30 DE MAIO DE 2018
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clinicamente reconhecida como irreversível e cujo avançado estado de desenvolvimento preveja a morte como
um desfecho próximo no tempo.
Num Estado de direito deve ser permitido a cada um de nós, tanto nos aspetos mais banais como nas áreas
mais íntimas da existência humana, o poder de conformar a nossa vida de acordo com as nossas próprias
convicções.
Uma vida que se vive por inteiro inclui por inteiro o seu fim. Impedir que se tenha uma palavra a dizer sobre
como não se quer que a vida termine é uma restrição do direito pleno à vida. Atualmente, é exatamente isto que
acontece: os doentes veem-se impedidos de decidir e veem a sua autonomia condicionada pela existência de
restrições legais.
O Estado impõe a todos nós uma mundivisão única, paternalista e autoritária de alguns. Uma sociedade
plural e evoluída respeita o primado da liberdade, da autonomia e da autodeterminação durante toda a vida e
até ao último momento, especialmente no último momento, quando, de acordo com a grelha de valores e
convicções de cada um, essa vida seja vazia de qualquer sentido e considerada uma indignidade. Falhar-nos a
autonomia no momento do fim da vida é trair-nos a vida inteira.
Esta autodeterminação em nada se incompatibiliza com a Constituição. A nossa Constituição determina que
a vida humana é inviolável, mas também inscreve, ao mesmo tempo, no elenco dos direitos fundamentais, o
livre desenvolvimento da personalidade enquanto direito a fazer-se o plano de vida que se deseja, bem como
as liberdades de consciência e de pensamento e da dignidade da pessoa humana.
Sabemos que a decisão sobre a morte assistida é definitiva, com efeitos irreversíveis e fatais. Sim, sabemos
que comporta riscos e pode promover abusos. Por isso, as propostas em debate estão fundadas no maior rigor
e garantem a formalidade e a segurança dos processos através de um enorme escrutínio e regulamentação.
Mas a complexidade de uma matéria não pode inibir os Deputados da sua responsabilidade em decidir e
legislar. O medo, a chantagem e o catastrofismo populista não podem impedir-nos de avançar no domínio da
consagração de direitos, de alargar liberdades e de salvaguardar os mais vulneráveis.
É desumano não despenalizar a morte assistida, é mesmo continuar a atirar para situações de
clandestinidade doentes em grande sofrimento e com resultados incertos que garantidamente não servem os
seus interesses nem os dos seus familiares.
Não despenalizar a eutanásia é aceitar dogmaticamente que nos digam como devemos viver e morrer, é
obedecer cegamente a quem decide por nós e é validarmos uma sociedade sedada e em coma, maquilhada de
moral e de bons costumes.
Defendemos uma sociedade plural, aberta e evoluída, onde todos possamos exercer, autodeterminados e
livres, os nossos direitos e viver de acordo com as nossas convicções e mundivisões.
Despenalizar a morte medicamente assistida é defender um direito humano fundamental que está por
cumprir, é reconhecer a última liberdade individual e poder ser ajudado no momento mais difícil da sua vida.
O que aqui hoje iremos votar é a despenalização da liberdade. Repito: o que ao final da tarde iremos decidir
é se queremos que um ato de pura bondade continue ou não a ser um crime punível com pena de prisão.
Aplausos do BE e de Deputados do PS.
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado André Silva, inscreveram-se, para pedir esclarecimentos, a Sr.ª Deputada
Rubina Berardo, do PSD, e o Sr. Deputado Bacelar de Vasconcelos, do PS.
Tem, então, a palavra a Sr.ª Deputada Rubina Berardo.
A Sr.ª RubinaBerardo (PSD): — Sr. Presidente, Sr. Deputado André Silva, cumprimento-o pela
apresentação do seu projeto de lei. Democracia é isto: a apresentação daquilo com que se compromete com o
eleitorado.
O PAN considera, como se pode ler na exposição de motivos do seu projeto de lei, que esta é a vontade da
maioria da sociedade. Pergunto, então, o seguinte: se assim acha, por que não o referiu claramente no seu
manifesto eleitoral de 2015?
É verdade que foi o único partido, neste Hemiciclo, que referiu a palavra «eutanásia» no seu manifestou
eleitoral, mas convém dizer o que lá estava escrito quando foi a votos. O PAN, na medida 77 do seu manifesto,
propõe-se criar «fóruns de discussão e abrir o debate sobre a legalização da eutanásia em Portugal».