I SÉRIE — NÚMERO 10
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Por isso, hoje, importa dizer que todas as pessoas livres, onde quer que vivam, são cidadãos da Ucrânia.
Terminando, Sr. Presidente, o 25 de Abril é um legado maior do que todos nós e cujo único dono é o povo
português. É o dia despertador, é o espírito que nos acorda ao longo do longo sono de ontem em busca de um
melhor amanhã. Portugueses, vamos voltar a querer saber. Vamos, com o inconformismo de Abril, romper a
estagnação.
Aplausos do IL e de Deputados do PSD.
O Sr. Presidente da Assembleia da República: — Para uma intervenção, em nome do Grupo Parlamentar
do Chega, tem a palavra o Sr. Deputado André Ventura.
O Sr. André Ventura (CH): — Sr. Presidente da República, Sr. Presidente da Assembleia da República, Sr.
Primeiro-Ministro, demais Autoridades, Srs. Deputados, Ilustres Convidados: A história que nos ensinaram deste
dia e desta manhã foi a história da glória dos cravos que hoje enfeitam este Parlamento. A história da glorificação
de uma manhã saída de uma noite que quis dar triunfo, liberdade e prosperidade a Portugal.
Por isso, passámos, e continuamos a passar, todos os nossos dias 25 de Abril saudando-nos uns aos outros,
trazendo estes cravos vermelhos e mostrando ao País que somos diferentes.
Hoje, e talvez isto nunca tenha sido dito nesta Câmara, devíamos, sim, olhar para os portugueses e dizer
«desculpem, porque falhámos», porque falhámos.
Falhámos na justiça que construímos; falhámos no império que se dissolveu e que deixou outros países à
sua mercê e famílias à sua sorte; falhámos nos jovens que querem emigrar como nunca, no País que lhes tinha
prometido ser o País da prosperidade; falhámos aos pensionistas e aos reformados, que têm hoje o pior poder
de compra da União Europeia. Tanto falhou Abril. E estes cravos de nada valem a essas pessoas, que, para
irem ao supermercado, têm de usar o dinheiro da sua reforma e não um cravo vermelho para poderem pagar a
sua comida.
Falhámos, portugueses! Nós, todos, os que aqui estamos sentados, falhámos! Falhámos na luta que
devíamos ter travado por todos vós. Falhámos aos polícias, falhámos aos magistrados, falhámos aos
empresários, falhámos às famílias, falhámos àqueles que olharam e disseram «deem-nos um país diferente,
deem-nos essa manhã que nos prometeram», pois Portugal não cessa de ser ultrapassado e obscurecido.
Falhámos na reconciliação. E, Sr. Presidente, talvez hoje fosse o dia de, ao mesmo tempo que saudamos a
liberdade, relembrar todos aqueles que foram vítimas da expropriação após o 25 de Abril de 1974, todos os
retornados que vieram dos seus países e aqui encontraram um País que não lhes deu a mão e que lhes devia
ter dado a mão, esse País que já não temos.
Aplausos do CH.
Sim, Sr. Presidente, falhámos também a esses. Falhámos aos retornados, falhámos aos ex-combatentes,
alguns deles a viver na rua, aqui, nesta cidade de Lisboa. Enquanto celebramos com cravos vermelhos neste
Parlamento, há ex-combatentes que estão a viver nas estações do metro, na estação de Santa Apolónia.
Viva Abril! Sem dúvida! Mas era o Abril de todos os portugueses, inclusive daqueles que o fizeram e que
foram esquecidos por Portugal, todos esses, as vítimas da expropriação, da reforma agrária. O esquecimento
de um regime que não deixou de os esquecer e que ostensivamente fez por ignorá-los. Não devíamos, aqui,
hoje, ter medo de os citar e de os trazer também à memória, porque são tão portugueses como nós e têm
famílias como nós também temos.
Por isso, permita que me dirija a si, Sr. Presidente da República, meu adversário e vencedor das últimas
eleições, com um pedido muito específico: não condecore aqueles que torturaram, mataram e expropriaram em
Portugal.
Aplausos do CH.
Sr. Presidente da República, nós não podemos ter, entre os condecorados, pessoas que mataram bebés,
pessoas que assassinaram famílias, pessoas que destruíram a economia portuguesa nos anos 70 e 80. Ainda