16 DE SETEMBRO DE 2021
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Vulnerabilidade, empatia e compaixão — características geralmente associadas ao feminino, mas que têm o
dom de engrandecer um homem e, sobretudo, de engrandecer um político. Ensinou-nos que não há nada que
se faça na vida e na política sem afeto. Isto é tão diferente do que tem estado a suceder ultimamente!
Não nos basta homenagear, hoje, a vida e o legado de Jorge Sampaio, cumpre-nos dar continuidade ao seu
espírito de bondade e de abertura a todos e a todas que estão na nossa sociedade.
Salve, Presidente Jorge Sampaio!
O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado João Cotrim de Figueiredo, do Iniciativa Liberal.
O Sr. João Cotrim de Figueiredo (IL): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Membros do Governo,
Sr.as e Srs. Deputados, Srs. Familiares e Amigos do Presidente Jorge Sampaio presentes nas galerias: Um dos
melhores tributos que posso prestar ao Presidente Jorge Sampaio é ser lealmente frontal, como ele tantas vezes
foi durante a sua vida, nestas palavras que daqui dirijo. E é não cair na tentação, tão frequente em evocações e
elegias fúnebres, de ceder à hipérbole ou à idealização de quem partiu, tantas vezes deixando um travo de
insinceridade — quando não de hipocrisia — a quem ouve ou lê tais palavras.
Por isso, começo por reconhecer, sem subterfúgios e também sem surpresa para ninguém, que discordei
quase sempre das posições políticas que Jorge Sampaio assumiu na sua vida política, após o 25 de Abril. A sua
visão socialista da sociedade não é a nossa visão liberal dessa mesma sociedade e sobre isso não haja dúvidas.
Mas, na sua dimensão humana, Jorge Sampaio exibiu traços dignos de registo e, sobretudo, dignos de serem
exemplo para todos nós. São esses traços que gostaria aqui de realçar.
Jorge Sampaio foi, desde logo, durante a ditadura, um lutador pela liberdade: esse valor supremo para
qualquer liberal. Poucos deixarão de admirar a defesa intransigente que fez de estudantes e oposicionistas ao
Estado Novo, numa altura em que tal exigia não só força de caráter, mas coragem.
É exatamente essa coragem o segundo traço de Jorge Sampaio que quero destacar. Antes e depois do 25
de Abril, Sampaio exibiu uma fidelidade às suas convicções, uma disponibilidade para percorrer caminhos nunca
percorridos que se traduzem numa forma de coragem política que, mesmo os que não o acompanhavam
politicamente, não podíamos deixar de reconhecer.
Jorge Sampaio foi também um homem de grande sensibilidade a vários aspetos da condição humana,
mesmo os que pouco tinham que ver com a política quotidiana, nunca se coibindo de mostrar o seu lado mais
simples e mais humano. Foi um exemplo precoce, em Portugal, de como as figuras políticas não têm de se
conformar a um padrão ou a uma persona.
Finalmente, Jorge Sampaio tinha uma visão global do mundo e de Portugal nesse mundo, e isso, estou
convencido, contribuiu muito para o seu desempenho enquanto Presidente da República e para os cargos
relevantes que ocupou após ter deixado a mais alta magistratura do Estado.
São estes traços que quero sublinhar em Jorge Sampaio: a luta pela liberdade, a coragem, a simplicidade e
a visão global que tinha do mundo. Tudo qualidades que nos devem inspirar e que continuam a fazer falta no
Portugal de hoje, em particular entre os que exercem cargos de especial responsabilidade.
No final, o que mais interessa é a dimensão humana da vida que nos deixou, a dor de quem o chora e o
exemplo que a todos deixa. Mais do que à perda para o País, associamo-nos à perda que família e amigos
próximos estão a sentir. A todos eles renovo daqui, em meu nome pessoal e em nome do Iniciativa Liberal, a
expressão das nossas mais sinceras condolências.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado Diogo Pacheco de Amorim, do Chega.
O Sr. Diogo Pacheco de Amorim (CH): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados,
família e amigos do Dr. Jorge Sampaio aqui presentes: Estamos hoje aqui para homenagear um antigo
Presidente da República, durante alguns anos o rosto de todos nós portugueses. Como tal, e assim sendo,
curvo-me perante a sua memória.
A Terceira República perdeu um dos seus esteios, o Partido Socialista um dos seus senadores e a família
um dos seus.
Ao Partido Socialista, evidentemente, mas sobretudo à família, como é natural que assim seja, quero aqui
deixar, em meu nome e em nome do meu partido, uma palavra de solidariedade por essa perda.