23 DE ABRIL DE 2021
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recurso e que atribua competências claras à autoridade de fiscalização e supervisão, a IGAC (Inspeção-Geral
das Atividades Culturais).
Sr.as e Srs. Deputados: Rejeitamos desde já a visão estatizante e coletivista do PCP, contrária ao
enquadramento nacional e europeu da proteção dos direitos de autor, uma visão que restringe os direitos de
autor e que até impõe um custo que, mais cedo ou mais tarde, todos sabemos, acabará por ser repercutido no
consumidor final.
Não acompanhamos e vamos votar contra esta iniciativa do PCP por se tratar de uma iniciativa retirada do
baú, até, de certa forma, requentada e que é apresentada pela quarta vez ao Parlamento, além de criar um
inaceitável imposto de acesso à internet, com o qual não concordamos.
Sr.as e Srs. Deputados: A iniciativa do PS, por outro lado, além de não ser inovadora e até acolher soluções
e mecanismos que já se encontram em vigor, carece de melhoramentos e alterações que a enriqueçam.
Lembramos, por exemplo, que os bloqueios a conteúdos de pirataria já se encontram previstos desde 2004
e que a IGAC já tem competências em matéria de fiscalização e bloqueio de acesso a sites que se dediquem à
distribuição de cópias ilegais de músicas, vídeos, livros ou jornais.
Chamamos ainda a atenção para as limitações excessivas desta iniciativa, que estão identificadas na posição
conjunta da API (Associação Portuguesa de Imprensa), da AUDIOGEST (Associação para a Gestão e
Distribuição de Direitos), da GEDIPE (Associação para a Gestão Coletiva de Direitos de Autor e de Produtores
Cinematográficos e Audiovisuais), da MAPINET (Movimento Cívico Anti-Pirataria na Internet) e da VISAPRESS
(Gestão de Conteúdos dos Media), bem como para as sugestões de alteração do texto legislativo, propostas
pela APRITEL (Associação dos Operadores de Comunicações Eletrónicas), pela IGAC e pelo Conselho Superior
da Magistratura.
A proteção constitucional do direito de autor exige uma regulação específica da matéria em contexto digital.
A solução apresentada pelo Partido Socialista carece, por isso, Sr.as e Srs. Deputados, de aperfeiçoamento,
sobretudo após serem ouvidas as entidades do setor.
A fiscalização da disseminação não autorizada de conteúdos protegidos por direitos de autor na internet
necessita de ser reforçada, mas também precisa de mais meios humanos e técnicos e de um maior investimento
por parte do Governo.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Anunciamos, desde já, que o PSD vai apresentar propostas de
alteração e que vai procurar voltar a dar um contributo relevante nesta importante matéria.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado João Cotrim de Figueiredo, da Iniciativa Liberal.
O Sr. João Cotrim de Figueiredo (IL): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Nesta era digital é,
obviamente, necessário encontrar novas formas de proteger os direitos de autor, mas protegendo sempre,
também, a liberdade de expressão, constitucionalmente consagrada.
A esse propósito, convém esclarecer as diferenças entre os projetos hoje, aqui, em discussão.
O projeto do PCP é, como tantas vezes são os projetos do PCP, totalmente desfasado da realidade. Ignora
a experiência europeia nesta matéria e ainda cria mais uma taxa absolutamente injustificada, ou seja, um
imposto de 75 cêntimos sobre os prestadores de serviços de internet. Ficamos sem saber a justificação do PCP
para a taxa, para o seu valor em concreto, e quais os impactos económicos que ela teria. É, portanto, óbvio que
não acompanharemos esta proposta.
O projeto do PS é mais equilibrado, mas também nos suscita algumas dúvidas, desde logo, a abrangência
da expressão «serviços ou meios que se destinem a interferir com o normal e regular funcionamento do mercado
de obras e prestações», os quais serão ilícitos no âmbito deste projeto. Quem define o que é «normal» ou
«interferência»? Indefinições a este nível irão possibilitar proibições e bloqueios abusivos.
Também fazemos eco das preocupações da Ordem dos Advogados, que alerta para os riscos de a IGAC
ser, e cito, «polícia, juiz e carrasco» nos processos de contraordenação previstos. O Iniciativa Liberal nunca
gosta da concentração de poderes e neste caso, em especial, quando é a própria IGAC que irá receber parte
das coimas a aplicar.