I SÉRIE — NÚMERO 71
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policiais e administrativas. É isto que diz o Programa do Governo, não diz mais do que isto, Sr.as e Srs.
Deputados. Sr. Ministro, é só isto que diz o Programa do Governo.
O Sr. Pedro Morais Soares (CDS-PP): — Exatamente!
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — O Programa do Governo não fala em extinção, nem em desagregação, nem em passagem para as outras forças. Nada disso! A ideia que lá está é esta e não mais do que esta.
Na nossa opinião — e agora passamos à leitura política desta questão —, a extinção do SEF e a sua
desagregação são um erro. Mas essa é a nossa opinião e não tem sequer de ser partilhada por todas as
bancadas. É apenas a nossa opinião e quero deixá-la aqui, aliás, mal seria se não dissesse qual é a nossa
opinião sobre o assunto.
Por que motivo é um erro? Logo à partida, com essa desagregação, perdemos experiência e competências
adquiridas. Se algum organismo, nas últimas décadas, tratou bem das mais diversas matérias — a
competência com que as tratou foi reconhecida internacionalmente — foi o SEF. E, ainda há pouco tempo, o
Sr. Ministro elogiava a sua atuação. Portanto, acabar com um organismo que funciona e que tem experiência e
competências é, objetivamente, um erro.
Mais: é um erro porque o novo modelo não tem paralelo nos melhores sistemas europeus, nos sistemas
que melhor funcionam na Europa. Os sistemas na Europa de controlo de fronteiras, de controlo de entrada e
deslocação de estrangeiros e de proteção de fronteira externa baseiam-se, normalmente, numa entidade
única. É assim na maior parte dos países. A dispersão por três ou quatro entidades ou por três ou quatro
pontos de contacto vai introduzir uma confusão na nossa relação com os outros parceiros, designadamente
com os parceiros europeus, e vai, obviamente, lançar dúvidas em relação à nossa posição e à nossa
credibilidade quanto à atuação do sistema Schengen.
Por outro lado, se virmos bem — e o Sr. Ministro o dirá, já que teve o interesse de vir a este debate —,
creio que o seu anúncio de extinção do SEF foi em janeiro, ou seja, decorreram uns meses. O que significa
terem passado esses meses? Significa que andámos a perder tempo.
O que era preciso ter sido feito? O SEF precisava de ter sido modernizado, melhorado e dotado de meios e
competências, além do investimento necessário em meios tecnológicos e humanos para ser mais eficiente. E,
até agora, estamos todos à espera de uma alteração, mas já lá vão uns meses e ninguém conhece a
alteração.
Último facto: a resolução do Conselho de Ministros. A resolução do Conselho de Ministros, em si mesma,
não criou nada. Em que situação estamos hoje? Ao dia de hoje, em que ponto estamos? Quem está no
terreno a tratar destas matérias — Sr. Ministro, tenha a bondade de me desmentir se eu estiver errado — é o
SEF e só o SEF, tirando as competências de outras forças que já existiam antes.
Em declarações várias, o Sr. Ministro insiste em dar a ideia de que o SEF foi extinto. Quanto ao seu serviço
de estrangeiros e asilo, ele não existe, não foi criado…
O Sr. Pedro Morais Soares (CDS-PP): — Exatamente!
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — … e, portanto, vivemos há não sei quanto tempo num equívoco. Este é o último dos factos relevantes em relação ao histórico desta matéria.
Por outro lado, e voltando à questão política, na nossa opinião, seria um erro acabar com uma instituição
deste tipo usando, quase como pretexto, um crime horrível como o que aconteceu. É que a existência de
crimes não é fundamento para o fim da instituição, é fundamento para que sejam julgados e condenados os
culpados — e a justiça fez e está a fazer bem o seu trabalho — e para que a instituição seja extirpada
daqueles que têm estes procedimentos e tenha regras claras para que isto não volte a acontecer.
Repito, esse não é fundamento para acabar com a instituição. Não há instituição nenhuma que sobreviva a
este critério, porque, em qualquer instituição, designadamente porque elas são compostas por homens, este
tipo de comportamentos e de crimes pode acontecer. Eu diria mesmo que, seguindo este critério e este
raciocínio, no limite, acabávamos com o Governo!
Isto não é aceitável nem razoável, como é evidente.