I SÉRIE — NÚMERO 28
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Hoje, discutimos três projetos de lei e todos têm a pretensão de assegurar a transparência e a
independência das entidades reguladoras. E, para isso, propõem alterações à legislação, sem colocar em
causa a questão de fundo e fazendo crer que se está a fazer alguma coisa, mas, no essencial, fica tudo na
mesma.
O Iniciativa Liberal prevê um procedimento concursal, com critérios e avaliações. Inclusivamente, o IL
propõe um concurso de âmbito internacional, como se o facto de contratar fora do País fosse garantia para
alguma coisa, além de desvalorizar as capacidades nacionais, para, no fim, dizer: «se o concurso ficar
deserto,» — veja-se bem! — «o governo nomeia».
Um dos requisitos que o Iniciativa Liberal propõe é a independência de espírito dos membros do conselho
de administração. Independência de espírito será certamente para assegurar que a decisão das ditas
entidades reguladoras seja sempre a favor dos grupos económicos e do capital, tudo em bom nome da
liberdade dos ditos mercados, não vá alguém lembrar-se de defender o interesse público e o controlo público
de setores estratégicos da nossa economia!
Já a iniciativa do PAN, invocando os mesmos propósitos, introduz uma série de alterações, nas quais só
estará em condições de integrar o conselho de administração quem não perceba nada do que se vai tratar.
Para o Chega, a grande preocupação é com o prejuízo dos particulares. Já se está mesmo a ver de quem:
da banca privada, talvez da Altice, da Galp, da EDP (Energias de Portugal) ou dos CTT (Correios de Portugal),
que amealham lucros à custa do empobrecimento das populações e da degradação do serviço prestado. O
prejuízo do interesse público que prejudica o povo e o nosso País, esse, não importa.
Estas três iniciativas são a prova provada de que as entidades reguladoras não têm solução e que são o
instrumento utilizado pelo capital para tomar as decisões que lhes são úteis.
Ao longo de todos estes anos, multiplicaram-se várias entidades reguladoras em diversas áreas, setores de
bens e serviços de grande importância, que dizem ser estratégicos para a economia e para o nosso
desenvolvimento. E, para a criação destas entidades reguladoras, usam sempre o argumento de que seria
para arbitrar e harmonizar interesses contraditórios.
Apontadas as entidades reguladoras como a solução para a regulação do mercado liberalizado, está à vista
esta regulação: o desmando dos banqueiros na banca privada, cuja fatura foi paga pelo povo português; na
energia, os custos estão sempre a subir, pagos pelos mesmos de sempre; as telecomunicações estão cada
vez mais caras e há áreas do País sem cobertura. Isto só para dar alguns exemplos da tal regulação.
A intervenção das entidades reguladoras revelou ser totalmente ineficaz, porque o regulador está
capturado pelo regulado. E a criação destas entidades correspondeu à desresponsabilização do Governo,
afastando-o da direção e da regulação económica, afastamento esse que afetou a decisão política
relativamente a setores estratégicos da economia e que levou à reconfiguração do Estado, ao serviço da
reconstituição dos monopólios.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Adão Silva): — Para uma segunda intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Inês de
Sousa Real. Dispõe de 18 segundos.
A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Muito brevemente, gostaria de dizer
que aquilo que não compreendemos é como é que o PCP tem uma atitude derrotista perante as entidades
reguladoras. Não conseguimos aceitar uma visão em que acham que não há ninguém na sociedade civil, a par
do poder político e de quem já passou pelas entidades reguladoras, que tenha capacidade para lá estar.
A Sr.ª Deputada disse que se vai colocar nas entidades reguladoras quem não percebe nada, mas isso é
passar um atestado de incompetência à sociedade civil e à academia, o que não podemos acompanhar.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — O problema é que na prática a teoria é outra! Bem-vinda a Portugal!
O Sr. Presidente (Adão Silva): — Passamos, agora, ao encerramento do primeiro ponto da ordem de
trabalhos.