I SÉRIE — NÚMERO 42
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Com a oposição do PSD, do CDS e de Deputados independentes sociais-democratas, que então declararam
lamentar esta doença infantil da nossa democracia, foram os votos do PS e do PCP que permitiram aprovar, na
Assembleia da República, a Lei do SNS.
Aplausos do PS.
Com a oposição do PS e do PCP, foram o PSD e o CDS que, em 1990, aprovaram uma lei de bases que o
então Ministro da Saúde, Dr. Arlindo de Carvalho, apresentou, referindo ter o intuito específico de «revogar esse
verdadeiro subproduto de um falso romantismo iluminado, que é a Lei do Dr. Arnaut», como se lhe referiu.
A Sr.ª Maria Antónia de Almeida Santos (PS): — Bem lembrado!
A Sr. Ministra da Saúde: — Estou certa, Srs. Deputados, Sr.as Deputadas, que esta Câmara saberá, agora,
colocar-se do lado certo da história!
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Sr. Ministra, inscreveram-se cinco Deputados para lhe pedirem esclarecimentos.
Como pretende responder?
A Sr. Ministra da Saúde: — Sr. Presidente, vou responder aos cinco em conjunto.
O Sr. Presidente: — Tem, então, a palavra, para um pedido de esclarecimento, a Sr.ª Deputada Paula
Santos, do Grupo Parlamentar do PCP.
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Sr. Presidente, Sr.ª Ministra, o que está em confronto neste debate sobre a
Lei de Bases da Saúde é se se avança por um caminho de reforço do Serviço Nacional de Saúde ou se se
aprofunda o caminho de favorecimento dos grandes grupos privados na área da saúde.
A questão fundamental é saber se a opção passa pela defesa do caráter universal, geral, gratuito para todos
do Serviço Nacional de Saúde, dotando-o de meios que deem resposta às necessidades de prestação de
cuidados de saúde com qualidade a que os utentes têm direito ou se a opção passa pela progressiva
transferência da prestação de cuidados para os grupos privados, tornando a saúde um negócio altamente
lucrativo.
Para assegurar o direito constitucional à saúde, não é indiferente quem presta os cuidados de saúde. E a
grande diferença encontra-se no facto de o Serviço Nacional de Saúde tratar todos por igual e ter como objetivo
a saúde. Para os grupos privados, contrariamente ao serviço público, o que importa não é saúde, é a doença e
a prioridade não são os cuidados de saúde, mas, sim, a maximização do lucro.
Por isso, Sr.ª Ministra, é importante que fique clarificado neste debate o que defende o Governo.
A Sr.ª Ministra afirmou, no final da sua intervenção, quem é que está do lado certo. Por isso, pergunto-lhe se
o Governo vai estar do lado certo, a defender e reforçar o Serviço Nacional de Saúde e a gestão pública, dando
assim concretização ao direito constitucional à saúde ou se quer manter e aumentar as PPP (parcerias público-
privadas), transferir serviços e cuidados para os grupos privados, que olham para a saúde somente como mais
uma oportunidade de negócio.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, também para um pedido de esclarecimento, o Sr. Deputado Moisés
Ferreira, do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda.
O Sr. Moisés Ferreira (BE): — Sr. Presidente, Sr.ª Ministra, não há dúvida de que é preciso uma nova lei de
bases da saúde, que, ao contrário da atual, reforce o SNS, garanta que os seus recursos são efetivamente