16 DE SETEMBRO DE 2021
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Reconhecemos o empenho de quem tomou partido na luta política, participou na vida partidária e sempre
assumiu posição nos grandes debates da construção da democracia.
Sabemos como foi possível dialogar à esquerda, criando pontes, cultivando o respeito e vencendo a
desconfiança. Lisboa foi o palco dessa nova vida política portuguesa e testemunha do que significou na melhoria
de vida das populações em matérias fundamentais, como o direito à habitação na erradicação das barracas.
Com Jorge Sampaio nos emocionámos e tornámos a independência de Timor-Leste motivo de uma
mobilização nacional. E fomos grandes, no mundo, na defesa da libertação desse povo-irmão.
Mas não foi o único exemplo que ele nos ajudou a dar ao mundo. Foi também com o seu empenho que
Portugal se tornou referência internacional na política de drogas, assumindo o falhanço do proibicionismo e
dando o passo fundamental na descriminalização do consumo. Assim se fez história e se deu mais um passo
de progresso, caminho que ele continuou, juntamente com Kofi Annan e outros antigos chefes de Estado, ao
ser um dos promotores da Comissão Global de Política sobre Drogas.
Mostrou-nos como tinha uma voz própria contra a guerra e rejeitou a intervenção militar no Iraque. Sabemos
hoje como tinha e como tínhamos razão ao procurar evitar essa escalada militar e, muito em particular, a rejeição
da narrativa de uma suposta guerra de civilizações, que ele negou, e muito bem.
Envolveu-se a construir diálogos entre culturas, como Alto Representante para a Aliança das Civilizações ou,
mais recentemente, na Plataforma Global para os Estudantes Sírios.
Estes são exemplos e notas de uma vida exemplar, de uma forma de fazer política com ética e elevação,
própria de quem sabe que o objetivo final da participação política é o bem comum e que não é possível chegar
a esse fim sem um profundo respeito pelo outro, por todas e todos os outros. Esse respeito, essa empatia, são
valores que o marcam e que nos marcaram a todos.
Desse exemplo, dessa vida, desse contributo, a República e a democracia dizem: obrigado, Jorge Sampaio.
O Sr. Presidente: — Tem, agora, a palavra o Sr. Deputado Fernando Negrão, do Grupo Parlamentar do
PSD.
O Sr. Fernando Negrão (PSD): — Sr. Presidente da Assembleia da República, Sr. Primeiro-Ministro, Sr.ª
Membro do Governo, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: A Assembleia da República evoca,
hoje, a memória do Presidente Jorge Sampaio, que recentemente nos deixou, nesta que foi a sua Casa durante
cinco mandatos.
Despede-se hoje de Jorge Sampaio Deputado, de Jorge Sampaio autarca, de Jorge Sampaio Presidente da
República, de Jorge Sampaio humanista e estadista, mas, acima de tudo, de Jorge Sampaio, o cidadão comum
que nunca deixou de o ser.
E falo no cidadão comum, porque foi só o que sempre quis ser, assumindo, com toda a naturalidade e
humildade, todas as funções da mais alta responsabilidade que exerceu.
Esse exemplo, do político maior que nunca se esqueceu da sua qualidade de cidadão comum, é um
património que deve servir de exemplo a todos quantos na vida assumem funções de alta responsabilidade, seja
na política, onde é uma exigência, seja em qualquer outra área da sociedade.
Licenciado em Direito e advogado de profissão, foi, desde muito cedo, um forte defensor da causa pública,
da liberdade e da democracia. Realço o sentido cívico que envolvia em todas as suas intervenções e ações e
que fazia parte da sua natureza, como claramente se viu e sentiu na sua luta de apoio aos refugiados, quase
até ao último dia da sua enorme vida.
Que este exemplo de sentido cívico dure e perdure em todos e, sobretudo, nas gerações mais novas como
razão maior de tudo o que fazemos e faremos.
Devemos-lhe a persistente ação política de oposição e combate à ditadura. Devemos-lhe, também a ele, por
isso, o Portugal que agora vive em democracia e em liberdade.
Foi extraordinariamente importante o papel que desempenhou nos anos da Revolução, no diálogo com a ala
moderada do MFA (Movimento das Forças Armadas), na qualidade de ativo apoiante das posições do chamado
«Grupo dos Nove», onde se destacava o Coronel Melo Antunes, seu amigo.
Foi um cidadão do mundo e uma mente aberta, dando um contributo determinante para a união, a cooperação
e a diplomacia.