I SÉRIE — NÚMERO 96
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A questão da gestão privada de serviços públicos, da privatização de serviços públicos, dividiu esquerda e
direita na discussão da Lei de Bases da Educação, na discussão da Lei de Bases da Saúde e desde a discussão
da Constituição. Em todas essas discussões houve uma linha muito clara que separou este Parlamento entre
esquerda e direita.
Portanto, a pergunta que fazemos agora é se o Partido Socialista vai permitir que seja a manutenção de três
PPP, que ainda por cima prestam um péssimo serviço à população, a impedir que se consiga este consenso e
que se faça aquilo que nunca aconteceu, ou seja, que o Partido Socialista aprove uma Lei de Bases da Saúde
com a direita. É a possibilidade de PPP futuras que vai fazer com que aconteça aquilo que nunca aconteceu,
isto é, ir colocar o Partido Socialista a aprovar uma lei de bases com a direita para defender os interesses da
gestão privada do SNS?
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Passámos das taxas moderadoras para a Lei de Bases?!
A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — Nós bem sabemos como o PSD e o CDS ficam nervosos com esta
discussão. Perante esta discussão, já não querem saber da discussão das taxas moderadoras,…
Vozes do PSD e do CDS-PP: — Ah!…
A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — … já não lhes interessa se são gratuitas ou não e ficam sempre nervosos
quando se coloca a possibilidade de danificar os interesses do lucro privado à custa do SNS.
A Sr.ª Isabel Galriça Neto (CDS-PP): — É preciso ter lata!
A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — Depois deste consenso sobre a defesa do direito à saúde e o fim das taxas
moderadoras, que esperamos conseguir hoje — estamos certos de que o iremos fazer —, a pergunta que se
impõe é a seguinte: se este consenso foi possível, apesar da direita, porque é que não é possível um acordo
sobre a lei de bases que defenda o SNS?
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Jamila Madeira.
A Sr.ª Jamila Madeira (PS): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada, antes de mais, agradeço a sua pergunta. Julgo
que, numa parte da minha intervenção, referi que o Partido Socialista é o partido que coloca as questões em
termos de responsabilidade, de consenso e de preservação do denominador comum, procurando avançar,
tentando preservar o denominador comum. Foi isso que nos levou a que, no quadro da lei de bases, com 28
bases e cerca de 85 alíneas, tivéssemos aprovado tudo menos uma alínea de uma das bases. Resta saber o
resultado dessa votação. Isto aconteceu porque preservámos o denominador comum, porque trabalhámos para
o resultado, porque trabalhámos para conseguir o essencial, que é garantir que não cabe ao Estado o apoio ao
desenvolvimento dos privados, garantir que não cabe ao Estado a mobilização dos profissionais do público para
os privados.
O Sr. João Paulo Correia (PS): — Muito bem!
A Sr.ª Jamila Madeira (PS): — É essencial acabar com a Lei de Bases da Saúde de 1990. O nosso grande
objetivo é consolidar essa mensagem.
Aplausos do PS.
Esse é o nosso denominador comum, não é outro!
Temos a noção de que em emergência, em excecionalidade, em necessidade fundamentada, o País pode
precisar e não devemos cristalizar uma mensagem na Lei de Bases para, a pretexto disso, outros virem abrir