I SÉRIE — NÚMERO 1
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República, para a Comissão Europeia dos Direitos do Homem, no Conselho da Europa, onde desempenhou um
papel muito ativo.
A eleição para Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, em 1989, é mais uma prova da sua enorme
capacidade para construir pontes e conseguir convergências até então nunca alcançadas. Assumiu uma
candidatura de modo individual, independente de qualquer partido político, para Presidente da República,
configurando este outro exemplo da sua rara intuição política.
O exercício dos seus dois mandatos como Presidente da República, em especial a resposta dada às difíceis
e exigentes situações com que foi sendo confrontado, vieram trazer um novo entendimento e um novo olhar
sobre os poderes presidenciais. Dando provas de especial atenção às tendências de cada conjuntura, estes
mandatos foram também marcados pelo impulso dado a uma nova centralidade das políticas públicas, sobretudo
no campo económico e social, no desenvolvimento do País e no combate à pobreza e às desigualdades.
Após terminar o seu segundo mandato como Presidente da República, Jorge Sampaio não abandonou a vida
ativa, do ponto de vista político. O seu sentido cívico e a sua vontade em honrar o dever de solidariedade
cometido a cada cidadão incentivam-no a aceitar, com humildade e orgulho, a sua designação como Enviado
Especial do Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas para a Luta Contra a Tuberculose e como Alto
Representante da ONU para a Aliança das Civilizações. A solidariedade como dever é, uma vez mais, o motivo
que leva Jorge Sampaio a fundar a Plataforma Global de Assistência Académica a Estudantes Sírios. Político
de grande craveira intelectual, homem de esquerda por convicção, democrata de vocação europeísta e
multilateralista, Jorge Sampaio soube sempre prestigiar e defender a posição de Portugal no mundo, o que lhe
granjeou o reconhecimento e o respeito de todos os quadrantes políticos, tanto interna como internacionalmente.
Pelos valores que defendia, pela forma íntegra e empenhada como exerceu as funções para que foi eleito
ou designado, Jorge Sampaio representou tudo o que de melhor e de mais exigente há na política. Ao assinalar
a perda deste enorme ser humano, que foi um dos melhores servidores da causa pública e da sua geração, é
justo reconhecer a gratidão que lhe é devida. Obrigado, Jorge Sampaio!
A Assembleia da República, reunida em sessão plenária, manifesta o seu profundo pesar pelo falecimento
de Jorge Sampaio, figura fundamental do Portugal contemporâneo, prestando-lhe justa homenagem e
transmitindo à sua família, muito em especial à sua mulher, Maria José Ritta, e filhos, Vera e André, aos amigos
e ao Partido Socialista as mais sentidas condolências.»
Sr.as e Srs. Deputados, passamos agora às intervenções das diferentes bancadas e dos diferentes partidos.
Tem a palavra a Sr.ª Deputada Cristina Rodrigues.
A Sr.ª Cristina Rodrigues (N insc.): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, familiares do Sr. Presidente
Jorge Sampaio: Jorge Sampaio foi muito mais do que um homem, foi e é um exemplo a seguir, um exemplo de
luta e de integridade, de dedicação à causa pública e à sociedade, de alguém que deu muito mais do que aquilo
que, alguma vez, possa ter recebido.
Enquanto advogado, Jorge Sampaio deu voz a presos políticos e a ativistas antifascistas; enquanto político,
defendeu as minorias e a liberdade; enquanto pessoa, mostrou qualidades como a humildade e a coragem.
Hoje, agradeço-lhe por tudo o que deu à causa pública, pelo seu trabalho pela independência de Timor-Leste,
por não ter ficado indiferente ao sofrimento da população síria, pela luta pela igualdade, pela integração, pela
liberdade de todos nós, muito além-fronteiras.
Não perdemos apenas um Presidente da República, perdemos um homem bom, como tantas vezes é
apelidado, que tanta falta faz nos dias de hoje.
Não vou alongar-me mais. Dirijo as minhas últimas palavras à família, lamentando a sua perda, que é também
uma perda para todos nós.
O Sr. Presidente: — Tem agora a palavra a Sr.ª Deputada Joacine Katar Moreira.
A Sr.ª Joacine Katar Moreira (N insc.) — Sr. Presidente, apresento as minhas sentidas condolências a toda
a família, aos amigos e aos companheiros e companheiras de Jorge Sampaio.
Preciso de começar referindo que aprendemos com Jorge Sampaio a expor a vulnerabilidade como uma
proposta política de mudança, de força combativa e de autenticidade. Para Jorge Sampaio, toda a gente tinha
lugar em Portugal, independentemente das suas origens e de quem eventualmente fosse.