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19 DE OUTUBRO DE 1996

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de adobe, por vezes caiadas, com telhados forrados por elementos de origem vegetal.

Alcácer foi, assim, neste período, um oppidum pré-ro-mano dos mais importantes da fachada atlântica portuguesa.

No Olival do Senhor dos Mártires fica situada a necró-poie, correspondente a este oppidum, onde se têm escavado numerosas e ricas sepulturas, algumas com escaravelhos egípcios e vasos gregos.

O nome deste oppidum da Idade do Ferro levanta alguns problemas. Aparece gravado com caracteres ibéricos, em moedas cunhadas localmente, mas não há concordância dos investigadores que têm tentado a sua leitura: os nomes propostos têm sido Evion, Ketovion, Ketivion e Keition além de outros. Pensa-se que talvez este último seja o mais viável, tendo dele derivado o nome actual do rio Sado.

' 2— Período romano

Com a chegada dos Romanos assistiu-se à constituição da Salacia Urbs Imperatoria, com cunhagem própria de moeda e capital administrativa. Época de navegação intensa do Sado (Callipus) pesca e indústria conserveira.

O nome latino foi «Salacia», ou, segundo Plínio, «Salacia Urbs Imperatoria». Moedas cunhadas localmente, talvez em 45-44 a. C, ostentam a legenda «IMP[eratoria] SAL[aciaj» ou «IMP SALAC» apresentam o mesmo tipo de reverso das antigas moedas de «Ketovion» ou «Keition». O novo nome poderá ter-lhe sido atribuído por Júlio César, que, ao mesmo tempo, lhe terá dado o Latium vetus e inscrito os seus cidadãos na tribo «Galeria».

A cidade foi certamente muito importante no século i d. C. As produções de sal e de lãs, esta última referida por Plínio, seriam dois dos fundamentos da prosperidade económica de Alcácer, que beneficiaria ainda da sua posição de porto fluvial e de paragem obrigatória na estrada de Olissipo (Lisboa) a Ebora (Évora) e a Pax Iulia (Beja). A abundância de sigillata itálica recolhida em Alcácer sugere que Salacia foi um dos principais portos lusitanos de importação desta cerâmica. Posteriormente, a cidade terá perdido parte do seu movimento industrial e comercial a favor de outros dois núcleos urbanos do seu territorium: Caetobriga (Setúbal) e Tróia.

Não se conhecem vestígios de monumentos públicos ou de vivendas, embora haja notícias de achados de colunas, de elementos arquitectónicos de mármore e até mosaicos. A epigrafía conhecida inclui alguns textos honoríficos a «duünviros», que podem ter sido erguidos no fórum, mas não se encontraram ainda quaisquer inscrições relativas a monumentos públicos. Sendo capital de civitas, Alcácer, porém, há-de ter tido fórum, templos, teatro e anfiteatro. No museu de Alcácer do Sal encontra-se um retrato de Cláudio, que poderá ter pertencido ao templo do culto imperial.

De entre os naturais de Salacia devemos salientar Lucius Cornélius Bocchus, que foi homenageado em Alcácer pelos seus concidadãos, mas também pela «colónia» de Scalabis (Santarém), talvez reconhecida por quaisquer serviços que Bocchus lhe lenha prestado no exercício das suas funções de flamer provinciae Lusitaniae.

Talvez se deva atribuir ao período Claudiano a urbanização de parte da área do castelo, onde se encontrou uma rua pavimentada de lajes e ladeada de tabernae.

No Bairro do Rio de Clérigos, a 1 km a nordeste da vila, há ainda vestígios de um aqueduto que alimentava a cidade.

3 — Da Idade Média aos nossos dias

Sob o domínio visigótico constitui-se como cidade episcopal, cujo primeiro bispo é São Januário Mártir.

Na época islâmica, a cidade de Alcácer do Sal toma a designação de «Qasr Abu-Danis», com 6 ha de terra urbana. Foi um importante porto, com construção naval. A fortificação militar existente (à época a mais poderosa da Península) defendia o ingresso nas províncias do Sul tanto por via terrestre como fluvial.

Abu Déniz ou Daniz terá sido o nome da família a quem Abdarramão III (século x), após a derrota dos Muladís e a tomada do castelo, confiou a povoação.

Após a reconquista de Alcácer do Sal pelas tropas almóades, em 1191, a povoação foi também intitulada «Alcácer Al-Fath», ou seja, «Alcácer da Vitória».

Segundo Edrici (1099-1171), Alcácer do Sal era uma «Cidade do Andaluz», a quatro jornadas de Silves. É uma bela cidade de grandeza média, situada nas margens de um grande rio que os barcos sobem. Todos os terrenos próximos estão cobertos de bosques de pinheiros, graças aos quais se constroem muitos navios. O território desta cidade é fértil e produz em abundância lacticínios, manteiga, mel e carne.

A distância que separa Alcácer do mar é de 20 milhas.

Parece que nos fins do século xiii, inícios do século xiv, a produção de sal em Alcácer ultrapassa as necessidades do consumo local. Ainda de acordo com Edrici, geógrafo árabe que visita a Península entre 1142-1147, o Ocidente da Península — o Garb de Andaluz — dividia-se em três províncias. Alcácer incluía-se na segunda, denominada «Alcácer (ALQASR)», incluindo as cidades de Alcácer, chamada de Abu Déniz, Évora, Badajoz, Gerez, Merida, Alcantara e Coria. Esta província abrangia grande parte do território hoje espanhol.

Como na época romana, o porto de Alcácer voltou a ser frequentado pelas marinhas orientais e norte africanas, estaleiros, arsenais, depósitos de materiais e víveres tornaram-se o ponto de apoio, base de operações contra os vizinhos e salteadores incómodos. Este aspecto é comprovado por um texto árabe, que fala de uns preparativos de um ataque ao porto onde «Por ordem de Almançor, foi reunida uma importante frota em Alcácer do Sal, situada na costa ocidental do Andaluz. Nela haviam de transportar-se diversos corpos de infantaria, o aprovisionamento e as armas». Segundo Vergílio Correia, «o desenvolvimento do porto militar dataria dos meados do século ix, da época das invasões dos Normandos».

Alcácer do Sal continua, portanto, a ser um dos mais importantes centros de comércio, e não só, da Península. Pequenas mas numerosas embarcações faziam o tráfego entre as margens.

Na época dos reinos de Taifas, Alcácer ficou incluída no reino de Badajoz com Elvas e Évora. Em 1156, todo o mundo muçulmano volta a ser unificado sob o poder almóada.

Em 1217, D. Afonso II, após prolongado cerco e com o auxílio de uma frota de cruzados, conquista definitivamente a cidade de Alcácer do Sal, tornando-se, então, cabeça da Ordem de Santiago.

Com a aproximação dos cristãos vindos do Norte, o mundo muçulmano passou a ficar em perigo. D. Afonso

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