31 DE MAIO DE 2019
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Como é do conhecimento de todos, a avaliação do modelo de parceria público-privada na saúde, realizada,
de resto, pela própria Entidade Reguladora da Saúde, que também fez estas deliberações que hoje têm
provocado tantas observações nesta Casa, não foi conclusiva relativamente à mais-valia ou à menor valia
inequívoca do modelo de parceria público-privada. Referia, até, que, quando comparada à gestão pública com
a gestão dos parceiros privados num momento particularmente difícil da nossa vida coletiva, seria expectável
que se encontrassem mais vantagens na gestão privada e que não foi possível identificá-las concretamente.
Dito isto, aquilo que, como sabem, este Governo decidiu foi, relativamente a cada uma das parcerias público-
privadas da saúde, cujo prazo de decisão de renovação ou de não renovação se aproximava, realizar os estudos
técnicos adequados e, em função dos mesmos, tomar uma decisão. Foi assim em Cascais, foi assim em Braga
e será também assim, como não pode deixar de ser, em Vila Franca de Xira e em Loures.
Sr.as Deputadas e Srs. Deputados, aquilo que afirmamos é inequívoco: a nossa preferência é pela gestão
pública. Foi por isso que ainda hoje, depois da opção pela internalização da parceria público-privada de Braga,
resolvemos, em Conselho de Ministros, a designação de parte do conselho de administração desta nova
entidade. Exatamente porque honramos este compromisso que continuaremos a dizer que a nossa prioridade
são os doentes e, como tal, em qualquer modelo de gestão, seja ele público ou privado, doentes do Serviço
Nacional de Saúde, diria mesmo mais, doentes do Serviço Nacional de Saúde não podem ser internados em
condições desumanas, em condições indignas, em condições que não podem merecer, da nossa parte, qualquer
complacência.
Foi por isso mesmo que, relativamente à parceria público-privada de Vila Franca de Xira, fizemos a opção
de avaliar já o que determinou estas notícias que foram tornadas públicas, na sequência das deliberações da
Entidade Reguladora da Saúde. É por isso que estamos a trabalhar com a respetiva ARS (Administração
Regional de Saúde) para perceber aquilo que também, a nós, nos perguntam se se tratou de uma situação
excecional, temporária, ou se foi uma situação mais permanente fundada, por exemplo, numa menor adequação
do próprio contrato de gestão.
Deixem-me agora referir-me às notícias que vieram a público relativamente à parceria público-privada de
Cascais e que, são, obviamente, uma manipulação de indicadores, uma aparente, uma indiciada manipulação
de indicadores, que é inaceitável e que em qualquer entidade pública ou privada é insuportável e poderá
constituir, até, um crime e, portanto, tem de ter uma avaliação em sede própria, independentemente daquilo que
possa significar na nossa relação com o parceiro ou na nossa avaliação mais profunda deste modelo.
Refiro o mesmo relativamente ao tema da promiscuidade, seja ela no setor público ou no setor privado, da
acumulação de funções que seja, porventura, considerada irregular e das inevitáveis consequências.
Portanto, Sr.as e Srs. Deputados, volto a afirmar que a nossa preferência, relativamente a este tema, é clara,
ela passa pela gestão pública, sempre o afirmámos, nunca recuámos, e, dentro desta nossa preferência, aquilo
que temos de garantir é que nenhum hospital que, neste momento, esteja a ser gerido num outro modelo, é
internalizado ou tem uma opção semelhante, condicionando a eventual qualidade dos cuidados que estejam a
ser prestados. Portanto, não podemos assumir, de facto, uma solução que passe por um desguarnecer, de
alguma forma, da oferta de cuidados de saúde.
Abordo, também, um outro tema que foi aqui suscitado, o do investimento ou a falta dele no Serviço Nacional
de Saúde.
Os recursos humanos que contratámos para o Serviço Nacional de Saúde estão à vista de todos, constam
dos vários sites de informação onde as várias entidades registam as suas contratações, o seu número de
efetivos… Mas há mais do que esse número de efetivos: há, de facto, um melhor trabalho no SNS que, ainda
que não esteja inteiramente à vista de todos aqueles que nele trabalham, é sentido no íntimo de cada um, na
medida em que foi possível repor horários de trabalho, foi possível repor majorações por trabalho extraordinário,
foi possível retomar a progressão nas carreiras e foi possível já rever um conjunto de carreiras.
Portanto, é nessa linha que continuaremos a trabalhar, pese embora a circunstância de sabermos que em
muitos casos não nos é possível avançar tão depressa quanto os profissionais desejariam naquilo que é a
dignificação do trabalho do SNS. Mas temos também de continuar a insistir pela melhoria da produtividade do
SNS e pela melhoria do desempenho das nossas instituições, dos nossos profissionais, e temos a certeza de
poder contar com eles para isso.
Queria, ainda, deixar duas notas.