9 DE OUTUBRO DE 2020
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O Sr. Cristóvão Norte (PSD): — Muito bem!
A Sr.ª Ofélia Ramos (PSD): — Em 2020, todos os indicadores apontam para uma brutal recessão, com a queda do PIB (produto interno bruto) na ordem dos 9,3%, para um défice de 7,2%, para uma dívida pública
que está a atingir valores históricos, superiores àqueles que tivemos em 2014, para uma queda da
produtividade de 3,4%, a par de uma explosão do desemprego, com regiões, como o Algarve, que registam
aumentos de desemprego da ordem dos 200%.
O Sr. Cristóvão Norte (PSD): — Muito bem!
A Sr.ª Ofélia Ramos (PSD): — E as perspetivas para 2021 não são melhores. Quem o diz não sou eu. Cito o Ministro das Finanças, João Leão, quando afirma que «o pior ainda está
para vir».
O Sr. Cristóvão Norte (PSD): — Bem lembrado!
A Sr.ª Ofélia Ramos (PSD): — Na verdade, a falta de coerência nas políticas deste Governo é por demais evidente e o aumento do salário mínimo nacional é um flagrante exemplo dessa incoerência. Reparem: por um
lado, o Governo reconhece as sérias dificuldades que as empresas enfrentam, e disso são prova as medidas
que têm vindo a ser aprovadas para apoiar as empresas e preservar os postos de trabalho, mas, por outro
lado, aumenta o salário mínimo nacional, agravando os custos salariais das empresas, que diz querer salvar.
O Sr. Adão Silva (PSD): — Muito bem!
A Sr.ª Ofélia Ramos (PSD): — Mas concretizo ainda mais: com o layoff o Governo reduz os custos salariais e reduz os salários dos trabalhadores, e, ao mesmo tempo, propõe o aumento do salário mínimo
nacional, aumentando os custos salariais das empresas e aumentando os salários dos trabalhadores — dá por
um lado e tira por outro.
O Sr. Cristóvão Norte (PSD): — Não bate a bota com a perdigota!
A Sr.ª Ofélia Ramos (PSD): — Isto parece o jogo do dá e tira. Ou seja, o País endivida-se para preservar as empresas e manter os postos de trabalho e depois, sem qualquer razoabilidade, o Governo impõe o
aumento dos custos a essas mesmas empresas, fomentando o desemprego, as falências e a perda de
competitividade da nossa economia.
Srs. Deputados, o aumento do salário mínimo convoca-nos para um exercício responsável, fundado no
interesse coletivo e não nos interesses partidários. Como se pode obrigar as empresas a aumentar os seus
custos salariais quando a maioria dessas empresas enfrentam quebras significativas de faturação, com
incertas perspetivas de futuro e de recuperação?
Hoje, muitas empresas não têm liquidação para cumprir com as suas obrigações perante os trabalhadores,
perante o Estado. Para sobreviver, mais de 91 mil empresas tiveram de recorrer ao layoff simplificado, e, em
consequência, mais de um milhão de trabalhadores viram os seus salários reduzidos.
O Sr. Cristóvão Norte (PSD): — Muito bem!
A Sr.ª Ofélia Ramos (PSD): — Uma empresa que emprega, apenas ou maioritariamente, trabalhadores remunerados com o salário mínimo e tenha, até agora, conseguido manter os postos de trabalho, está agora
na iminência de levar a machadada final. Sim, está na iminência de levar a machadada final!
São vários os estudos que se debruçam sobre os efeitos negativos do aumento do salário mínimo no
emprego e a maioria conclui que esse aumento gera desemprego quando desacompanhado de aumentos de
produtividade, principalmente de determinados grupos de trabalhadores, os mais vulneráveis, os mais jovens,
os menos qualificados e as mulheres. Mas não são só os trabalhadores a receber o salário mínimo que são