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II SÉRIE-A — NÚMERO 9

ro, 16 km a noroeste de Azeméis, 288 km a norte de Lisboa, 200 fogos.

Em 1757 tinha 112 fogos.

Orago — São Jorge.

Bispado do Porto, distrito administrativo de Aveiro. É terra fértil.

Tem uma igreja, feita no fim do século passado.

O pároco é abade, a sua residência é das melhores do bispado e seus passais dos mais rendosos e extensos da comarca.

Na parede exterior da igreja, do lado sul, está uma pedra com uma inscrição.

A pedra é muito branda, pelo que em 1840 já me custou a ler. Como muitos curiosos desejaram saber o que diz a inscrição, aqui vai: «Pedro Goncalves, de esta freguesia, deixou por obrigação a seu filho Balthazar Fernandes o successores, que é mandar-se dizer nesta egreja nove missas em cada anno, que se dissessem do modo e nos tempos declarados em seu testamento, e vinculou a estas capellaas herdades declaradas no dito testamento, e que o visitador tomasse conta de isso.»

Muitos me criticarão por copiar aqui uma inscrição tão insignificante. Declaro que só o fiz para que os curiosos que não a pudessem ler se não persuadam que é outra coisa, visto que já está quase ilegível, e daqui a pouco desaparecerá completamente. No adro da igreja está uma lápide com esta inscrição.

São de Conçalo Gil do Porto, 1601

O bispo do Porto e o convento de freiras'de Santa Clara (franciscanas), da mesma cidade, apresentavam alternativamente o abade, que tinha de rendimento 500 réis.

A freguesia é situada em terreno bastante acidentado, mas é muito aprazível.

A igreja está isolada, quase no centro da freguesia, junto a ela apenas a residência do pároco. O lugar principal da freguesia é a aldeia da Sé, que há 30 anos a esta parte tem progredido e prosperado com as caldas, e esta já quase uma vila, tendo bonitas casas.

Tem um bom estabelecimento de banhos, feito no reinado de D. Maria I e administrado pela câmara.

As águas são sulfúricas e muito recomendadas e eficazes para cura de diversas moléstias (sobretudo cutâneas) e muito concorridas no Verão por gente do Porto e de outras localidades.

Deve, porém, confessar-se que as tinas dos banhos são indecentes. São de madeira de pinheiro e sofrivelmente imundas. Podiam muito ser de pedra, pois há por aqui muita, e óptima, ou menos, forradas de azulejo.

A Câmara da Feira, que, há 15 ou 18 anos, tantos e tão bons melhoramentos teem feito no concelho, com reconhecida utilidade pública, deve também melhorar isto, no que não só utilizam os doentes; mas os povos da hierarquia e circunvizinhas, que fazem aqui bom negócio no tempo dos banhos e cujo interesse e o argumento da concorrência, o que teria certamente lugar se este estabelecimento estivesse montado com mais asseio.

A água que sai cor de leite é naturalmente tépida — mas aquecida artificialmente por um sistema muito vulgar, em caldeirões destapados, e com a maior descautela, o que faz perder à agua grande parte da sua força e virtude terapêutica.

A 20 m ou 30 m do frontespicio das caldas passava a primeira directriz do caminho de ferro do norte, que influências de campanário arremessaram para a extremidade do reino, para os pântanos de Aveiro.

Se ele por aqui fosse, como devia ser, muito mais prosperava este estabelecimento termal.

O descobrimento de estas águas, hoje tão preconizadas e frequentadas, foi do modo seguinte:

Em um grande campo, pertencente ao passal do abade, que está no fundo da aldeia da Sé e sobre o pequeno rio Uima, se via no centro do tal campo borbulhar da fenda de um rochedo uma água esbranquiçada com um prenunciado cheiro a enxofre. Isto excitou a curiosidade do abade da

freguesia, Inácio António da Cunha, que conseguiu, à sua

custa, desviar o curso do rio para a extremidade do campo, deixando a água termal separada do rio. Mandou construir um cano para levar a água mineral para o sítio acomodado (no centro do tal campo) e fez construir algumas barracas, com tanques de madeira, para tomar banho quem quisesse.

Isto teve lugar aí pelos anos de 1770.

Como se fossem acreditando as virtudes terapêuticas de estas águas, o Governo de D. Maria I, pelos anos de 1780, tomou conta deste estabelecimento, e lhe construiu um sofrível edifício, de cantaria, com quartos para banhos de uma só pessoa.

Mas os tanques (apesar de por aqui haver abundância de óptimo granito) foram provisoriamente feitos de tábuas, e ainda assim se conservam.

Em 1843, a Câmara da Feira expropriou mais uma pequena parte do campo, em redor do edifício, para o desenterrar, pqis que estava uns 2 m mais baixo (o pavimento) do que o nível do campo, o que o tornava imundo e incómodo.

Ficou desde então o edifício dos banhos, solto e independente, e com um passeio em redor, de uns 5 m de largura.

Pela proximidade do Porto, Aveiro, Feira, Oliveira de Azeméis, Ovar, Estarreja e outras muitas povoações menores, e pelo bons créditos que têm adquirido estas águas, sobretudo para moléstias cutâneas, podia devia fazer-se de isto um belo e confortável estabelecimento termal, que redundaria em proveito geral de aquelas povoações todas, e em especial dos habitantes da freguesia e proximidades.

Era, porém, preciso que se expropriasse todo o campo imediato, ou a maior parte dele, para ali se construírem casas para os banhistas, e um parque ou passeio, que seria belíssimo, porque o sítio, posto ser uma baixa, é pitoresco.

Não foram amostras para a Exposição Universal de Paris que teve lugar em 1867.

A uns 150 m ao sul do edifício dos banhos há uma nascente de águas ferruginosas, que se aplicam internamente para a cura de várias moléstias, sobretudo, para padecimentos do estômago. Há nesta freguesia minas de ferro e de cobre, que se não exploram por indicarem pobreza.

É nesta freguesia o Jogar das Airas, ou Souto Redondo, onde teve lugar a batalha de 7 de Agosto de 1832 (v. Souto Redondo).

A actividade económica

Caldas de São Jorge é conhecida como centro nacional e mundial da produção do brinquedo (puericultura).

Também é conhecida pela suas termas, a funcionarem em instalações modelares propriedade da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, e as suas águas são indicadas para a terapia de doenças osteoarticulares crónicas e doenças crónicas e alérgicas das vias respiratórias e da pele.

A actividade económica desenvolve-se na indústria, no comércio e nos serviços, sendo a agricultura pouco representativa.