28 DE ABRIL DE 2017
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O Sr. Presidente: — Sr.as e Srs. Deputados, Sr.as e Srs. Funcionários, Sr.as e Srs. Jornalistas, declaro aberta
a sessão.
Eram 10 horas e 4 minutos.
Peço aos Srs. Agentes da autoridade o favor de abrirem as galerias.
Srs. Deputados, antes de darmos início à ordem de trabalhos, informo a Câmara do ofício do Sr. Presidente
da República, do seguinte sentido: «Tendo sido aprovada a Resolução que concedeu assentimento para a minha
deslocação ao Luxemburgo, em visita de Estado, entre os dias 21 e 26 do próximo mês de maio, serve a presente
para comunicar a V. Ex.ª que, no regresso, deslocar-me-ei a Madrid para a inauguração da Feira do Livro,
regressando, no entanto, no mesmo dia previsto.»
Vamos, então, passar à ordem de trabalhos, uma marcação do Bloco de Esquerda, que consta do debate
conjunto, na generalidade, dos projetos de lei n.os 496/XIII (2.ª) — Alterações ao regime jurídico-laboral e
alargamento da proteção social do trabalho por turnos e noturno (BE) e 508/XIII (2.ª) — Reforça os direitos dos
trabalhadores no regime de trabalho noturno e por turnos (PCP).
Para apresentar o projeto de lei do Bloco de Esquerda, tem a palavra o Sr. Deputado José Soeiro.
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Dois em cada 10 trabalhadores
em Portugal trabalham por turnos e a tendência é a de que sejam cada vez mais.
São mais de 725 000 pessoas que na indústria ou nos transportes públicos, na distribuição da energia ou no
sistema de saúde ao qual todos recorremos, na distribuição de água ou nas telecomunicações, na segurança
privada ou em espaços comerciais, nos aeroportos e nos hotéis, na seleção e distribuição do correio, que é feita
durante a noite, ou nos call centres das linhas de apoio disponíveis 24 horas — mais de 725 000 em Portugal
— trabalham por turnos.
Como a maioria dos trabalhadores em Portugal, muitos e muitas dos que trabalham por turnos têm salários
baixos e nem sequer estão abrangidos e protegidos por contratação coletiva. Mas, a somar a isso, a legislação
que temos não responde às suas necessidades nem reconhece as dificuldades especiais que lhes são
colocadas pelo seu trabalho, pelo ritmo imposto, pelo modo como é organizado, pelo impacto que o trabalho por
turnos tem na vida e na saúde destas pessoas.
O trabalho por turnos provoca um desgaste intenso, com consequências pesadas. Os horários destes
trabalhadores e destas trabalhadoras descoincidem com os horários dos amigos e com os horários da família.
Muitos não conseguem, sequer, planear coisas básicas, como um fim de semana para estar com os filhos.
O horário de trabalho por turnos, especialmente quando envolve a realização de trabalho noturno, representa
uma perda de tempo de vida, muitas vezes irreparável. E as consequências do ponto de vista biológico,
psicológico e social têm vindo a ser estudadas por toda a Europa, com conclusões sólidas sobre os seus efeitos.
O trabalho por turnos tem custos pesados em termos de saúde: perturbações no sono, maior fadiga, sintomas
depressivos, alterações no apetite e no sistema gastrointestinal, perturbações cardiovasculares e até, como é
bem conhecido, uma maior incidência de doenças como o cancro.
Mas no trabalho por turnos há também consequências no próprio contexto de trabalho: mais acidentes, por
vezes mortais, o cansaço como companhia permanente, vidas que são trabalhadas em contraluz.
E há, claro, o tempo que é retirado ao resto da vida que não é o trabalho. Não é nenhuma coincidência que
os trabalhadores por turnos tenham mais dificuldade em gerir os seus relacionamentos, que percam contacto
com amigos, que não consigam responder à família, que percam tanto do crescimento dos filhos.
Sr.as e Srs. Deputados, nos últimos anos temos assistido a uma tendência para a liberalização dos horários
de trabalho, que põe em causa princípios básicos dos direitos dos trabalhadores ao descanso, à possibilidade
de preverem e de organizarem a sua vida, de não serem escravizados pelo trabalho. Em cada vez mais setores
o trabalho por turnos resulta não apenas de uma necessidade social, mas de uma lógica de acumulação por
parte de alguns setores da economia e de algumas empresas. Só que esta lógica tem custos para as pessoas,
e não vale a pena olharmos para o lado.
Os trabalhadores por turnos têm sido, em grande medida, esquecidos e invisíveis. O debate que hoje aqui
fazemos é um apelo a este Parlamento para que responda perante estas pessoas.