14 DE MAIO DE 2021
3
O Sr. Presidente: — Boa tarde, Sr.as e Srs. Deputados, Sr.as e Srs. Funcionários, Sr.as e Srs. Jornalistas, Sr.as e Srs. Agentes da autoridade.
Vamos dar início a esta reunião plenária de 13 de maio de 2021.
Eram 15 horas e 6 minutos.
A sessão de hoje tem como único ponto, ao abrigo do artigo 227.º do Regimento, a Interpelação ao Governo
n.º 7/XIV/2.ª, requerida pelo PSD, sobre coesão territorial.
Para abrir o debate, tem a palavra o Sr. Deputado Fernando Ruas, do Grupo Parlamentar do PSD.
O Sr. Fernando Ruas (PSD): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: Entendeu o Grupo Parlamentar do Partido Social Democrata, e bem, trazer a este debate, nesta magna Assembleia, a
importantíssima questão da coesão do território.
A situação atual do País, pese embora passados que são 47 anos de vida democrática e 35 anos de
integração europeia, justifica plenamente esta decisão. Portugal é, hoje, efetivamente, um País bem mais
desenvolvido do que o que conhecemos do tempo da ditadura, mas é também, seguramente, um País mais
assimétrico e mais injusto.
Para demonstrar de forma cabal o que acabámos de referir, basta-nos somente deitar mão a dois ou três
exemplos: a crescente desertificação do interior, a que vimos assistindo e que, em parte, justifica as habituais
vagas de incêndios que anualmente vão ocorrendo — menos gente significa menos vida, menos atividade,
menos vigilância, e, portanto, local ideal para a deflagração de incêndios com que, periodicamente, somos
fustigados.
Por outro lado, constatamos que, em pouco mais de meio século, o conjunto dos territórios do interior passou
de cerca de um terço da população total do País para apenas um pouco mais de um décimo dessa mesma
população. Como algumas vezes temos referido, estamos a construir um País com um corpo franzino, a roçar
o raquítico, com duas cabeças anormalmente grandes, constatando que uma é sensivelmente maior do que a
outra.
Passemos a outro exemplo: segundo o INE (Instituto Nacional de Estatística), só 32 dos 308 municípios
portugueses se situam acima da média nacional do poder de compra, naturalmente todos eles situados no litoral,
verificando-se, ao mesmo tempo, que a grande maioria das capitais de distrito está abaixo da média nacional.
O que temos feito perante tudo isto? Como diz a canção, «assobia para o lado». Não tem, de facto, havido
coragem política para fazer a tão propalada discriminação positiva do interior. Deveríamos, ao menos, ser
coerentes com o discurso habitualmente usado em termos de posições oficiais assumidas no espaço europeu,
em que voluntariamente nos integrámos e onde, e muito bem, nos queremos continuar a manter. É que a
correção de assimetrias entre os Estados-Membros é, e sempre foi, uma preocupação que vem do tempo dos
pais fundadores, como sendo uma condição indispensável a um desenvolvimento harmonioso e sustentável da
União Europeia. Diga-se, em abono da verdade, que a política de desenvolvimento regional e a política de
coesão são, sem sombra de dúvida, das mais bem-sucedidas da União Europeia, sendo uma exigência
permanente dos países beneficiários, em que nos incluímos, exigir comparticipações para atenuar os
desequilíbrios existentes entre Estados-Membros.
Se assim é, se assim procedemos, e bem, porque não fazemos, internamente, a mesma coisa? Como se
permite e se compreende, então, que o nosso território nacional em que a maioria das suas regiões está abaixo
da média europeia, e em que duas delas são mesmo das mais pobres do espaço europeu, possa, ao mesmo
tempo, ter uma das capitais mais ricas da Europa, uma capital em que o poder de compra per capita é mais do
dobro do poder de compra do resto do País?
Pensamos que os nossos parceiros europeus compreenderiam, por certo, que tivéssemos aproveitado a
nossa Presidência da União Europeia para que a Cimeira do Porto pudesse ter uma parte, pequena que fosse,
dedicada à problemática da coesão territorial e do desenvolvimento regional. Se isso tivesse acontecido, talvez
se pudesse concluir ser um enorme erro e uma tremenda injustiça arredar os autarcas do PRR (Plano de
Recuperação e Resiliência), plano que, como é sabido, dispõe da maior e mais significativa fonte de
financiamento provinda da União Europeia.