I SÉRIE — NÚMERO 101
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O Sr. Joel Sá (PSD): — Faliram graças àquilo que os senhores fizeram, levando o País à bancarrota.
Portanto, o PS, aqui, devia ter vergonha em falar aos portugueses na situação das empresas, porque foi o
PS que deixou as empresas em bancarrota e em situação difícil.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Bruno Dias.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados: O endividamento e
as dificuldades de acesso ao financiamento por parte das micro, pequenas e médias empresas são problemas
estruturais do tecido empresarial português que se tornaram ainda mais graves com o aumento da carga fiscal
e a situação dramática que isso representou em conjugação com a profunda crise e o empobrecimento que as
políticas de direita impuseram ao País.
Mas estes problemas, desde logo, são indissociáveis da questão de fundo, que ainda voltará a debate nesta
reunião, que é a do papel da banca e do setor financeiro na economia nacional. E esse papel foi e tem sido de
enfraquecimento, de asfixia e de drenagem dos recursos da economia e das empresas deste País.
Por isso, qualquer abordagem à questão da capitalização das empresas que não se confronte com o
problema de fundo, da estratégia de atuação da banca e do seu controlo, será, inevitavelmente, uma abordagem
incompleta e com medidas paliativas.
Convenhamos que, neste âmbito, a experiência do País com estes processos — PER, SIREVE, Revitalizar,
etc. — está muito longe de ser brilhante. A própria relevância e o impacto desses processos na economia estão
muito longe de terem o brilho de que o PSD e o CDS vêm para aqui gabar-se. Aliás, têm muito pouco de que se
gabar, porque, por exemplo, a própria Segurança Social teria muito para contar sobre o impacto que muitos
desses processos tiveram para o património dos trabalhadores.
Com este regime extrajudicial de recuperação de empresas há uma preocupação que se coloca, e já aqui foi
adiantada, que é a questão da vulnerabilidade das empresas perante a banca e o setor financeiro.
Essa questão da vulnerabilidade, da fragilidade e da desigualdade da posição negocial, totalmente à mercê
da banca que tem esses créditos, é uma preocupação que vem de trás e que se mantém nesta discussão. Com
este regime extrajudicial de recuperação de empresas é proposta a nova figura e o novo estatuto do mediador
de recuperação, que era, desde logo, uma das medidas apontadas no programa.
Quanto a esta proposta, é importante sublinhar que a intervenção de profissionais de gestão bem habilitados,
especializados, pode ser decisiva para o êxito dos planos aprovados nas negociações entre o devedor e alguns
dos credores.
Importa, naturalmente, que estejam criadas as condições para que estes profissionais respondam,
efetivamente, com disponibilidade e interesse a estas soluções, e será importante, por isso, garantir as melhores
soluções na regulamentação e aplicação deste regime, desde a formação específica até às exigências e
condições de atividade, sem esquecer uma questão muito importante que é a das condições em que o IAPMEI
poderá dar resposta às particulares responsabilidades que vai assumir com a gestão de todo o processo nesta
matéria dos mediadores, e, naturalmente, estamos a falar dos meios e condições de trabalho do IAPMEI, a
começar até pela estabilidade dos vínculos.
Quanto à proposta de lei sobre o regime jurídico de conversão de créditos em capital já foi aqui colocada a
questão dos casos em que o próprio Estado é credor das empresas e o papel que pode ou não assumir nesses
processos.
Mas há uma preocupação de fundo que destacamos nesta matéria, que é a de que não se transforme um
regime destinado à recuperação de empresas e à sua viabilização numa outra coisa que venha perverter esse
objetivo e dar lugar a uma espécie de regime jurídico dos fundos abutres. Isto é, se uma empresa endividada e
com capitais próprios negativos for confrontada com alguém que tenha adquirido os créditos, se a resposta às
dificuldades das empresas é possibilitar a esse alguém, a determinadas entidades que venham a adquirir os
créditos não subordinados, ainda por cima a preço de amigo, aos credores dessas empresas, concentrando a
maioria desses créditos para dar andamento a processos…