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21 DE JANEIRO DE 1992

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Simultaneamente, esta década marca a intensificação quer das relações comerciais entre os países asiáticos, centrada no papel da economia japonesa como organizadora da divisão de trabalho regional, quer dos fluxos de investimento na região, provenientes principalmente do Japão e de Taiwan.

4. Entretanto a Europa Ocidental sofreu um processo parcialmente inverso ao da Ásia, ao aumentar mais do que proporcionalmente a intensidade das trocas comerciais no interior da região europeia (em resultado do próprio processo de aprofundamento da integração europeia) relativamente ao peso global da Europa Ocidental nas trocas mundiais.

Esta viragem parcial da Europa, ao nível do comércio, para as suas fronteiras regionais, paralela ao "boom" de investimento europeu nos EUA, exprime a progressiva perda de posição de algumas das suas maiores empresas em sectores fortemente globalizados como a electrónica, a informática e o automóvel, enquanto noutros como as químicas, as farmacêuticas, as agroalimentares e a aeronáutica as suas posições empresariais se mantêm em melhores condições.

A decisão de concluir o Mercado Único Europeu e a preocupação que tal construção fizesse acompanhar a redução de barreiras internas ao comércio por práticas discriminatórias e proteccionistas face às importações, ou mesmo ao investimento de empresas de outros continentes, levou a uma intensificação da presença japonesa e americana na Europa, apoiando-se nos países menos proteccionistas do Norte europeu — Grã-Bretanha, Holanda, Bélgica e Alemanha — e na Espanha.

5. O movimento de globalização da economia foi, todavia paradoxalmente, acompanhado peia relativa marginalização do mercado mundial de um conjunto de economias em desenvolvimento, de que são exemplo um numero significativo de países africanos e latino-americanos. Como explicação dessa tendência apontam-se as modificações profundas que se deram na estrutura produtiva dos países desenvolvidos, em relação com a transição das economias industriais para economias terciárias e menos intensivas no consumo de matérias-primas, bem como a dificuldade de resposta daqueles países às consequências dos choques petrolíferos e à gestão da dívida externa.

Um número muito significativo de países enveredaram por políticas de ajustamento estrutural, que começaram por ser apenas de âmbito macroeconómico, mas que agora são também de natureza política e institucional (implementação de estruturas políticas multipartidárias, introdução de mecanismos de mercado, privatizações, etc), sendo ainda cedo para se avaliar o efeito destas reformas.

6. Este movimento mundial foi igualmente acompanhado da criação de desequilíbrios duradouros no comércio internacional e nas contas externas de alguns países.

Com a sua posição comercial enfraquecida, os EUA lançaram a partir de meados da década um conjunto de movimentos da maior importância para a economia mundial:

• o início de uma nova ronda de negociações GATT

envolvendo, entre outros, países do Terceiro Mundo tradicionalmente proteccionistas, como o Brasil e a índia, em que se procurava simultaneamente prosseguir o desmantelamento das barreiras do comércio de produtos manufacturados, alargar o movimento de clarificação das regras de comércio internacional a novas áreas (ex: agricultura, serviços e tecnologia) e reforçar os meios de resolução de conflitos no GATT; todavia, a economia americana, apostando no reforço do quadro multilateral de comércio internacional, dotava-se simultaneamente a nível interno dos meios legais para tomar decisões unilaterais;

• o lançamento de uma grande negociação de fundo com o

Japão — a iniciativa relativa aos Impedimentos Estruturais ao Comércio (SII). que concluiu a sua primeira ronda em 1990 e levou a um conjunto de compromissos mútuos de alteração de práticas estruturais consideradas prejudiciais ao desenvolvimento de relações comerciais menos desequilibradas;

• a proposta de criação de uma zona de comércio livre na

América do Norte, em que a integração do México constituiu simultaneamente uma resposta aos receios de destabilização económica na fronteira sul dos EUA, um modo de enquadrar o reforço da influência japonesa no México e uma oportunidade de criação de uma base privilegiada de implantação industrial geograficamente próxima;

• as actuações destinadas a reforçar as trocas comerciais

entre os NIC da Ásia e o Japão, como forma de reduzir a

pressão conjunta sobre o mercado americano. Desta forma, os EUA apoiaram o reforço das relações comerciais, financeiras e de investimento na região da Ásia/Pacífico, ao mesmo tempo que não apoiam a formação de um bloco comercial e económico asiático, no qòal o Japão, potência económica global por excelência, lambem não se tem revelado muito interessado.

No inicio da nova década, quando se agravava o impasse no GATT. nomeadamente cm torno das questões agrícolas, este conjunto de movimentos de integração regional, em grande parte inspirados pelo sucesso da CE. levaram muitos observadores a considerar que a economia mundial caminhava para um processo de regionalização marcado pela constituição de três blocos comerciais — europeu, norte-americano e asiático, com a consequente influência nas decisões estratégicas das empresas multinacionais.

As transformações na URSS e os novos desafios estratégicos, políticos e económicos

7. É neste contexto de globalização e formação de agrupamentos regionais de natureza e ambições diferentes que se vêm inserir algumas das mais profundas e radicais alterações sofridas pelo mundo, a nível estratégico e económico, desde o fim da II Guerra Mundial.

As profundas transformações politicas no interior da URSS foram acompanhadas desde os anos finais da década de 80 por um vasto conjunto de actuações externas entre as quais se destacam a aceitação da reunificação alemã, com a nova Alemanha integrada na NATO: as retiradas militares e a dissolução do Pacto de Varsóvia e do Comecon; a melhoria das relações com a China e o início da abordagem da questão territorial com o Japão; e ainda uma redefinição geral das relações da URSS com os países do Médio Oriente.

É neste quadro que surge a tentativa do Iraque em se afirmar como potência dominante no Golfo e a partir dessa posição tornar-se na força árabe decisiva para qualquer evolução no conflito israelo-árabe. A derrota iraquiana na guerra do Golfo, sem a oposição da URSS. represeniou um marco na evolução mundial recente.

Pouco tempo d.pois assistiu-se ao precipitar dos movimentos que levaram à desagregação da URSS como Estado centralizado e à procura por parte dos seus anteriores elementos constituintes de uma integração na economia mundial contribuindo, assim, para um contexto estratégico e económico radicalmente diferente. Emerge então uma nova forma de associação entre as Repúblicas, que se estão a organizar como uma Comunidade Euro-asiática de Estados Independentes, tendo sido dissolvida formalmente a URSS.

A par daquela situação há a considerar o seu potencial militar ainda existente, quer convencional quer, especialmente, o nuclear. Para além dos aspectos referidos coloca-se também a questão da própria utilização da energia nuclear e as condições de segurança de funcionamento das diversas centrais nucleares, dispersas por diversas repúblicas.

No futuro próximo, as preocupações centrais de todos os países industrializados, ao nivel estratégico, vão-se deslocar ainda mais para a questão do controlo sobre a proliferação de armas de destruição maciça, em particular das armas nucleares de médio e longo alcance e sobre a difusão das tecnologias dos mísseis balísticos

8. Ao nível económico, fundamental para estabilizar os processos desencadeados por estas mutações tão rápidas, a situação não deixa de ser preocupante. Com efeito, a integração das economias da Rússia e de outras Repúblicas da ex-URSS na economia mundial vai ocorrer num período em que os fluxos financeiros internacionais vão sofrer uma alteração relativamente aos que caracterizaram os anos 80. nomeadamente no que respeita aos países excedentários, o que não deixará de criar dificuldades. Basta recordar que:

• a reunificação alemã e as necessidades de reconstrução da

Europa Central tenderão a reduzir o volume de capitais alemães disponíveis para investimento, a curto ou médio prazo, fora da região europeia:

• a economia japonesa, após a crise dos factores que suportaram

a sua acelerada internacionalização na segunda metade da década de 80 (crise na Bolsa e no Imobiliário), tenderá a ter uma política mais selectiva para as suas exportações de capitais, procurando articular investimentos públicos e privados para maximizar a influência internacional que pode retirar da sua posição excedentária: