I SÉRIE — NÚMERO 54
8
A Sr.ª Ana Rita Bessa (CDS-PP): — Sr. Presidente, Srs. Ministros, Srs. Deputados, falamos aqui hoje sobre
inovação e dirijo-me, em primeiro lugar, ao Sr. Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior para as
matérias que mais diretamente têm a ver com a sua tutela.
O Programa Nacional de Reformas, no eixo da inovação, fala em cooperação entre o mundo científico e o
mundo empresarial, o que nos parece muito bem. Convém lembrar que a via clássica mais relevante nesta
relação entre empresas e universidades se dá através da formação de qualidade dos alunos nestas
universidades, que assim se tornam contribuidores de bons quadros nas empresas e indutores de ciência
aplicada.
Mas, para além desta via, há outras de que são exemplos as incubadoras. Muitas universidades, graças, em
grande medida, à sua autonomia, têm já posto em marcha, e até com grande sucesso traduzido na geração de
receitas próprias, várias incubadoras e dado resposta a várias necessidades empresariais. São exemplo — que
imagino que conheça bem — a Universidade de Coimbra com o Instituto Pedro Nunes, a Universidade do Porto,
do Minho ou, até mesmo, o Técnico, para lhe trazer um exemplo próximo.
No entanto, este trabalho que o Sr. Ministro, seguramente, conhece, aparece aqui com um âmbito reformista,
pelo que presumo que vai fazer qualquer coisa de substancialmente diferente nesta matéria do que o que tem
sido feito até agora. Porém, o PowerPoint não nos explica exatamente o quê.
Assim, tendo em conta que já existe uma aproximação real, a qual decorre do trabalho e da autonomia de
muitas universidades, há já vários anos, pergunto-lhe: nesta matéria, o que pretende fazer diferente do que foi
feito até agora?
O PNR fala também em aumentar o stock de conhecimento produzido no Sistema Científico e Tecnológico
Nacional e o Sr. Ministro tem-se pronunciado, por diversas vezes — e, a meu ver, bem! —, contra o uso cego
de bibliometria como indicador de medição deste stock. Como pretende, então, medir esta evolução? Como
vamos poder determinar que houve, de facto, um acréscimo ao conhecimento e ao stock produzido no Sistema
Científico e Tecnológico Nacional?
De resto, este stock só pode aumentar por uma de duas vias: ou quem está no Sistema produz mais ou,
então, haverá entrada de novos investigadores no Sistema para alargar a base de produção. Neste âmbito, em
termos concretos, pergunto como vai funcionar o novo regime de contratação de doutorados, que o Sr. Ministro
anunciou.
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
A Sr.ª Ana Rita Bessa (CDS-PP): — Pergunto se vai ser criada uma carreira nova para estas pessoas, se
terão apenas funções de investigação ou também funções de docência, porque imagino que compreenda a
relevância para quem se encontra já nestas carreiras.
Finalmente, Sr. Ministro, se me permite, gostaria de saber como é que pretende conciliar a imprevisibilidade
política do seu Ministério, pelo menos do ponto de vista orçamental, com este objetivo do reforço do investimento
em investigação e desenvolvimento, porque a prática recente revelou uma confusão entre ser cativante e cativar,
ou, dito de outra maneira, revelou uma aparente desautorização por parte do Ministério das Finanças com a
cativação de 57 milhões de euros de receitas das universidades e politécnicos, que incidiu, sobretudo, sobre
receitas próprias e fundos comunitários e que só foi revertida depois de uma vaga de protestos, muito audível,
por parte do CCISP (Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos) e do CRUP (Conselho de
Reitores das Universidades Portuguesas).
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
A Sr.ª Ana Rita Bessa (CDS-PP): — Portanto, Sr. Ministro, que garantia nos oferece agora quanto à
capacidade de realizar a sua política de inovação e os objetivos deste documento?
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Srs. Deputados, naturalmente que com exceção ao orador, peço
benevolência para que troquem impressões de forma um pouco mais silenciosa.