I SÉRIE — NÚMERO 90
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Poder-se-ia dizer «bom, é uma maçã podre» e «isso é apenas um caso entre tudo o que são parcerias
público-privadas», mas não é assim. Em Vila Franca de Xira, sabemos de utentes internados em refeitórios, em
casas de banho, e não, não foi excecionalmente, não foi apenas durante um dia em que algo de muito
extraordinário aconteceu.
Aconteceu durante anos, dentro e fora do período da gripe, a centenas de utentes, num hospital de parceria
público-privada, gerido pelo Grupo Mello, que custa mais de 80 milhões de euros por ano ao Serviço Nacional
de Saúde.
A questão é óbvia: o Governo tem até amanhã, dia 31 de maio, para dizer o que é que vai fazer com esta
parceria público-privada, se vai prorrogá-la, se vai renová-la, se vai lançar um novo contrato… O que é que vai
fazer? Esta é a questão óbvia, porque, certamente, a Sr.ª Ministra já sabe qual é a resposta que vai dar ao
Grupo Mello e, portanto, era bom que a desse também aqui, hoje.
A Sr.ª Ana Rita Bessa (CDS-PP): — Amanhã de manhã!
O Sr. Moisés Ferreira (BE): — A resposta certa para o Serviço Nacional de Saúde era a de que esta parceria
público-privada seria para acabar.
Há ainda outros exemplos, como o da parceria público-privada de Loures. Um diretor clínico desta parceria
público-privada, gerida pela Luz Saúde, foi nomeado diretor clínico do Hospital da Luz, certamente, de modo
conveniente. Como era um bocado evidente demais acumular as duas direções clínicas, a parceria público-
privada de Loures inventou um lugarzinho, não de diretor clínico, mas de vice-diretor clínico, para esta pessoa
e, portanto, ela acumulou, igualmente, as duas direções clínicas, na parceria público-privada de Loures e no
Hospital da Luz, ambos geridos pela Luz Saúde. Esta promiscuidade é, certamente, inaceitável. É inaceitável!
Pergunto: o que vai fazer perante estes dados e esta promiscuidade?
Mais do que estes casos em concreto, aquilo que se constata é que o problema das parcerias público-
privadas não é uma questão de defeito de uma ou de outra, é mesmo feitio. Não é defeito, é feitio! As parcerias
público-privadas são assim: atentam contra o interesse público,…
O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Muito bem!
O Sr. Moisés Ferreira (BE): — … atentam contra o Serviço Nacional de Saúde, são um problema que é
preciso expurgar do Serviço Nacional de Saúde!
Vozes do BE: — Muito bem!
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Atenção ao tempo, Sr. Deputado.
O Sr. Moisés Ferreira (BE): — Termino, Sr. Presidente.
Tínhamos chegado a um acordo que previa, exatamente, o caminho da defesa do Serviço Nacional de Saúde
sem parcerias público-privadas. Houve recuos, da parte do Governo e do Partido Socialista, que foram públicos
e notados por todos os defensores do Serviço Nacional de Saúde, mas ainda há tempo, porque não foram
votadas, na especialidade, matérias importantes, nomeadamente sobre as parcerias público-privadas.
A questão que se coloca é a de saber se, então, o Governo e o Partido Socialista estão disponíveis para
voltar a esse caminho da defesa do Serviço Nacional de Saúde…
O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Muito bem!
O Sr. Moisés Ferreira (BE): — … e a pôr fim a esta pouca-vergonha que são as parcerias público-privadas
na saúde e o negócio privado feito à conta do orçamento do Serviço Nacional de Saúde.
Aplausos do BE.