16 DE SETEMBRO DE 2021
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Por fim, mas não menos importante, Os Verdes destacam a coragem do antifascista Jorge Sampaio ao
assumir a defesa, nos tribunais plenários, de muitos outros antifascistas, presos políticos da ditadura, que se
opuseram e lutaram com singular determinação contra o regime fascista. Um e outros, combatentes num
combate absolutamente desigual.
Depois da Revolução dos Cravos, Jorge Sampaio continuou empenhado na causa pública, tendo exercido
várias e elevadas responsabilidades políticas, nomeadamente como Deputado à Assembleia da República, que
aliás muito prestigiou, Líder do Grupo Parlamentar do Partido Socialista, Secretário-Geral do Partido Socialista,
Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Presidente da República.
Conseguiu ainda forças para se envolver numa causa humanitária, enquanto Presidente da Plataforma
Global para os Estudantes Sírios, plataforma de que, aliás, foi também fundador.
O Partido Ecologista «Os Verdes», parte integrante da coligação «Por Lisboa», trabalhou diretamente com
Jorge Sampaio nesta autarquia e, em 1996, Os Verdes apoiaram a sua candidatura à Presidência da República.
Estes factos demonstram que, pesem embora as posições políticas diferenciadas, que foram sempre
assumidas, o Partido Ecologista «Os Verdes» reconheceu em Jorge Sampaio, em determinados momentos e
circunstâncias, o papel absolutamente relevante para as respostas políticas que se impunham.
Pessoalmente, foi nos finais da década de 80 que tive o privilégio de o conhecer mais de perto, durante o
processo de construção da coligação «Por Lisboa». Desse tempo, recordo o homem pragmático que soube
entender a importância da convergência necessária à prática de novas políticas para uma nova Lisboa, aberta
a todos e a todas, uma nova cidade onde, em conjunto, fizemos um trabalho extraordinário.
Depois, voltámos a cruzar-nos em 1996, quando Os Verdes apoiaram a sua candidatura à Presidência da
República.
Tive ainda o privilégio de acompanhar Jorge Sampaio, então Presidente da República, na Visita de Estado
ao Canadá, em 2001. Uma viagem de que retenho na memória a carinhosa e entusiasmada forma como os
portugueses emigrados no Canadá receberam e acolheram o Presidente da República Jorge Sampaio.
Foram exatamente esses momentos partilhados com o Dr. Jorge Sampaio que me ajudaram a construir a
imagem que hoje tenho dele. Um político, um estadista humanista, sensível, vertical, corajoso, simples e sem
vaidades. Um homem que sabia escutar e reter o que ouvia. Uma pessoa sensível aos problemas do ambiente
e preocupado com a pressão urbanística em Lisboa e no litoral. Um democrata preocupado com a saúde da
democracia. Um homem frontal, natural e avesso a formalidades ou protocolos exagerados.
Mas Jorge Sampaio, da mesma forma que era uma pessoa direta e determinada, era um homem que não
escondia as suas emoções.
É, pois, também com emoção que o Partido Ecologista «Os Verdes» lamenta profundamente o falecimento
de Jorge Sampaio.
Nestas horas más e demoradas, vividas e sentidas, sobretudo pelos mais próximos, resta-nos, nesta Sessão
Evocativa, reafirmar, junto dos seus familiares e do Partido Socialista, o mais sentido pesar pelo
desaparecimento do cidadão empenhado e destacado dirigente político, o Dr. Jorge Sampaio.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Bebiana Cunha, do PAN.
A Sr.ª Bebiana Cunha (PAN): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados, família
e amigos do Presidente Jorge Sampaio aqui presentes: Gostaria de, em nome do PAN, endereçar as nossas
sentidas condolências a todas e a todos os que sentem esta perda.
Portugal ficou mais pobre com a partida de Jorge Sampaio. Um homem que, ao longo da sua vida pública,
esteve à altura da esperança das pessoas e soube corporizar os mais essenciais valores do Estado de direito
democrático.
As divergências que o PAN tem relativamente à sua posição na tauromaquia são conhecidas. Mas hoje,
nesta homenagem, evocaremos a partir de então tudo aquilo que nos une.
Falar em Jorge Sampaio é falar, antes de mais, na defesa intransigente da liberdade. Uma defesa no contexto
da longa noite de uma ditadura opressiva, em que muitos se calaram, mas Sampaio não!
Enquanto dirigente associativo, não se calou. Esteve lá quando foi necessário defender a liberdade de
manifestação e o direito ao associativismo livre, naquilo que viria a dar origem à crise académica de 1962 e que
acabou por lhe custar a prisão em Caxias.