I SÉRIE — NÚMERO 97
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A descarbonização tem de jogar a par da valorização do território e da consolidação de um modelo de
economia circular.
Valorizar o território significa gerir as áreas protegidas em conjunto com as autarquias, organizações não
governamentais da área ambiental e instituições de ensino superior, pois as atividades humanas podem também
ser geradoras de biodiversidade. Seremos o primeiro Governo que, em Portugal, irá remunerar os serviços dos
ecossistemas, de maneira a suportar as mudanças necessárias na paisagem.
Valorizar o território significa também cumprir o Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território
(PNPOT), recentemente aprovado na Assembleia da República, que considera o capital natural um bem tangível
e um conjunto de recursos que têm de ser colocados ao dispor do bem comum.
Valorizar o território traduz-se numa política concreta para os territórios de baixa densidade.
Para gerar bem-estar, a economia tem de crescer; tem de crescer em Portugal e tem de crescer em todo o
mundo. Mas não pode crescer, nem em Portugal nem no mundo, indo para além dos limites naturais. A nossa
economia tem, por isso, de mudar para encontrar um modelo racional de suficiência.
Portugal já esgotou, nesta data, os seus recursos para o ano de 2019 e países mais desenvolvidos que o
nosso, como a Noruega ou a Suécia, ultrapassaram esses limites anuais ainda mais cedo do que nós. Neste
contexto específico, não somos um País desenvolvido, somos um País em vias de desenvolvimento, pois o que
nos é pedido corresponde a um enorme esforço e a uma não menor ambição.
Portugal tem sido exemplo desta transformação e o setor público tem sido liderante. Há meses que banimos
o uso de plástico descartável no Estado e iremos antecipar em um ano a diretiva que os proíbe para o mercado
em geral. Presentemente, 50% dos carros comprados para o Estado ou para as empresas públicas têm de ser
elétricos.
Estamos a cumprir e distinguimo-nos pelo trabalho feito. Comparativamente a 2005, reduzimos as nossas
emissões em 22% e aumentámos a incorporação de energia renovável em 26%.
O Sr. Presidente: — Sr. Primeiro-Ministro, já ultrapassou o tempo de que dispunha. Peço-lhe que conclua.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Vou já concluir, Sr. Presidente.
Em 2018, reduzimos o triplo das emissões, quando comparados com a média da União Europeia, mas isto
só nos pode impor a responsabilidade e a determinação de irmos ainda mais longe, incorporando a energia
renovável em 32%, em 2020, e em 47%, em 2030.
Para terminar, Sr. Presidente, permita-me que recupere as palavras do Secretário-Geral das Nações Unidas,
António Guterres: no combate às alterações climáticas, não há nada a perder em agir, há tudo a ganhar. É isso
que estamos a fazer, é isso que temos de continuar a fazer, cada vez mais com maior determinação.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Sr.as e Srs. Deputados, vamos passar à fase de perguntas.
Em primeiro lugar, tem a palavra o Sr. Deputado Fernando Negrão, do Grupo Parlamentar do PSD.
O Sr. Fernando Negrão (PSD): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, começo por me referir à tragédia de
Pedrógão Grande, uma vez que ontem foram assinalados dois anos da sua ocorrência. Foi uma tragédia que
roubou as vidas de dezenas de pessoas, hipotecou centenas de famílias e reduziu a pó as aspirações de
milhares de pessoas. O Estado falhou em toda a linha na proteção e no socorro a estas pessoas e continua a
falhar na reconstrução das suas vidas.
Quatro meses depois, a tragédia repetiu-se, as falhas repetiram-se e o número de vítimas cresceu. Num ano,
116 pessoas perderam a vida vítimas de incêndios em Portugal. Em 15 e 16 de outubro, estima-se que,
aproximadamente, 1500 habitações, em 36 concelhos, tenham sofrido danos — 1500 habitações!
O então Ministro Pedro Marques, agora Eurodeputado socialista, presidiu a sucessivas cerimónias de
consignação de reconstrução de casas, anunciando a conclusão da totalidade da reconstrução das casas, no
máximo até ao final de 2018. Mais uma vez, o Governo mentiu aos portugueses!
Ao contrário do que tem sido dito, não são seis ou sete casas que estão por construir. No último balanço que
a CCDR-Centro (Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro) fez, em abril de 2019 ainda