8 DE MARÇO DE 2019
3
brutalidade deste flagelo e a necessidade de agir por todas as pessoas, muito maioritariamente mulheres, que
continuam a ser atacadas, espancadas, humilhadas, pressionadas, violentadas por agressores em contexto
familiar. Uma média de 30 denúncias diárias demonstra a dimensão do problema e bem sabemos a imensidão
de casos que nem são denunciados.
O problema da violência doméstica não tem estado, sobretudo nos últimos anos, fora da agenda política.
Têm sido aprovadas medidas legislativas, administrativas e de planeamento que visam combater esta
barbaridade, mas a verdade é que os crimes de violência doméstica continuam a vitimizar um conjunto muito
significativo de mulheres. Verifica-se, então, que uma coisa é o que consta da lei e outra coisa é a criação de
condições no terreno para que as respostas sejam efetivas e eficazes.
Os Verdes reafirmam que devemos proclamar e praticar tolerância zero em relação à violência doméstica.
Esse objetivo leva-nos a não aceitar a ideia de que se trata de uma questão de mentalidades que pode levar
muitas gerações a erradicar e que pouco mais há a fazer para além do que está feito.
Generalizar e cimentar a perceção da anormalidade, da inaceitabilidade, do repúdio por estes fenómenos é
um dever do qual os poderes públicos não se podem demitir. Por isso, impõe-se agir de forma continuada pela
formação e pela sensibilização da população em geral.
As respostas para se gerarem condições de afastamento do agressor e de apoio à vítima, na garantia da sua
dimensão de segurança, proteção e autonomia, são outra componente que deve ser continuadamente reforçada
pelos poderes públicos.
Por outro lado, é importante ter consciência de que, se falharem aqueles agentes de quem se espera a mão
mais segura para materializar as condições para o fim de um caso de violência doméstica, é todo o sistema que
deixa de produzir os efeitos necessários.
Por isso, é normal e legítimo que às forças de segurança e aos magistrados deste País — e temo-los muito
competentes — se exija sensibilidade para o problema, tempos de ação adequados e decisões eficazes.
O afastamento do juiz Neto de Moura do julgamento de crimes de violência doméstica é um exemplo de
como a consciência da sociedade ganha força para exigir que o sistema se credibilize e para que não se
continuem, em certos casos, a desrespeitar as vítimas e a suavizar a responsabilidade dos agressores.
Tolerância zero à violência doméstica é uma responsabilidade de toda a sociedade e exige ação e medidas
continuadas dos poderes públicos.
Aplausos de Os Verdes, do PCP, do Deputado do PS Alexandre Quintanilha e do Deputado não inscrito
Paulo Trigo Pereira.
O Sr. Presidente: — Em nome do Grupo Parlamentar do PCP, tem a palavra a Sr.ª Deputada Rita Rato.
A Sr.ª RitaRato (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados: A violência doméstica
é um crime hediondo, um flagelo social, uma chocante violação dos direitos humanos. Tantas vezes representa
anos, décadas e até uma vida inteira de terror psicológico, sofrimento profundo e de desumanos atos de
brutalidade sobre mulheres e crianças.
Em 1989, por proposta do PCP, foi discutida a primeira iniciativa legislativa sobre proteção de mulheres
vítimas de violência doméstica. Aprovada a 8 de março de 1991, foi apenas a partir de então que os Governos
adotaram medidas em relação à proteção das mulheres vítimas de violência.
Passados 28 anos, e não obstante os passos dados por sucessivos Governos e a suposta centralidade do
debate, as mulheres continuam a ser vítimas de violência sem garantias de uma efetiva proteção.
Desde o início do ano, em menos de três meses, foram assassinadas 13 mulheres e uma criança, quase
metade das mortes de mulheres de todo o ano passado.
Passados 28 anos, persistem, em Portugal, fenómenos estruturais de violência sobre as mulheres que
exigem medidas específicas, articuladas e integradas de prevenção deste fenómeno hediondo, de proteção das
vítimas e de erradicação deste flagelo.
É urgente reforçar os serviços públicos com os meios materiais e humanos adequados e com a formação
necessária no SNS (Serviço Nacional de Saúde), na segurança social, nas forças e serviços de segurança, nas
autoridades judiciárias.