I SÉRIE — NÚMERO 75
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O Sr. António Costa Silva (PSD): — Esta questão do início dos fundos, da lógica da programação nem
sempre é uma verdade.
Protestos do PS.
Mas vou responder diretamente àquilo que o Sr. Deputado Bruno Coimbra,…
O Sr. Carlos César (PS): — Pedro Coimbra!
O Sr. António Costa Silva (PSD): — Peço desculpa, respondo diretamente à questão que o Deputado Pedro
Coimbra nos colocou. De facto, foi o Deputado Bruno Coimbra que esteve muito bem.
Efetivamente, sobre a questão dos fundos, há uma transferência encapotada, há um desvio encapotado!
O Sr. Carlos Pereira (PS): — Onde?!
O Sr. António Costa Silva (PSD): — Dou um exemplo concreto: no âmbito do programa PO SEUR
(Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso dos Recursos), quando estamos a alocar verbas
do metro de Lisboa, retirando-as de outras prioridades de investimento, que poderiam ir para a convergência,
estamos a desviar fundos à convergência. Essas verbas podiam, por exemplo, ser aplicadas no ciclo urbano da
água, nos transportes do interior, e não são. Trata-se, pois, de um desvio que os senhores estão a fazer! Tal
como acontece nos Programas Operacionais Regionais.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado João
Dias.
O Sr. João Dias (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Porque é que será que ainda ninguém
falou da política agrícola comum (PAC)? Porque será?
Quando falamos da PAC e das suas diversas componentes, dimensões e pilares, será sempre necessário
saber quais têm sido os seus impactos na política agrícola nacional.
Se é preciso reprogramar, é preciso assumir o que falhou e corrigi-lo, até porque a última reforma da PAC
falhou uma vez mais: falhou na estabilização dos mercados, sendo disso exemplo as graves crises do leite e
dos suínos; falhou na melhoria dos rendimentos dos pequenos e médios agricultores; falhou no objetivo de uma
política agrícola mais amiga do ambiente — o «esverdeamento» só trouxe burocracia e os ganhos ambientais
são nulos, uma vez que se apoia cada vez mais a intensificação da produção; falhou ao atribuir ajudas só a
quem produz — o agricultor ativo é uma farsa; falhou na melhoria da distribuição das ajudas — 20% dos
agricultores recebem 80% de todas as ajudas diretas; falhou na simplificação — o sistema é de tal modo
complexo que constitui mais uma forma de excluir os pequenos e médios agricultores.
Para o PCP, Srs. Deputados, a valorização da agricultura familiar e das pequenas e médias explorações é
um imperativo nacional, pois são elas que, de facto, produzem de forma sustentável os alimentos de qualidade,
quem preserva o ambiente e quem dá vida às nossas terras do interior. É este tipo de agricultura que deve ser
apoiado e desenvolvido.
A questão, Srs. Deputados, é a de saber se o PS, o PSD e o CDS estão a pensar nesta reprogramação, que
é necessária, porque uns e outros sempre tiveram a oportunidade de a fazer e não fizeram. Há, de facto, muito
trabalho a fazer.
Para o PCP, é fundamental a reintrodução de medidas de controlo dos mercados que fomentem a produção
em todos os países e regiões. A distribuição do valor ao longo da fileira tem de ser invertida. O «quero, posso e
mando» da grande distribuição tem de acabar. As ajudas têm de ser modeladas, plafonadas e atribuídas a quem
produz. Não é aceitável que se possa pagar ajudas a um agricultor sem que este tenha produzido 1 g de
alimento.
Mas isto só será possível com uma rutura com a atual política de direita.