I SÉRIE — NÚMERO 44
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Ainda eu não era Primeiro-Ministro — fui eleito Primeiro-Ministro em junho de 2011, numa conjuntura em
que Portugal já estava sob assistência externa —, antes de estar sob assistência externa, Portugal, entre 2010
e 2011, fez empréstimos bilaterais à Grécia no valor de quase 1100 milhões de euros. E, hoje, a Grécia,
depois de ter reestruturado a sua dívida, fazendo um haircut da sua dívida junto dos fundos privados, só pode
ter a expetativa de não pagar àqueles que lhe emprestaram, aos portugueses, aos franceses, aos espanhóis,
aos povos europeus.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — É falso!
O Sr. Primeiro-Ministro: — É esta a questão, Sr. Deputado. Gostaria que esclarecesse este ponto.
Sr. Deputado, digo-lhe que não concordo que seja uma vantagem para Portugal um tal processo. Não foi
no passado, não é hoje e não será no futuro.
Vozes do PSD: — Muito bem!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Espero bem que a Grécia consiga resolver os seus problemas. É importante
para os gregos, é importante para a União Europeia e também para Portugal. Por isso, temos ajudado a
Grécia a encontrar o seu caminho de sucesso quer orçamental, quer em termos de crescimento económico.
Sabemos que não é fácil. Mas sabemos ainda que o respeito que devemos ao Governo grego é o respeito
que o Governo grego deve aos governos dos outros países. Não há países de primeira, de segunda e de
terceira. Não há povos de primeira, de segunda e de terceira.
Protestos do PCP.
Dentro da União Europeia, todos merecem ser respeitados: os portugueses que elegeram este Governo, os
gregos que elegeram o atual Governo, e por aí fora. Todos temos de ser respeitados! Mas isso não significa
que estejamos todos de acordo. As opções que cada um segue devem ser esclarecidas e espero que, no caso
da Grécia, sejam esclarecidas. Não as vou comentar, vou apenas dizer aquilo com que concordo e com que
não concordo. Com a reestruturação da dívida, Sr. Deputado, não concordo!
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Sr. Deputado Jerónimo de Sousa, tem a palavra.
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Sr. Primeiro-Ministro, essa coisa de que são todos iguais na União
Europeia… Reconheça que há uns mais iguais do que outros.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Exatamente!
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Na sua intervenção, manifestou que, afinal, o Primeiro-Ministro
português está mais do lado da Sr.ª Merkel do que propriamente do lado dos interesses nacionais.
Ademais, permita que faça um acrescento e uma prova dessa realidade: o caso da TAP, um instrumento
fundamental, uma alavanca de que este País precisa para o seu crescimento e desenvolvimento económico, e
a sua privatização
Sr. Primeiro-Ministro, é tendo em conta o ponto de vista do interesse nacional que refiro a declaração do
Sr. Secretário de Estado dos Transportes quando afirma que compete à União Europeia decidir se a EMEF
(Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário) e a CP Cargo são para privatizar ou para encerrar,
para liquidar. Este é que é o brio patriótico deste Governo, Sr. Primeiro-Ministro!?
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!