 e, no 1.º trimestre deste ano, 270, o que se explica por
haver governos que promovem — e o seu não é exceção! —, facilitam a antecipação das reformas e das